sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Beijo gay

O Brasil, por vezes, entrega-se a discussões coletivas patéticas. Como se não houvesse nada mais sério com o que se preocupar, uma curiosidade varreu o país nos últimos dias: o capítulo final da novela "Amor à vida" teria o tão esperado beijo gay entre os personagens Félix e Niko? Diga-se, de passagem, que toda essa polêmica só aconteceu por se tratar de uma novela da Rede Globo, que detém a esmagadora maioria da audiência no país. Em 2011, a novela "Amor e Revolução", do SBT, levou ao ar um ardente beijo lésbico, que não teve nehuma repercussão. "Amor à vida" tratou do tema da homossexualidade com uma abertura e profundidade inéditas na televisão brasileira. Isso gerou, como não poderia deixar de ser, a reação inconformada dos conservadores, que enxergam no fato uma "derrocada dos costumes". Na verdade, a crescente abordagem da homossexualidade na teledramaturgia só reflete o que acontece na própria sociedade. Cada vez mais, os homossexuais ampliam o seu espaço no meio social, recusando-se, com razão, a serem discriminados e tratados como cidadãos de segunda classe. A televisão é uma caixa de ressonância do que ocorre nas ruas, ela não impõe conceitos. Em outras oportunidades, houve a expectativa do beijo gay em novelas da Globo, mas, talvez por entenderem que a sociedade brasileira ainda não estava madura para absorver o impacto de uma cena como essa, a direção da casa não permitiu que ele fosse ao ar. Dessa vez, foi diferente. Mesmo com o rosnar dos reacionários de plantão, é evidente que a maior parte dos brasileiros não mais se escandaliza com os homossexuais. Não faltarão, é claro, atitudes como a de um colunista de jornal, de Porto Alegre, que, há poucos dias, num de seus textos, referiu-se ao homossexualismo como "uma doença que sempre existiu" e solicitou que o governo interferisse para barrar a crescente abordagem do tema nas novelas. Como expressa o ditado, os cães ladram e a caravana passa. O beijo gay na Globo, finalmente, aconteceu. O fato, com certeza, será muito mais festejado que recriminado, e é assim que deve ser.