segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Provincianismo

A discussão em torno das reformas no estádio Beira-Rio, visando sua utilização na Copa do Mundo de 2014, está tomada pelo mais patético e absurdo provincianismo. Pessoas identificadas com o Internacional, proprietário do estádio, defendem que o clube deveria desistir de sediar jogos da Copa, para não comprometer seu futuro. Num acesso enlouquecido do bairrismo mais retrógrado, tais pessoas vociferam contra a FIFA, tida como uma entidade maligna que quer prejudicar o clube. Tudo porque a instituição que rege o futebol mundial quer que o Inter apresente garantias bancárias para a realização das obras ou, em caso contrário, associe-se a uma construtora para levá-las a efeito. O Inter não conseguiu as garantias bancárias, mas também não quer se associar a uma construtora, pois isso implicaria numa cessão de direitos sobre o estádio por cerca de dezoito anos, o que o clube não deseja. Ora, na vida, a banca paga e recebe. O Inter quer ter o privilégio de seu estádio ser utilizado para a Copa, sem que isso implique em nenhum ônus. Na verdade, a FIFA, ao menos nessa história, nada tem de vilã. Foi o Brasil que se candidatou a sediar a Copa de 2014 e que arrolou o Beira-Rio como um dos estádios para a competição. Todos sabem que os países, uma vez escolhidos para sediar uma Copa do Mundo, tem de obedecer a um caderno de encargos estabelecido pela FIFA com normas muito rígidas. É o preço que se paga pelo privilégio de sediar uma competição de tal magnitude. Acreditar que seja possível preparar um estádio para a Copa unicamente com recursos próprios, sem apresentar garantias e sem se associar a uma construtora é algo da mais rematada estupidez. O discurso de que o clube deve mandar a FIFA às favas, realizando obras apenas para o conforto do seu torcedor e abrindo mão da Copa, é de estarrecer pelo que contém de mediocridade, primitivismo, estreiteza mental e xenofobia. É mais uma daquelas lamentáveis pregações de um Rio Grande do Sul que se basta, que vê o resto do mundo com desprezo, que se fecha no culto a si próprio, voltado para o próprio umbigo, revelando-se, com tal postura, atrasado e tacanho. Em todos os lugares do mundo, os novos estádios surgem em associações com as construtoras ou grandes empresas de outros ramos. É o caso do Alianz Arena, na Alemanha, e do Emirates Stadium, na Inglaterra. Clube algum do mundo consegue, hoje em dia, erguer um estádio às próprias expensas. O tempo dos estádios erguidos com tijolos doados pelos torcedores foi bonito, mas já passou e não volta mais. O discurso da soberania colorada apenas expõe o clube e o Rio Grande do Sul, por extensão, ao ridículo. As exigências da FIFA são adequadas ao porte de uma competição como a Copa do Mundo. Não são para serem discutidas. São para serem cumpridas e ponto final.

Premiação previsível

A festa da entrega do Oscar não apresentou surpresas no que diz respeito aos premiados, já que todos os favoritos foram agraciados. O que é bom, pois, nesse caso, surpresas se configurariam em injustiças. Para quem quer que tenha assistido aos filmes concorrentes, não resta dúvida de que venceu quem merecia. O melhor ator coadjuvante, Christian Bale, teve uma atuação memorável em "O Vencedor". John Hawkes, por "Inverno da Alma", faz jus a uma menção honrosa por seu magnífico desempenho, mas a vitória de Bale foi o resultado mais justo. O mesmo se aplica a melhor atriz coadjuvante, Melissa Leo, também de "O Vencedor". Seu Oscar foi justíssimo, embora Amy Adams, outra do elenco de "O Vencedor", também tenha tido excelente atuação. O Oscar de melhor atriz, para Natalie Portmann, premia um trabalho notável, que se situa acima do próprio filme. "Cisne Negro" é um filme de difícil assimilação, mas Natalie rouba a cena com sua personagem reprimida e enlouquecida. Anette Bening, em "Minhas mães e meu pai", tem um grande desempenho, mas nada que se aproxime da atuação de Natalie Portmann. O Oscar de melhor ator, para Colin Firth, era ainda mais previsível. Nenhum dos outros indicados teve uma atuação que se aproximasse da sua em "O Discurso do Rei". Aliás, "O Discurso do Rei", também ganhou os prêmios de melhor diretor, para Tom Hooper, e melhor filme. Justo reconhecimento a um filme envolvente, de excelente reconstituição de época e de grandes atuações do elenco. Não houve, dessa vez, um filme que colecionasse vários prêmios, mas sim, uma divisão relativamente equilibrada entre os indicados, o que demonstra uma safra de produções de boa qualidade. Porém, ao ganhar três dos quatro prêmios mais importantes, "O Discurso do Rei" tornou-se o grande vencedor da noite. Merecidamente.

