quinta-feira, 30 de abril de 2020

A busca do confronto

A cada dia, fica mais evidente que o presidente Jair Bolsonaro é um psicopata. Sedento pelo poder, egocêntrico, indiferente ao sofrimento alheio, defensor da ditadura, Bolsonaro faz sempre a busca do confronto. Não lhe interessa qualquer tipo de conciliação, seja com quem for. Na sua mente doentia e perversa, isso seria demonstração de fraqueza. Admirador do poder absoluto, sem nenhum apreço pelas normas democráticas, Bolsonaro faz questão de provocar atritos com todos. Desafia os demais poderes da República, flerta com a possibilidade de fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. As ações agressivas visam, também, fazer com que esteja sempre em evidência. O ex-capitão quer a atenção para si de modo permanente, e não tolera que alguém de seu governo ganhe um destaque superior ao dele. Nesse confronto com tudo e todos, Bolsonaro mirou,  agora, no ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que acolheu uma ação impedindo a posse de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal. Desrespeitando flagrantemente a independência entre os poderes, Bolsonaro disse que "não engoliu" a decisão do ministro, e insiste que ainda vai conseguir empossar Ramagem. Sem limites na sua sanha beligerante, Bolsonaro atira para todos os lados, atacando, até mesmo a Organização Mundial de Saúde. Suas declarações mostram cinismo e desdém diante das milhares de mortes no país causadas pelo coronavírus. Vendo os números aterrorizantes, que só fazem aumentar, tenta transferir a culpa para prefeitos e governadores, afirmando que não vão jogar no seu colo uma culpa que não é dele. Muitas vezes, Bolsonaro, ao perceber as reações negativas ao que diz, baixa o tom, para, no dia seguinte, tornar a fazer declarações ofensivas. O país poderia ficar livre desse tormento, desde que o Congresso e o STF cumprissem com o seu papel, e encaminhassem a destituição de Bolsonaro. Razões legais, devidamente tipificadas, não faltam para isso.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

O recuo de Bolsonaro

Para o bem do Brasil, Alexandre Ramagem não será empossado como o novo diretor-chefe da Polícia Federal, como era da vontade do presidente Jair Bolsonaro. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, barrou a nomeação de Ramagem, acolhendo uma ação do PDT. Não poderia ser diferente. Por mais que o país esteja entregue ao pior governo de sua história, há um limite para tudo, e a escolha de Ramagem era uma afronta à dignidade do exercício do poder. Diante da decisão de Alexandre de Moraes, houve o recuo de Bolsonaro, que desfez a nomeação de Ramagem. Em pronunciamento durante a posse do novo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, o ex-capitão classificou a decisão do ministro de "monocrática". Mais uma vez, Bolsonaro estava tentando ser ardiloso, buscando marcar o ministro como um adversário de seu governo. Porém, Bolsonaro não recorreu da medida, preferindo desfazer a nomeação de Ramagem, porque sabia que seria derrotado também no plenário do STF, composto de onze ministros. Entre tantas más notícias, a não efetivação de Ramagem como diretor-chefe da Polícia Federal é um alento para o país. O Poder Judiciário, chamado a se posicionar numa gravíssima questão, mostrou sua independência. Pena que não seja sempre assim.

terça-feira, 28 de abril de 2020

O drama do esporte

Os dias vão transcorrendo e a pandemia de coronavírus não arrefece. Pelo contrário, no Brasil, por exemplo, os números da doença ainda são ascendentes. Todos os ramos de atividade são prejudicados numa pandemia, mas alguns vivem uma situação particularmente aflitiva. Esse é o caso do esporte. As competições estão paralisadas, o que gera uma enorme perda financeira. Diversos torneios, das mais variadas modalidades esportivas, foram cancelados. Outros, em princípio, foram suspensos mas sem que se consiga estabelecer uma data de retorno. Algumas decisões mais radicais já foram tomadas. A Federação Belga de Futebol encerrou o campeonato da temporada 2019/2020, concedendo o título ao Brugge, que liderava a competição com 15 pontos de vantagem sobre o segundo colocado. As federações holandesa e argentina foram ainda mais drásticas, e deram os campeonatos de seus países por encerrados sem um vencedor. No caso da Holanda, a federação indicou os clubes que participarão da Champions League e Liga Europa, e determinou que não haverá rebaixamento, nem subida para a Primeira Divisão, decisões que geraram contrariedades. O Comitê Organizador das Olimpíadas de Tóquio, que foram adiadas para o próximo ano, já anunciou que se a competição não puder ser realizada em 2021, ela será definitivamente cancelada. O drama do esporte, um setor que arrecada quantias milionárias, é inegável. Na atual situação de paralisação, são os prejuízos que se acumulam, em níveis estratosféricos. O futuro do esporte, do modo como o conhecemos, de uma hora para a outra, tornou-se uma incógnita.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

