sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Revolta seletiva

Não resta dúvida de que o assassinato da juíza Viviane Arronenzi, morta a facadas por seu ex-marido, o engenheiro Paulo Arronenzi, na véspera de Natal, no Rio de Janeiro, foi um crime de chocante brutalidade. Viviane foi morta diante das três filhas do casal, o que torna o fato ainda mais hediondo. O ocorrido com Viviane é mais uma demonstração de que o feminicídio é um acontecimento rotineiro na sociedade brasileira, e que não faz distinção de classes sociais, zonas nobres ou carentes, grandes ou pequenas cidades, e de regiões do país. Porém, é de se lamentar a revolta seletiva do Poder Judiciário na abordagem do fato. Numa reação corporativa, por Viviane ser uma juíza, e elitista, por ela pertencer a um segmento privilegiado da sociedade, sua morte gerou fortes manifestações de magistrados como o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Fux, e de Gilmar Mendes, ministro da mesma corte. Fux cobrou a tomada de fortes medidas de combate ao feminicídio. A manifestação foi pertinente, e correta no seu conteúdo. No entanto, cabe lamentar que seja preciso uma vítima de condição social privilegiada para que a indignação dos magistrados se faça sentir. Assassinatos de mulheres ocorrem diariamente no Brasil. Sem provocar a mesma reação, nem a cobrança por soluções para a questão.