terça-feira, 3 de julho de 2012

Transparência incômoda

No Brasil, meritórias iniciativas governamentais tendem a não ultrapassar o estágio das boas intenções. Isso ocorre porque tais medidas, muitas vezes, contrariam interesses de pessoas ou grupos influentes. Esse é o caso, por exemplo, da Lei de Acesso à Informação, que pretende tornar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário transparentes para os cidadãos, inclusive com a revelação dos salários de seus servidores. Obviamente, a ideia enfrenta muitas resistências, principalmente de quem tem ganhos muito acima do teto do funcionalismo público. Até agora, a Lei de Acesso á Informação tem andado a passos muito lentos em todo  o Brasil. No Rio Grande do Sul, a resistência parece ser ainda maior. O governador Tarso Genro disse que tem receio de revelar os salários de servidores do Poder Executivo. Tarso entende que o ideal seria uma decisão conjunta com os demais poderes quanto à forma dessa divulgação. Por enquanto, apenas está definido que o governo do Rio Grande do Sul não seguirá o modelo adotado pela União, e fará a divulgação dos dados de forma individualizada, mas não necessariamente nominal. O diretor executivo da organização Transparência Brasil, Cláudio Abramo, afirmou que o argumento de Tarso Genro para retardar a divulgação das informações dos salários dos servidores é falacioso. Abramo entende que o governador não pode deixar de divulgar os salários nominalmente porque tem receio, precisa apresentar justificativas plausíveis. Ele afirma, também, que os agentes públicos não tem o mesmo direito ao sigilo sobre seus ganhos do que quem trabalha no meio privado, pois são os cidadãos que pagam os seus salários e, portanto, tem o direito de saber quanto eles ganham. A verdade é que a Lei de Acesso à Informação está sendo interpretada de diferentes modos pelas esferas de poder. Alguns organismos agem com mais transparência, outros com menos. Os interesses de grupos e corporações fazem com que a lei, em todo o país, avance bem mais timidamente do que seria desejável. A lei, no entanto, existe. Cabe aos brasileiros pressionar pela sua total aplicação, sem permitir que interesses localizados a tornem sem efeito.

Um comentário:

  1. Quem paga um jornalista privado? A empresa que o contratou. Como a empresa arrecada recursos para pagar o jornalista contratado? Mediante publicidade, venda de exemplares e assinaturas ou com a isenção de impostos. Qual é a origem dos recursos relativos à publicidade, ao exemplares e aos impostos? O salário dos consumidores, os mesmos que pagam impostos para a remuneração dos servidores públicos. Se a origem dos recursos é a mesma e o "patrão" é o mesmo, que se divulgue então os salários de todos, sem discriminação entre público ou privado, pois a fonte é mesma, apenas os caminhos para chegar ao destinatário final - o trabalhador - são diferentes. Por que a discriminação e tratamento diferenciado?Transparência é princípio e determinação constitucional; privacidade também é. Publicidade, sim; exposição pessoal gratuita, não.

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