A sobrevida de Guedes

Diante de um quadro que fazia o governo desabar como um castelo de cartas, o presidente Jair Bolsonaro fez um movimento que tenta brecar o seu processo de iminente perda do cargo. Ciente de que a saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, caso viesse a ocorrer, sepultaria de vez o seu governo, Bolsonaro  apareceu ao lado dele, hoje pela manhã. O ex-capitão fez questão de afirmar que Guedes é o único responsável pela política econômica do país. A sobrevida de Guedes, no entanto, não deverá ser muito longa. O afago de Bolsonaro em Guedes é apenas um gesto para diminuir a efervescência política que tomou conta do país. A saída de Guedes logo em seguida às quedas dos ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, faria com que o grande empresariado brasileiro, o maior fiador do execrável governo Bolsonaro, retirasse o seu apoio. A atitude de Bolsonaro foi interpretada como um reforço da condição de "super ministro" de Guedes. Mero jogo de cena para acalmar o "mercado". Não há futuro para Bolsonaro, nem para Guedes. Mais cedo ou mais tarde, Bolsonaro será derrubado. Bem antes disso, Guedes já terá saído. Mesmo com as afirmações em contrário, a política econômica de Guedes não será mantida, o que levará ao seu descontentamento, e fará com que deixe o cargo. Com isso, os grandes empresários abandonarão o governo que, precocemente, chegará ao fim.

domingo, 26 de abril de 2020

Uma ação entre amigos

O governo Jair Bolsonaro está enveredando cada vez mais, pela via do escândalo. Agora, se encaminha para ser uma ação entre amigos. As cogitadas nomeações de Alexandre Ramagem para diretor-geral da Polícia Federal, e de Jorge de Oliveira para ministro da Justiça, têm o único condão de blindar os filhos de Bolsonaro das garras da lei. No último réveillon, às famílias de Ramagem e de Carlos Bolsonaro passaram juntas a festa de Ano Novo. Por sua vez, Jorge de Oliveira, foi chefe de gabinete de Eduardo Bolsonaro e, atualmente,  é secretário-geral da Presidência. Seus vínculos com a família Bolsonaro, não lhes dão condições de atuar com isenção no exercício de seus cargos. Ainda há o agravante, no caso de Oliveira, de seu currículo não estar a altura do cargo. Sem nenhum apreço pela democracia, defensor ferrenho de ditaduras, Bolsonaro quer fazer do governo uma extensão da sua casa. Uma situação vergonhosa, a que o país não pode assistir passivamente. Cabem ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal a tomada das medidas necessárias para que Bolsonaro seja retirado do cargo. Alternativas jurídicas para isso não faltam. O Brasil não pode prosseguir como refém das patifarias de Bolsonaro e seus filhos.

sábado, 25 de abril de 2020

A possibilidade de um mundo no modo remoto


  1. A quarentena estabelecida em função da pandemia de coronavírus levou as pessoas a experimentarem, forçadas pelas circunstâncias, uma nova realidade. O que antes era feito de modo presencial, foi transformado em "home office". Programas de rádio e tevê são transmitidos com seus apresentadores e participantes falando de dentro de suas casas. Shows musicais são apresentados em "lives", também com os artistas em suas próprias residências. A partir disso, há quem levante a possibilidade de um mundo no modo remoto que prepondere mesmo após o fim da pandemia. Alguns comerciantes teriam revelado sua disposição de não voltar a ter uma loja física, vendendo apenas pela internet. Essa hipótese, no entanto, é só mais uma especulação dos que acreditam que haverá um "novo mundo" pós-pandemia. Perguntado a respeito, o filósofo Luiz Felipe Pondé disse que um mundo no modo remoto após o final da pandemia representaria a falência da humanidade, sua derrota definitiva, pois a vida se faz no contato, na socialização. Porém, ele refuta essa hipótese. A exemplo do que já expressei nesse espaço, Pondé não acredita num mundo diferente depois que a ameaça do coronavírus se dissipar. Ele acha, também que, com o tempo, tudo voltará a ser como antes. O filósofo considera que é bom que seja assim, pois, se tivéssemos um novo mundo depois do coronavírus, haveria uma mudança para pior. O mundo, destacou, é naturalmente confuso e não há como se obter sua salvação. Pondé pontuou que muitos estão a buscar, nesse momento, uma ideia de pureza, como forma de propor a nova realidade. A pureza, no entanto, sentenciou, não faz parte do mundo. Mais uma vez, concordo com a visão do filósofo, de quem divirjo no plano ideológico. Esqueçamos a hipótese, apocalíptica, de uma sociedade sem contato físico, apenas conectada remotamente, e deixemos de lado, também, a ideia de um mundo redimido e puro. Nesse último caso, fora das prédicas religiosas e dos execráveis livros de autoajuda, isso não faz o menor sentido.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Um governo que derrete

Num pronunciamento forte e farto em revelações comprometedoras para o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, pediu demissão, hoje. A gota d'agua para a saída de Moro foi a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, com a qual o ministro não concordava. Em duas semanas sucessivas, dois ministros de grande prestigio do governo Bolsonaro deixaram seus cargos, Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e Sérgio Moro. O que se vê, claramente, é um governo que derrete a cada dia. Pela manhã, Moro, no seu pronunciamento de despedida do cargo, fez uma série de graves acusações à conduta de Bolsonaro. No final da tarde, Bolsonaro procurou rebater as acusações de Moro. Não conseguiu. Seu discurso foi prolixo e desconexo. Ao tentar justificar sua vontade de trocar nomes na Polícia Federal, admitiu ter feito solicitações de investigações à instituição, o que é descabido e caracteriza uma conduta indevida e passível de indiciamento. Não há inocentes nessa história. Os interesses eleitorais de Moro são claros. O ex-ministro tem a aspiração de concorrer ao cargo de presidente. Diante de uma demissão que se tornava inevitável, tentou capitalizar o fato politicamente. Por sua vez, Bolsonaro criou todo esse imbróglio com Moro pelo desespero de ver que investigações da Polícia Federal estão chegando nos muitos crimes praticados por seus filhos. Para o Brasil, o que melhor poderia acontecer seria a queda de Bolsonaro, para que o país, que está sem rumo, possa ter um governo.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Balança mas não cai

