terça-feira, 29 de outubro de 2013

Imprensa independente

A existência de uma imprensa livre e independente é, sem dúvida, um dos pilares da democracia. O problema é quando por trás da defesa de tais princípios se escondem apenas os interesses corporativos de grandes conglomerados de comunicação. Os veículos da grande imprensa brasileira vivem alertando para supostas tentativas do governo de cercear a liberdade de expressão e controlar o conteúdo editorial dos meios de comunicação. Tais veículos procuram posar, diante da opinião pública, como paladinos em defesa da liberdade e da democracia. O governo, ao de alguma forma afrontar seus interesses, seria a expressão de uma visão totalitária de poder, que não admite críticos nem opositores. Trata-se, evidentemente, de uma posição maniqueísta e que distorce a realidade dos fatos. A verdade é que, no Brasil, poderosos grupos de comunicação detém várias concessões de canais de rádio e televisão, operando também como editores de jornais e revistas e no meio cibernético. Paralelamente à atuação específica nos meios de comunicação, esses grupos estendem seus tentáculos para diversos outros empreendimentos e atividades econômicas. Assim, sua linha editorial está, na verdade, muito mais comprometida com seus interesses corporativos do que com os da sociedade como um todo. Na Argentina, o poder judiciário declarou a constitucionalidade da Lei de Meios, o que implicará numa limitação do número de concessões de emissoras de rádio e televisão a que grupos de comunicação terão direito. Para se enquadrarem nos limites da lei, grupos terão de abrir mão de várias concessões de que, atualmente, dispõem. A grande imprensa brasileira, imediatamente,atacou a medida, qualificando-a como uma tentativa do governo da presidente Cristina Kirchner de controlar os meios de comunicação e atacar os críticos de sua administração. Foi destacado o fato de que quatro dos sete juízes que votaram sobre a medida foram nomeados pelo falecido ex-presidente Nestor Kirchner, com quem Cristina era casada. A Lei de Meios atinge frontalmente os interesses do Grupo Clárin, o maior conglomerado de comunicação da Argentina. O fato acontecido na Argentina deveria reacender a discussão sobre o assunto no Brasil. Ninguém precisa ensinar ao povo brasileiro o quão deletéria pode ser a ação dos governos quando resolvem inibir a liberdade de imprensa. Durante a espúria ditadura militar, sofremos duramente com essa experiência. Por outro lado, não é nada benéfico para o país ter seus meios de comunicação controlados economicamente por alguns poucos e gigantescos grupos. Isso não garante à população uma difusão da informação que seja, efetivamente, plural e independente. Ao criticar duramente o ocorrido na Argentina, a imprensa brasileira não está agindo em defesa da liberdade de expressão, e sim tentando influir para que algo semelhante não ocorra no Brasil. Teme que seus muitos interesses, em nada relacionados com a população em geral, venham a ser ameaçados.