sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Urdidura maquiavélica

A cada dia fica mais evidente que o impeachment da presidente legitimamente eleita Dilma Rousseff foi um golpe, e que obedeceu a uma urdidura maquiavélica. Todas as peças vão se encaixando, demonstrando se tratar de uma ação orquestrada dos setores conservadores da sociedade, que foi cuidadosamente planejada. Não é coincidência, por exemplo, o fato de que o golpe tenha sido aplicado exatamente quando o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, foi alçado a condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Afinal, durante o mandato do atual presidente do órgão poderia ser julgada a anulação da chapa Dilma-Temer. Caso a chapa fosse invalidada, o presidente ilegítimo Michel Temer teria de deixar o cargo. Gilmar Mendes, como se sabe, é um antipetista raivoso e um permanente aliado da direita em suas causas. O conluio ficou explicitado, para algum incauto que ainda tivesse dúvida, com a "carona" aérea que Michel Temer concedeu a Gilmar Mendes no avião presidencial em sua viagem para Portugal. Absurdamente, um réu e seu julgador compartilham o mesmo vôo, a convite do primeiro. O despudor da situação só evidencia o quanto os agentes golpistas estão confiantes de que ninguém lhes tirará as rédeas do poder, que obtiveram por meio de uma usurpação. Com o apoio dócil e indecente da grande mídia, os salteadores que se adonaram do governo federal se sentem à vontade para implantar sua agenda carregada de demofobia. Outra prova dessa ação premeditada foi a contrapartida exigida pelo governo federal para renegociar as dívidas do Rio Grande do Sul com a União, de que três estatais gaúchas, cujas vendas dependem de um plebiscito que as autorize, sejam privatizadas. Essa exigência vem a calhar para o governo do Estado, que deseja privatizar as empresas, pois serviria de chantagem sobre os deputados estaduais para que aprovem a emenda que dispensa a necessidade da realização de um plebiscito para a venda das mesmas. O golpe em curso na política brasileira é ainda mais vil que o da ditadura militar, pois ao contrário da explicitude daquele, se disfarça sob uma capa de normalidade institucional. O país está entregue a um grupo de corruptos da pior espécie, travestidos de governantes. As perspectivas para o futuro do Brasil, a curto e médio prazo, são muito sombrias.