O governo Bolsonaro é um desastre absoluto. Em menos de dois anos, já se mostra um fracasso absoluto. Na verdade, não há governo, o país está acéfalo. Perdido, inseguro, o presidente Jair Bolsonaro começa a bater de frente com ministros. Primeiro, demitiu Luiz Henrique Mandetta, que deixou o cargo de ministro da Saúde com 76% de aprovação. Hoje, entrou em rota de colisão com o "superministro" da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O motivo do desentendimento foi a negativa de Moro em aceitar a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, como quer Bolsonaro. Como de hábito, Bolsonaro faz questão de afirmar sua autoridade, e que depende da sua vontade a manutenção das pessoas em seus cargos. As investigações sobre quem foram os responsáveis pelas manifestações contra a ordem democrática irão chegar, fatalmente, aos filhos de Bolsonaro, daí o porquê do ex-capitão querer intervir na Polícia Federal. A queda de Bolsonaro seria o caminho natural para o país encontrar um mínimo de estabilidade. Porém, os dias vão transcorrendo e permanece a situação de "balança mas não cai" de Bolsonaro. Não bastasse o drama da epidemia de coronavírus, o Brasil ainda tem de carregar o peso de um governo caótico.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Previsões

A pandemia de coronavírus é um teste de resistência, em diversos níveis, para todas as pessoas. Sem dúvida, é uma situação estressante. Diante de um fato surpreendente, que teve o poder de parar o mundo, logo aparecem os palpiteiros de plantão. Com eles, surgem previsões para todos os gostos, baseadas em puro achismo. Entre as previsões mais irritantes estão as que se propõem a antecipar o mundo pos-pandemia. Como os falsos videntes e enroladores adoram um chavão, logo lançaram expressões como "o novo normal" e "o mundo nunca mais será o mesmo". Místicos de todos os matizes, e pretensiosos os mais variados, apressam-se em fazer afirmações sobre as mudanças que serão "inevitáveis" após a pandemia. Bobagem. Não há fato, por mais desastroso ou devastador, que seja capaz de modificar o ser humano no que lhe é característico. Sempre que submetidas a grandes traumas, as pessoas reagem ao impacto inicial, mas voltam ao seu comportamento habitual assim que sentem que a ameaça se afastou. Ninguém deve se iludir. Se os efeitos do coronavírus se prolongarem por muito tempo, aí mesmo é que, resolvida a questão, virá o "estouro da boiada". O ser humano, para o bem ou o mal, não nasceu para a contenção. Sua natureza é expansiva. O mundo pós-pandemia terá algumas mudanças, mas nada que altere a essência do comportamento humano.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Os 60 anos de um desatino

Brasília, a capital do país, completa, hoje, 60 anos de sua inauguração. Embora seja uma data redonda, nada há para comemorar. Por muitas razões, Brasília é uma demonstração da perversidade das "elites" dirigentes do país. Não há porque celebrar os 60 anos de um desatino, uma construção que custou tanto ao país, financeira e politicamente. A transferência da capital federal para o meio do nada, longe do mar, num clima quente e seco, nada teve dos supostos ideais edificantes alardeados por alguns. Propiciar a ocupação do centro-oeste brasileiro, até então um deserto humano, seria um deles. Antes fosse. O objetivo fundamental da construção de Brasília foi retirar a sede do poder político federal da efervescência de uma cidade cosmopolita como o Rio de Janeiro. Capital do Brasil por quase duzentos anos, era natural que o Rio de Janeiro ostentasse essa condição. Mais linda cidade do mundo, maior pólo cultural do país, nada mais natural que ser a sede dos poderes da República. Porém, os governantes não gostam da vigilância permanente que é exercida sobre eles numa cidade com essas características, e, ainda por cima, populosa. Ao transferir-se a capital federal para o meio do mato, garantia-se a ausência de manifestações contrárias imediatas da população contra medidas governamentais que agredissem os seus interesses. Sim, pois se antes estavam integradas à paisagem urbana de uma metrópole, as sedes dos três poderes foram transferidas para um local ermo e, na época, quase inacessível. Um cenário ideal para tomar decisões impopulares sem ter de controlar manifestações de protesto. A construção de Brasília foi feita a um custo exorbitante, chegando ao ponto de tijolos serem transportados de avião. O presidente Juscelino Kubitschek, o "construtor" de Brasília, até hoje glorificado por muitos, era um lobo em pele de cordeiro, e seus propalados "cinquenta anos em cinco", comprometeram o país financeiramente, e com opções que trouxeram efeitos danosos até os dias atuais, como a preferência pelo transporte rodoviário de mercadorias em detrimento de outros mais práticos e baratos. Com o tempo, Brasília tornou-se uma "ilha da fantasia", fechada em si mesma, de costas para os anseios da população, e custando uma fortuna para o erário, paga com o suor e os impostos dos brasileiros. Sim, Brasília está completando 60 anos, mas não há motivos para festejar a data.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

