terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Bom gosto

Uma discussão que constantemente toma conta das mais diversas rodas é sobre o nível de qualidade do que é transmitido pelos meios de comunicação. A televisão, em particular, recebe muitas críticas de alguns setores que consideram a qualidade do que é veiculado pelas emissoras como muito baixa. Nesses primeiros dias de 2012, esse debate voltou a ter destaque. Tudo porque está sendo levada ao ar a 12ª edição do execrável "Big Brother Brasil" e as lutas de "MMA" ganharam mais visibilidade, sendo, agora, transmitidas pela Rede Globo. Pessoalmente, considero o "Big Brother Brasil" um lixo absoluto, e não acompanhei nenhuma de suas edições. Também não tenho interesse algum pelas lutas de "MMA". Os que criticam tais programas são os mesmos que não se conformam com o sucesso do cantor Michel Teló e de sua música "Ai, se eu te pego", de que, diga-se de passagem, igualmente não gosto. Porém, a idéia, defendida por alguns, de que se deva controlar o que os meios de comunicação transmitem, em nome do bom gosto e da defesa de "valores essenciais da sociedade" é muito perigosa. Na verdade, essa situação, como tantas outras, não se resolve com leis ou decretos. Se grande parte do povo brasileiro concede expressiva audiência para programas ruins como o "BBB", assiste um esporte violento como o MMA, e reverencia nulidades artísticas como Michel Teló, isso apenas reflete sua escassa condição instrucional e cultural, que não lhe permite formar um senso crítico. A ideia de controlar o que os meios de comunicação transmitem parte de algumas premissas equivocadas. Uma delas é que a programação da televisão deveria dar preferência ao que é educativo, artístico, cultural e informativo. Tal pensamento demonstra desconhecimento sobre o que caracteriza a essência da televisão. A televisão é, fundamentalmente, um meio de entretenimento. Nada impede que, eventualmente, sejam levados ao ar programas que se encaixem nos quatro itens propostos. No entanto, a natureza da televisão como veículo é, basicamente, distrativa. Afora isso, em nome do bom gosto, ou seja lá do que for, o que se está propondo, mais uma vez, é um processo de tutela intelectual da população, com alguns poucos decidindo o que todos devem assistir. Não deixa de ser curioso que tais medidas de controle da programação sejam propostas por pessoas, em grande parte, ligadas à esquerda, que tanto sofreram com a censura oficial nos tempos do regime militar. O bom gosto não é algo que se desenvolva por decreto. Depende de uma educação de qualidade e do acesso aos bens culturais. No dia em que isso for provido ao povo brasileiro, ele próprio, sem necessidade de leis, rejeitará os "BBB's", "MMA's" e Michéis Telós da vida. Afinal, estará dotado de senso crítico. Trata-se de um processo longo, cujos resultados demoram a ser alcançados. Porém, é o caminho que deve ser seguido. Controlar o que é transmitido pelas emissoras é tentar, mais uma vez, tutelar os cidadãos, o que nenhuma intenção, por melhor que seja, torna justificável.