sábado, 28 de fevereiro de 2015

Choque inevitável

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, levou um "puxão de orelhas" da presidente Dilma Rousseff sobre declarações que deu a respeito da desoneração da folha de pagamento das empresas, e foi obrigado a retratar-se, admitindo que, em sua fala, abusou do coloquialismo. Episódio semelhante já havia ocorrido com o ministro do Planejamento, Nélson Barbosa, no seu primeiro dia de trabalho, quando se pronunciou sobre o reajuste do salário mínimo. Duas situações constrangedoras ocorridas ainda nos dois primeiros meses do segundo mandato de Dilma. Não deve haver, no entanto, nenhuma surpresa diante de tais fatos pois esse tipo de choque era inevitável. Dilma Rousseff, na ânsia de brecar a crise econômica e atrair a simpatia do mercado, colocou em postos estratégicos do governo figuras afinadas com a cartilha neoliberal. Essa é uma receita fadada ao fracasso. Ao incluir em sua administração ministros com esse perfil, Dilma contraria a vontade de seus eleitores e das bases de seu partido, sem que obtenha qualquer trégua por parte da oposição e da grande imprensa, que estão obstinadas em promover o seu impeachment. A busca da governabilidade tem levado aos acordos mais esdrúxulos entre partidos e políticos, juntando pessoas de espectros ideológicos antagônicos. Essa prática transforma a política num balcão de negócios, desacreditando-a perante a opinião pública. Porém, até para a flexibilização de posições ideológicas há limites. Não é possível misturar água e azeite. Um nome como Joaquim Levy será sempre um corpo estranho num governo do PT, e que tem como presidente uma ex-torturada pelo regime militar. Não é preciso ser nenhum adivinho para saber que o atual ministro da Fazenda não terá vida longa no governo. Mais cedo ou mais tarde, Dilma terá de enfrentar toda a carga da oposição e da mídia golpista e montar uma equipe econômica que esteja de acordo com as aspirações dos seus eleitores e das bases do seu partido. Afinal, se não tiver a sustentação de ambos, seu governo caminhará para um final inglório.