A nostalgia como solução

Em tempos difíceis, quando o presente é opressivo e o futuro incerto, a recordação de épocas felizes é um recurso irresistível. Com o futebol parado, os canais de tevê a cabo especializados em esportes exibem jogos antigos de clubes e da Seleção Brasileira. A exibição dos seis jogos da Seleção na conquista da Copa do Mundo de 1970, no México, trouxe de volta um encantamento com o futebol que os mais velhos não conseguem mais ter, e os jovens nunca conheceram. Em princípio, ver ou rever jogos realizados há 50 anos pode parecer pouco interessante. Nada mais equivocado. A Seleção de 70 é tão mágica, com sua constelação de craques, que assisti-la é degustar um banquete. Não por acaso, foi escolhida, por uma publicação da Inglaterra, a melhor equipe de futebol de todos os tempos. Olhando atentamente todos os jogos, verifica-se que só três jogadores estiveram num nível abaixo do restante da equipe, Félix, Brito e Piazza. Ainda assim, Félix não foi um goleiro tão comprometedor como disseram alguns. Oscilou entre boas defesas e falhas eventuais. O problema, mesmo, esteve na dupla de zaga. Brito era um zagueiro eficiente, com uma longa e digna carreira por vários grandes clubes brasileiros, mas lhe faltava uma maior qualidade técnica. Piazza era um jogador de alto nível, mas jogou improvisado e não tinha a rotina da posição. O sempre menosprezado Everaldo, no entanto, não faz parte desse grupo. Defensivamente, foi quase perfeito e, mesmo apoiando pouco, quase marcou dois gols, um contra a Romênia, num chute de longa distância, e outro na decisão com a Itália, dentro da área, após receber um lançamento de Pelé. Depois de ver jogos tão fascinantes, fica ainda mais compreensível porque, quando se enfrentam dias amargos, se busca a nostalgia como solução.

domingo, 19 de abril de 2020

Brete

O Brasil vive um momento político angustiante. Está mais do que claro que o presidente Jair Bolsonaro não tem mais condições de ficar no cargo. Aliás, não é de hoje. Desde que a pandemia de coronavírus iniciou, ficou evidente que Bolsonaro era um obstáculo na luta contra a doença. Tresloucado, Bolsonaro continua agindo de forma contrária ao que recomenda a Organização Mundial de Saúde, e quer acabar com o confinamento, alegando preocupação com a economia. Chegou ao ponto de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tinha uma popularidade de 76%. No lugar de Mandetta, foi colocado Nelson Teich, que está mais para empresário do ramo da saúde do que um médico, propriamente. O país mergulha no caos, justo num momento de crise sanitária. O Brasil está num brete. Não é mais possível manter um presidente que age na contramão dos interesses do país. A omissão é um erro que homens públicos não podem cometer. Os poderes Legislativo e Judiciário precisam se unir para fazer a deposição de Bolsonaro, seja qual for o meio jurídico que se utilize para tanto.

sábado, 18 de abril de 2020

Apresentações desiguais

O festival One World, transmitido, hoje para o mundo inteiro, em várias plataformas, é uma ideia meritória. Liderada pela cantora Lady Gaga, a iniciativa constou de apresentações de vários nomes de destaque do meio musical, de dentro de suas casas, para homenagear os profissionais de saúde e arrecadar recursos para as pesquisas de medicamentos contra o coronavírus. O importante é o objetivo buscado, evidentemente, mas nem por isso deve-se deixar de analisar a performance dos grandes astros em suas apresentações. Obviamente, uma apresentação em "home office" não favorece um grande desempenho. Ainda assim, alguns se mostraram mais empenhados, enquanto outros pareciam estar apenas cumprindo um dever. No primeiro caso, estão os Rolling Stones, John Legend, Jennifer Lopez e a própria Lady Gaga. No segundo, principalmente, Paul McCartney, com uma displicente interpretação de "Lady Madonna". Elton John foi apenas burocrático ao cantar "I Still Standing". Stevie Wonder, deveria ter escolhido uma música mais significativa de seu brilhante repertório. A iniciativa de realização do "One World", só merece elogios. No entanto, como espetáculo artístico, teve apresentações desiguais.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Colapso

O confinamento das pessoas em suas casas, durante a pandemia de coronavírus, tem o propósito de evitar que o sistema hospitalar entre em crise, caso a disseminação de casos da doença se torne incontrolável. Porém, antes mesmo que a quarentena seja flexibilizada, como deseja o presidente Jair Bolsonaro, essa situação de colapso já está sendo atingida. No Ceará, todos os leitos de UTI estão ocupados por pacientes com coronavírus. Nas quatro principais emergências do Rio de Janeiro, a situação é a mesma. Como a curva de infectados ainda está subindo, o que deverá ocorrer até junho, momentos difíceis ainda serão enfrentados pela população. A flexibilização da quarentena, que vem sendo defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, caso venha a acontecer, só irá agravar o quadro. Por enquanto, não há melhor alternativa, no Brasil ou no exterior, do que o confinamento. Só assim se poderá evitar uma explosão no número de infectados e de mortes.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Saída confirmada

A entrevista do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na tarde de ontem, deixou claro que ele estava deixando o cargo. Confrontando abertamente suas posições com as do presidente Jair Bolsonaro no que tange à pandemia de coronavírus, Mandetta mostrou a típica atitude de quem não se sentia mais obrigado a manter as aparências. Sabedor de que não permaneceria como ministro, "jogou a farofa no ventilador", ainda que numa linguagem elegante. Hoje, com sua saída confirmada, Mandetta concedeu mais uma entrevista, despedindo-se do cargo. Como fizera no dia anterior, reafirmou seu compromisso com a ciência e sua disposição de favorecer uma transição o mais tranquila possível. Para os brasileiros, a queda de Mandetta é uma má notícia. Sua condução em relação à pandemia se mostrou correta, ao defender o confinamento como forma de evitar o colapso do sistema de saúde. Preocupado com os lucros dos empresários, Bolsonaro quer flexibilizar a quarentena, sob a alegação de que está pensando nos mais pobres. O futuro ministro da Saúde, Nelson Teich, é, também, um empresário do ramo. Os brasileiros podem se preparar para dias difíceis, em que suas vidas serão postas em risco, em nome de interesses econômicos.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Encantamento

