terça-feira, 21 de abril de 2020

Os 60 anos de um desatino

Brasília, a capital do país, completa, hoje, 60 anos de sua inauguração. Embora seja uma data redonda, nada há para comemorar. Por muitas razões, Brasília é uma demonstração da perversidade das "elites" dirigentes do país. Não há porque celebrar os 60 anos de um desatino, uma construção que custou tanto ao país, financeira e politicamente. A transferência da capital federal para o meio do nada, longe do mar, num clima quente e seco, nada teve dos supostos ideais edificantes alardeados por alguns. Propiciar a ocupação do centro-oeste brasileiro, até então um deserto humano, seria um deles. Antes fosse. O objetivo fundamental da construção de Brasília foi retirar a sede do poder político federal da efervescência de uma cidade cosmopolita como o Rio de Janeiro. Capital do Brasil por quase duzentos anos, era natural que o Rio de Janeiro ostentasse essa condição. Mais linda cidade do mundo, maior pólo cultural do país, nada mais natural que ser a sede dos poderes da República. Porém, os governantes não gostam da vigilância permanente que é exercida sobre eles numa cidade com essas características, e, ainda por cima, populosa. Ao transferir-se a capital federal para o meio do mato, garantia-se a ausência de manifestações contrárias imediatas da população contra medidas governamentais que agredissem os seus interesses. Sim, pois se antes estavam integradas à paisagem urbana de uma metrópole, as sedes dos três poderes foram transferidas para um local ermo e, na época, quase inacessível. Um cenário ideal para tomar decisões impopulares sem ter de controlar manifestações de protesto. A construção de Brasília foi feita a um custo exorbitante, chegando ao ponto de tijolos serem transportados de avião. O presidente Juscelino Kubitschek, o "construtor" de Brasília, até hoje glorificado por muitos, era um lobo em pele de cordeiro, e seus propalados "cinquenta anos em cinco", comprometeram o país financeiramente, e com opções que trouxeram efeitos danosos até os dias atuais, como a preferência pelo transporte rodoviário de mercadorias em detrimento de outros mais práticos e baratos. Com o tempo, Brasília tornou-se uma "ilha da fantasia", fechada em si mesma, de costas para os anseios da população, e custando uma fortuna para o erário, paga com o suor e os impostos dos brasileiros. Sim, Brasília está completando 60 anos, mas não há motivos para festejar a data.