A demissão de Adílson Batista

Depois de treinar o time por apenas 11 jogos, o técnico Adílson Batista foi demitido pelo Santos. Adílson já tinha tido, em 2010, uma curta e fracassada passagem por outro grande clube brasileiro, o Corinthians. Vai ser difícil que, depois de dois insucessos consecutivos, o técnico continue a ser cortejado pelos grandes clubes. Adílson foi, como jogador, um grande zagueiro e um líder. No Grêmio, ficou conhecido como o "Capitão América", por ter sido o capitão do time que conquistou a Taça Libertadores da América de 1995, a segunda da história do clube. Porém, como técnico, até hoje, não se afirmou, o que dificilmente conseguirá. O próprio Grêmio foi o seu primeiro grande clube na função e seu desempenho esteve longe de ser bom. Com Adílson, o Grêmio escapou do rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2003 na última rodada. Em 2004, o clube foi eliminado pela Ulbra nas semifinais do Campeonato Gaúcho, o que ocasionou a saída do técnico. A melhor passagem de Adílson como técnico foi no Cruzeiro, onde permaneceu por cerca de dois anos. O técnico montou um time qualificado no clube mineiro, mas, nem mesmo lá, deixou de sofrer contestações. A torcida não o suportava e Adílson nada mais conseguiu além de títulos estaduais, tendo perdido uma Libertadores, para o Estudiantes de La Plata, cujo jogo decisivo foi no Mineirão. Escrevi, acima, que Adílson dificilmente se afirmará como técnico e, agora, explico o porquê. Trata-se de um técnico que reúne características comuns a outros profissionais da área que também colecionam insucessos. Tais características são a teimosia, afrontando o senso comum, o invencionismo, que resulta na adoção de esquemas táticos estapafúrdios, a preterição de jogadores mais qualificados por outros menos dotados, o mau humor e a impaciência no trato com a imprensa,, pela qual se julgam perseguidos. Alguém notou a semelhança dessas descrições com figuras como Celso Roth e Dunga? Pois é, não se trata de uma mera coincidência. Todos os três tem em comum serem considerados sérios e dedicados, fazem boas campanhas, mas não chegam a lugar algum. Não vale argumentar que Roth foi campeão da Libertadores pelo Inter, em 2010, pois só treinou o time nos quatro jogos finais. No Campeonato Brasileiro e no Mundial de Clubes, quando deveria confirmar seu trabalho, fracassou rotundamente. Dunga, por sua vez, pela Seleção Brasileira, seu único trabalho como técnico até hoje, fez excelente campanha nas eliminatórias e em competições como a Copa América e a Copa das Confederações, mas fracassou nas que realmente interessavam, as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Adílson, Roth e Dunga são resultado da excessiva valorização que foi dada aos técnicos de futebol nos últimos anos. Durante décadas absolutamente secundários em relação aos jogadores, os técnicos passaram, de uma para a outra, a serem considerados gênios da estratégia. Isso foi bom para os seus bolsos, dada a valorização salarial que tiveram, mas não foi nada benéfico para o futebol. Um bom técnico nada mais deve ser do que um facilitador para que o time renda o máximo do seu potencial, não deve contrariar o senso coletivo, remando contra a maré. Não deve, também, bolar esquemas demasiado engenhosos, nem alterar a escalação a cada jogo. Deve fazer o mais simples, definir e fixar uma escalação e ter a consciência de que as verdadeiras estrelas são os jogadores. Infelizmente, grande parte dos técnicos de hoje não age assim. Encerro com uma história envolvendo o próprio Adílson Batista, quando técnico do Grêmio, para exemplificar o quão equivocada pode ser a postura de alguns técnicos. O relato foi feito pelo ex-dirigente do Grêmio, Carlos Josias, num programa de rádio. Diante da lesão de um titular, que o tirava do próximo jogo, todos esperavam que Adílson escalasse o seu reserva imediato. O técnico, no entanto, preferiu fazer uma improvisação, o que resultava numa mexida em outras posições do time, alterando sua estrutura. Espantado com a informação, Carlos Josias se dirigiu ao técnico e lhe perguntou se não seria mais lógico simplesmente colocar, no lugar do jogador lesionado, o seu substituto natural. Adílson concordou que sim, dizendo que isso era o óbvio que qualquer um faria se estivesse em seu lugar. Porém, acrescentou que, em seu trabalho, não se propunha a fazer o óbvio. Por atitudes como essa é fácil entender por que Adílson se indispõe com a torcida em todos os clubes nos quais trabalha e não consegue se tornar um técnico vencedor.