A reprise dos jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, que está sendo levada ao ar pelo SporTV durante o período de paralisação do futebol em função da pandemia de coronavírus, é uma excelente opção para as diversas gerações. Os mais velhos podem recordar as maravilhosas atuações daquela equipe recheada de craques como Carlos Alberto, Gérson, Jairzinho, Tostão e Rivelino, cujo nome maior era o gênio Pelé, melhor jogador de futebol de todos os tempos. Aqueles que eram muito pequenos na época, e os que sequer haviam nascido, terão a chance de se extasiar com um futebol em que a qualidade era o fator preponderante. Claro, jogadas erradas e falhas também ocorriam naqueles tempos. Porém, a exuberância técnica dos jogadores acima citados não é mais vista nos dias de hoje. O primeiro jogo, exibido ontem, a goleada, de virada, por 4 x 1 sobre a Tchecoslováquia, contou com atuações primorosas de Pelé, Gérson e Rivelino. No jogo de hoje, contra a Inglaterra, o único em que a Seleção só marcou um gol e não sofreu nenhum, os destaques são a maior defesa da história do futebol, de Banks numa cabeçada de Pelé, e a jogada primorosa de Tostão que seria seguida por um toque do Rei do Futebol para Jairzinho marcar o gol da vitória. São momentos de puro encantamento que poderão ser desfrutados em mais quatro jogos, até domingo. Um compromisso imperdível para quem ama o futebol.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Empurrando com a barriga

Depois de terem concedido vinte dias de férias aos jogadores, a contar de primeiro de abril, os clubes brasileiros deverão estender a medida até o mês de maio. A pandemia de coronavírus desorganizou os calendários esportivos no mundo inteiro e, no caso do futebol brasileiro, está fazendo com que os clubes estejam empurrando com a barriga a solução do problema, que ainda não se consegue vislumbrar. A verdade é que, com o transcorrer do tempo, mais complicada fica a hipótese de encontrar uma saída para salvar o ano no futebol brasileiro. Fórmulas mirabolantes, soluções exóticas, tudo é aventado para que se possa voltar a ter futebol no Brasil em 2020. Os clubes e seus patrocinadores, a televisão e os seus anunciantes, estão ansiosos pela volta dos jogos, ainda que sejam de portões fechados. Na sociedade do espetáculo, subproduto do capitalismo, o show não pode parar, pois os prejuízos financeiros são elevadíssimos. O problema é que enquanto a pandemia não arrefecer, a volta do futebol, em qualquer condição, seria uma temeridade. Esse arrefecimento, no entanto, ainda parece uma possibilidade muito distante. Por enquanto, postergar uma decisão definitiva para a questão é a única alternativa.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Moraes Moreira

A morte de Moraes Moreira, hoje pela manhã, aos 72 anos, representa um duro golpe na música brasileira. Moraes Moreira surgiu no cenário musical junto com seus companheiros do grupo "Os Novos Baianos", que, no início dos anos 70, causou enorme impacto junto ao público e crítica. Em meados dos anos 70, partiu para a carreira solo. Fez muito sucesso com suas composições, seja na sua própria voz ou na de outros artistas. "Festa do Interior", por exemplo, composta por ele em parceria com Abel Silva, foi um dos maiores sucessos da carreira de Gal Costa. Versátil, Moraes Moreira transitava por diversos ritmos e absorvia várias influências. O Carnaval, no entanto, foi um ponto marcante de sua carreira, e ele foi o primeiro a cantar no alto de um trio elétrico. A brasilidade, ainda que, eventualmente, misturada com ritmos de outras culturas, e o balanço contagiante, são marcas do seu trabalho. Moraes Moreira se foi, mas criou uma vasta e inesquecível obra, que será lembrada pelas gerações futuras. Os grandes artistas se tornam perenes pelo legado que deixam. Esse, certamente, é o caso de Moraes Moreira.

Uma lenda sem títulos

O ex-piloto inglês Stirling Moss, falecido, ontem, aos 90 anos de idade, foi uma figura singular na história da Fórmula 1. Moss foi quatro vezes consecutivas vice-campeão da categoria, e terceiro colocado em outras três oportunidades, mas jamais obteve o título. Ainda assim, nenhum especialista ou historiador do automobilismo lhe negaria a condição de piloto lendário. Mesmo sem ser campeão teve um altíssimo índice de vitórias nas corridas de que participou na Fórmula 1. A rainha Elizabeth lhe concedeu o título de Sir, distinção que só é conferida a personalidades ilustres. Reverenciado por seus pares, e admirado pelo público, Moss foi uma lenda sem títulos.

