segunda-feira, 18 de março de 2013

Mudanças

Não sou um integrante do rebanho católico, nem de nenhuma outra religião, e, portanto, a figura do papa tem, para mim, uma importância muito relativa. Vejo o chamado sumo pontífice e a Igreja com os olhos do observador, não os do crente. Não há como ignorar o comandante de uma religião com 1, 2 bilhão de fiéis, com marcas indeléveis na história da humanidade. Sendo assim, ainda que não esteja entre aqueles que o tem como um líder espiritual, nem como alguém a ser venerado, acompanho com atenção as nítidas diferenças do papa Francisco em relação a todos os outros pontífices cuja atuação pude registrar. Tendo em vista a minha idade, o primeiro papa de que tomei conhecimento foi Paulo VI, ao qual se seguiram João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e, agora, Francisco. Desta forma, Francisco é o quinto papa cuja trajetória terei a oportunidade de observar. Pois bem, menos de uma semana depois de escolhido no conclave, e sem sequer ter sido entronizado, o que só ocorrerá amanhã, Francisco tem mostrado que é um papa diferente. O papa chama a atenção pelo seu despojamento. Seus antecessores gostavam da pompa e circunstância que envolve a condição papal. Francisco, ao contrário, parece desprezá-las profundamente, e adota uma informalidade no trato pessoal que espanta aqueles que se acostumaram a ver o papa como uma figura intocável. Talvez ninguém tenha dado uma definição melhor sobre Francisco do que a argentina Neida Márquez, uma engenheira de 26 anos, conforme registra a edição de hoje do jornal "Correio do Povo": "Ele é menos protocolar...O sinto próximo, e os outros me pareciam inacessíveis". Sim, Francisco é um papa que se mostra acessível, não procura mitificar sua função. Suas atitudes tem desconcertado a todos, desacostumados com um papa de estilo informal. Francisco, entre outras coisas, permitiu o contato dos fiéis com ele na saída de uma igreja, exasperando seus seguranças, e deu um beijo no rosto da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que, espantada, exclamou diante dele: "Nunca um papa me beijou antes". Mesmo que não venha a mudar a postura da Igreja em questões como o uso da camisinha, o casamento de homossexuais, o fim do celibato dos padres e a ordenação de mulheres, Francisco já terá sido um papa com lugar assegurado na história. Numa Igreja que perde adeptos a cada dia, pelo seu distanciamento e frieza em relação aos fiéis, Francisco é um papa que não se coloca num pedestal, quer estar próximo as pessoas, deixar os palácios e caminhar pelas ruas. Tendo em vista o contraste com o comportamento dos papas anteriores, isso não é pouca coisa.