terça-feira, 6 de março de 2018

Bom mocismo

Fenômeno dos tempos atuais, as redes sociais democratizaram o exercício da opinião. Elas permitem que qualquer pessoa exponha o que pensa, a respeito de todos os assuntos possíveis, sem filtros. Como não poderia deixar de ser, isso gerou um enorme impacto social. Afinal, nunca, em tempo algum, houve tanta liberdade para as pessoas exprimirem o que pensam e sentem. Com tantos opinando sobre tudo, os excessos não tardaram a aparecer. Ódios reprimidos e preconceitos arraigados saíram das sombras, e um embate furioso entre facções ideológicas tomou conta da sociedade. Obviamente, com plena liberdade para a exposição dos pensamentos, muitas manifestações apresentam falta de bom senso ou ausência de conteúdo. Dentre as cretinices que desfilam pelas redes sociais, poucas são tão execráveis como o bom mocismo praticado com o uso de lugares comuns. Diante do que seria um comportamento frívolo ou fútil, logo surge a postagem de alguém colocando que enquanto você se preocupa com esse ou aquele fato, pessoas morrem nos corredores dos hospitais, crianças perdem a vida na guerra da Síria, entre tantas outras iniquidades. Trata-se de um oportunismo dos mais rasteiros. Os que assim agem pretendem se colocar num patamar elevado, de pessoas dotadas de consciência social, em contraste com alienados e insensíveis. Pura balela. Os que criticam a excessiva preocupação de alguns com a lesão de Neymar, por exemplo, alegando que enquanto isso acontecem tragédias que são ignoradas, apenas se utilizam de um fato específico para fingirem uma sensibilidade social que também não possuem. Sua preocupação com doentes desassistidos ou crianças vitimadas pela guerra só aparece nessas ocasiões. O que tentam é tutelar a opinião alheia, o que é próprio de fascistas. Não cabe a ninguém determinar com o que as demais pessoas devem ou não se preocupar. Pior do que valorizar futilidades é fazer uso de clichês e lugares comuns para posar de pessoa consciente e sensível.