domingo, 12 de abril de 2020

Mandetta não baixa o tom

A entrevista concedida pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao programa "Fantástico", da Rede Globo, mostra que o ministro não tem medo do confronto com o presidente Jair Bolsonaro. Como ficou comprovado na entrevista, Mandetta não baixa o tom. Mesmo fazendo alguns circunlóquios, para amenizar sua postura, Mandetta deixa clara a sua posição favorável ao confinamento como forma de evitar o contágio pelo coronavírus, o que contraria a opinião de Bolsonaro. O ministro da Saúde vai mais longe, e diz que seria importante uma posição unificada sobre o assunto, pois a população fica sem saber a quem seguir, dadas às manifestações conflitantes. Para tomar essa atitude, Mandetta deve estar muito bem amparado, ou convicto de ser verdade o que muitos especulam, ou seja, de que Bolsonaro já não é presidente de fato. A alta popularidade que ostenta no momento faz com que Mandetta saiba que tem um futuro político promissor pela frente. Ainda que viesse a ser demitido pelo presidente, seu prestígio não ficaria abalado. Por isso, Mandetta aposta alto, e deixa Bolsonaro embretado contra as cordas.

sábado, 11 de abril de 2020

Equilibrista

Os últimos pronunciamentos oficiais e a aparição conjunta, hoje, com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para o anúncio da construção de um hospital de campanha naquele estado, mostraram uma nova face do presidente Jair Bolsonaro. Se antes só se dirigia aos seus fanáticos seguidores, Bolsonaro agora se mostra um equilibrista, tentando fazer média com os que o criticam. A grande carga de ataques que recebeu por seu comportamento em sentido contrário ao que recomendavam as autoridades médicas, fez com que Bolsonaro revisse, parcialmente, a sua postura. Ao comparecer ao lançamento de um hospital de campanha, Bolsonaro quer se mostrar engajado nos esforços da luta contra o coronavírus. Porém, paralelamente, Bolsonaro continua a desobedecer as  recomendações de quarentena, e circula livremente pelas ruas, causando aglomerações, pois seus apoiadores mais fiéis não aceitariam que ele afrouxasse de sua posição de confronto com os que lhe atacam. A sobrevivência política é a única preocupação de Bolsonaro, e a explicação para o seu  comportamento, antes de permanente antagonismo com seus críticos, ter se tornado ambivalente.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

50 anos sem os Beatles

Na data de hoje, há 50 anos, Paul McCartney anunciava o fim dos Beatles. Foi um dia triste para milhões de fãs espalhados pelo mundo. Os Beatles ainda eram muito jovens, nenhum deles sequer havia completado 30 anos de idade, e estavam no auge do seu processo criativo. Por isso, o fim do grupo era muitíssimo prematuro. Uma série de razões levou ao rompimento, mas a música e os fãs sofreram, na ocasião, um rude golpe, do qual não se recuperaram até hoje. Os Beatles são únicos, incomparáveis. Nenhum outro grupo alcançou um grau de qualidade tão elevado, criou tantos clássicos imortais, vendeu tantos discos, marcou tantas gerações. A música de maior sucesso de todos os tempos, "Yesterday", é deles, creditada a Lennon e McCartney, mas composta apenas por Paul. No mês seguinte ao anúncio da separação, chegou ao mercado "Let It Be", o penúltimo disco do grupo a ser gravado, e o último lançado. No mesmo ano, cada um dos quatro membros do grupo lançou o seu primeiro trabalho solo. O mais bem sucedido nessa largada, para surpresa de muitos, foi George Harrison. Sufocado por Lennon e McCartney, que dificultavam a colocação de suas composições nos trabalhos do grupo, George, que tinha muitas músicas estocadas, lançou um álbum triplo, "All Things Must Pass", um enorme sucesso de público e crítica, que chegou ao primeiro lugar das paradas e obteve um disco sêxtuplo de platina por suas extraordinárias vendagens. Pelos dez anos que se seguiram, os fãs alimentaram a esperança de que pudesse ocorrer a volta do grupo, até que, em dezembro de 1980, John Lennon foi assassinado. Acabava ali, para desconsolo dos fãs, a chance de que os Beatles voltassem a ficar juntos. Sua música, no entanto, é eterna, e todos os discos do grupo permanecem em catálogo. Nunca antes houve nada que pudesse se igualar aos Beatles, nem haverá depois, em qualquer tempo.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Fogo Amigo

A pandemia de coronavírus exige foco total dos governos para que possa ser superada. Porém, no Brasil, isso não é observado. As tricas e futricas do mundo político acabam gerando enorme repercussão, desviando a atenção do que é verdadeiramente relevante. Hoje, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que já teve sua continuidade no cargo ameaçada mas permaneceu na função, sofreu um "fogo amigo" do da Cidadania, Onix Lorenzooni, seu correligionário no DEM. Numa conversa telefônica com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), Onix manifesta seu desejo de que Mandetta seja demitido, por não seguir o que o presidente Jair Bolsonaro defende em relação ao coronavírus. Terra concorda com Onix e diz que Mandetta "se acha". Onix acrescenta que Bolsonaro deveria ter assumido às consequências de uma demissão e afastado Mandetta do cargo. A conversa permaneceu nesse tom "elevado", até que Terra concluiu dizendo que ajudaria, mesmo que não fosse nomeado para o cargo, pois tem nomes para indicar. O teor da conversa foi captado pelo jornalista Caio Junqueira, da CNN, pois Terra havia deixado o seu celular ligado. Desde o período da tarde, esse é o fato que mais repercute no país. Resolver a questão da pandemia deveria ser a única preocupação do governo, mas, em se tratando da administração Bolsonaro, o que é ruim sempre pode piorar.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Perdeu a chance de ficar calado

