segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Direitos

Uma das causas de conflito na convivência em sociedade é a interpretação do que seriam os direitos de cada parte, individuais ou de grupos. A sociedade brasileira passa, no momento, por um processo visível de "caretização", uma explosão de neoconservadorismo. Os setores mais reacionários e conservadores da coletividade estão tentando impor seus conceitos. Como argumento, há a busca da segurança ou a defesa do "sossego público". Os administradores públicos tem se curvado às pressões desses grupos. Em nome da "segurança", os estádios de futebol, um esporte popularíssimo, encolheram e aumentaram estratosfericamente os preços de seus ingressos. Dessa forma, os pobres ficam sem condições de frequentá-los, o que garantiria, pretensamente, a não ocorrência de tumultos, já que os atos de selvageria são sempre relacionados à condição econômica das pessoas, numa odiosa prática de apartheid social. Outra arma dos reacionários, como foi citado, é a defesa do "sossego público". Em nome dela, bares da Cidade Baixa, atualmente o bairro mais boêmio de Porto Alegre, estão sendo interditados. A proposta da prefeitura e da Brigada Militar é de transferir as aglomerações do bairro para o Anfiteatro Pôr-do-Sol, que não é cercado por moradias. Poucas vezes vi uma proposta tão estúpida! Com razão, um grupo de frequentadores do bairro protestou, no sábado, contra essa estapafúrdia intenção. O protesto, organizado por meio do Facebook, contou com o apoio de 4.800 pessoas. Um dos organizadores do ato, Ramiro Castro, disse que as interdições de bares do bairro são um "ataque à juventude". Tem toda a razão. Esse ataque, por sinal, não podia ficar sem resposta. A sociedade vive uma clara queda-de-braço entre os que defendem a liberdade e os arautos da repressão. Um aspecto, em particular, chama a atenção. Em todos esses episódios, há a presença, dando seus palpites, das polícias militares. Elas querem determinar a capacidade máxima de pessoas que um estádio pode receber, quantos torcedores do clube visitante se farão presentes, entre outras medidas que fogem da sua alçada. Os administradores públicos e os clubes, covardemente, se dobram diante de tais abusos. Agora, a Brigada Militar quer remover frequentadores de um bairro boêmio de uma cidade. Tudo para prevenir "desordens", no caso dos estádios, e garantir a "tranquilidade" de moradores, no que se refere aos bares. Policiais militares são servidores públicos, cabe-lhes cumprir ordens, não assumir o protagonismo em tais situações. A porção sadia da sociedade não deve se dobrar. Abaixo à repressão!