O jornalista Arnaldo Ribeiro é um respeitável cronista esportivo, tendo trabalhado, entre outros veículos, na revista Placar, no período áureo da publicação, e nos canais ESPN. Porém, Arnaldo perdeu a chance de ficar calado. Num podcast, o cronista afirmou que Romário foi um jogador superestimado, e que não admira sua carreira. Ao comparar Romário com Careca, classificou o segundo como mais completo, e que Romário foi bom apenas na "zona do agrião", o que não considera suficiente. Arnaldo está amplamente equivocado. Romário resumia sua função, basicamente, à grande área ou "zona do agrião", é verdade, mas, nela, foi genial. Ninguém é escolhido como o melhor jogador do mundo por acaso. Romário recebeu esse prêmio, Careca, não. Careca brilhou no Napoli, com Maradona, mas Romário foi protagonista no Barcelona. Romário foi convocado para duas Copas do Mundo, mas, praticamente, só jogou em uma, pois, em 1990, a recuperação de uma fratura o deixou fora de quase toda a participação da Seleção Brasileira na competição. Em 1994, no entanto, Romário fez a diferença, e foi diretamente responsável pelo título obtido pela Seleção. Embora tenha se destacado em duas Copas, 1986 e 1990, Careca não carregou a equipe nas costas, como Romário, e não conduziu a Seleção a conquista do titulo. No que diz respeito aos aspectos pessoais de Romário, também levados em conta por Arnaldo Ribeiro, eles não vem ao caso. Ao analisar um jogador, deve-se limitar a apreciação aos critérios técnicos, e neles Romário foi, indiscutivelmente, um gênio, o que não ocorreu com Careca.

terça-feira, 7 de abril de 2020

O vírus não escolhe vítimas

A pandemia de coronavírus já gerou uma série de falsas verdades. Doença desconhecida até há pouco pela medicina, os fatos pretensamente concretos afirmados sobre ela não são mais que meras especulações. Algumas dessas falsas verdades são risíveis, como é o caso de que idosos e pessoas com comorbidades constituem os grupos de risco para a doença. Trata-se de uma constatação que serve para qualquer outra doença, ou, até mesmo, na ausência de uma enfermidade. Uma pessoa idosa já viveu muito, e seu organismo está mais desgastado. Assim, é óbvio que, diante da epidemia de qualquer doença suas chances de ser vitimada é maior do que a de outras pessoas. O mesmo se dá com quem tem doenças crônicas. Em comparação com os que não possuem essa condição, seu organismo é mais suscetível às enfermidades. Dessa forma, colocar os dois grupos como "de risco" para o coronavírus é apenas uma maneira de os estigmatizar. Ao contrário do que foi apregoado nas primeiras semanas da pandemia, o vírus não escolhe vítimas. Entre as pessoas que já morreram da doença, há bebês, crianças, adolescentes, jovens, adultos de meia-idade, idosos e anciãos. Muitas dessas vítimas não tinham nenhuma comorbidade, e cultivavam hábitos de vida saudáveis. Outra afirmação falsa travestida de verdade é de que a letalidade da doença é de pouco mais de 2%. No Brasil, com os dados colhidos até hoje, ela é de quase 5%. Portanto, é preciso encarar o fato de que o coronavírus é "democrático", pois atinge a todos, sem distinção de idade, condição de saúde, etnia, nível de renda, ou qualquer outro fator. O isolamento vertical, em que só idosos e pessoas com comorbidades ficam em confinamento é sem eficácia, e estigmatiza cruelmente dois segmentos populacionais. O coronavírus é uma ameaça a todos, sem exceção, e é assim que deve ser enfrentado.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Mandetta fica

Foi um dia de muitas especulações. O presidente Jair Bolsonaro convocara uma reunião, no final da tarde, em que poderia ser determinada a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Seria uma medida absurda no momento em que o país enfrenta a pandemia de coronavírus e a população aprova amplamente o trabalho do ministro. A divergência de Mandetta e Bolsonaro sobre o uso da cloroquina nos doentes de coronavírus, desejada pelo segundo e considerada precipitada pelo primeiro por falta de comprovação científica de seus benefícios, esteve por implicar na saída do ministro. A tendência só não se concretizou porque figuras influentes se puseram contra a demissão de Mandetta. Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, respectivamente, são do mesmo partido de Mandetta, o DEM, e deixaram clara a contrariedade do Congresso Nacional diante dessa possibilidade. O Supremo Tribunal Federal também se manifestou a favor do ministro. Os ministros militares do governo Bolsonaro, da mesma forma, apoiaram Mandetta. Com isso, Mandetta fica e, ao que parece, com bastante solidez, o que se traduziu numa explanação pós-reunião em que se mostrou muito seguro e assertivo. Melhor assim. Mudar o ministro da Saúde em meio à pandemia poderia ter efeitos desastrosos na estratégia para conter o avanço da doença. O foco dos brasileiros deve estar direcionado, unicamente, para derrotar o vírus que tanto sofrimento tem trazido ao país e ao mundo.

domingo, 5 de abril de 2020

O maucaratismo sem disfarces

O modo com que os governantes de diversos países reagem à pandemia de coronavírus tem sido extremamente revelador. O maucaratismo sem disfarces é apresentado por alguns deles, diante de todos. Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, tem sido os protagonistas nesse aspecto. Trump, que, agora, admitiu a gravidade da pandemia, quer garantir o máximo de máscaras possíveis para os americanos, mesmo que isso implique na falta de unidades em outros países. Bolsonaro segue fazendo pouco do coronavírus, combatendo a quarentena, espalhando falsas verdades sobre a doença, e confrontando o seu ministro da Saúde. A crise do coronavírus escancarou o que as pessoas lúcidas já sabiam há muito tempo sobre os dois. O incrível é que Trump e Bolsonaro ainda possuem uma considerável base de apoio em suas sociedades. Fanáticos, seus defensores não se rendem às evidências, e atacam furiosamente os que se lhes opõem. O fato é que as declarações e atitudes de Trump são mais do que suficientes para que não consiga se reeleger, no final do ano. Pelas mesmas razões, Bolsonaro, cujo mandato não chegou nem na metade, deveria sofrer um processo de impeachment. Resta aos eleitores menos fanatizados de ambos reconhecerem o erro cometido ao os terem escolhido para os cargos que ocupam. O efeito dessa autocrítica não seria imediato, mas, pelo menos, sinalizaria para escolhas menos desastrosas no futuro.

sábado, 4 de abril de 2020

Perspectivas sombrias

A esperança é um recurso importante em momentos de aflição. Porém, mesmo ela que, conforme o dito popular, é a última que morre, precisa ser alicerçada num mínimo de indícios positivos. Esse é o grande problema em se tratando da pandemia de coronavírus, no Brasil. As semanas de confinamento vão transcorrendo, angustiantes, mas o futuro imediato não sinaliza a chegada de tempos melhores. Perspectivas sombrias, é o que, até agora, se tem. O número de casos tende a aumentar muito e, em alguns estados, poderá ter uma alta descontrolada. As autoridades de saúde, diante de uma doença nova, pouco ou nada podem prever com acerto. As picuinhas políticas em meio a uma situação tão grave, só fazem com que tudo se torne ainda mais preocupante. Manter o controle emocional é fundamental no período que se está atravessando, mas boas notícias em meio a tantas ruins, são, também, essenciais. Se elas não começarem a aparecer, só restará a esperança nos que optam pelo otimismo permanente, que é nutrido pela irreflexão, em total desacordo com os fatos.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Muito barulho por nada

Uma postagem do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, em que elogia uma atitude do governador de São Paulo, João Dória Júnior, que agradeceu a referência, causou impacto nos meios políticos. Pura frivolidade, pois é muito barulho por nada. A possibilidade de uma aliança entre os dois é uma hipótese delirante, logo sugerida por Ciro Gomes, sempre preocupado em criar a imagem de único opositor autêntico do presidente Jair Bolsonaro, de olho nas eleições de 2022. As duas postagens não vão adiante do que cada uma expressa. Claro, na tentativa de tentar salvar Bolsonaro, um cadáver político, seus apoiadores exageram o significado das mensagens, para transformar seu "mito" em vítima de seus adversários. Não vai dar certo. O Brasil tem que concentrar suas forças em enfrentar a pandemia de coronavirus. Picuinhas políticas não condizem com um momento tão grave.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Ciúme

Prepotente e inseguro, o presidente Jair Bolsonaro não suporta que nenhum integrante de sua equipe brilhe intensamente. Bolsonaro logo sente ciúme quando isso acontece, pois vê qualquer um que se destaque popularmente como um candidato potencial a roubar o seu cargo nas eleições de 2022. Sua irritação com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é algo que não faz mais questão de esconder. Hoje, Bolsonaro admitiu que vem se "bicando" com Mandetta, a quem acusa de "falta de humildade". Disse, também, que não vai tirar Mandetta durante a guerra, referindo-se à pandemia de coronavírus, mas que ninguém é "indemissível", embora tenha afirmado que isso não significa uma ameaça. O ministro, por sua vez, declarou que não iria rebater declarações do presidente. Porém, Mandetta não deixou de dar uma "alfinetada" em Bolsonaro ao afirmar que "quem tem mandato fala, quem não tem, trabalha ". Só mesmo um tresloucado como Bolsonaro confronta o seu ministro da Saúde no momento do maior desafio sanitário da história do país. Para Bolsonaro, tudo se resume ao aspecto político. Os brasileiros, enquanto isso, temem pelas suas vidas.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Apenas incertezas

O pior não é o momento terrível que o mundo vive com a pandemia de coronavírus, é a total falta de previsão do que será o futuro que virá depois que "tudo acabar". Apenas incertezas povoam o horizonte. Não há quem possa dizer, com exatidão, o que será o "novo normal". No entanto, nada indica que ele seja risonho. Novas ondas da pandemia deverão ocorrer em outros tempos. A vida em sociedade tenderá a sofrer alterações que diminuirão a interação entre os indivíduos e a circulação das pessoas pelo mundo. Afora a crise econômica, que será severa, o pós-pandemia não terá nada da visão rósea dos que insistem em achar que tamanha catástrofe irá ser seguida por um mundo melhor e mais humano. O otimismo é um recurso importante em momentos tão dramáticos, mas não pode se transmutar em alienação. Não há como ver numa doença que leva tantas vidas o prenúncio de tempos melhores. Porém, o mais importante seria que todos tomassem consciência de que o coronavírus é o símbolo de um modelo econômico que se esgotou, e redundou em respostas furiosas da natureza às agressões ambientais. Se as pessoas desejarem, tão somente, retomar o seu modo de vida pré-pandemia, será a comprovação de que nada aprenderam com tanto sofrimento.