sábado, 10 de novembro de 2018

Demofobia

O avanço do fascismo, no Brasil e no mundo, é uma realidade. Consequência de uma crise econômica global que já dura dez anos e não dá sinais de arrefecimento, a atual onda conservadora sataniza tudo o que é popular, e exalta a repressão, vista como um meio de proteger os interesses e o sossego das "pessoas de bem". Essa onda de demofobia é particularmente visível no Rio Grande do Sul, e tem se refletido nas urnas, com a preferência por candidatos de direita nas eleições majoritárias. Em Porto Alegre, um fato, em especial, que tem chamado a atenção é a perseguição ao Carnaval. Depois de uma realização precária em 2017, o desfile das escolas de samba não aconteceu em 2018, e ainda há total indefinição sobre o que ocorrerá no próximo ano. O Carnaval de rua da Cidade Baixa, uma festa popular e democrática, vem sendo ameaçado há anos, e não deverá ser realizado no ano que vem, em nome da tranquilidade dos moradores do bairro, que reclamam das perturbações ao seu bem-estar. Os mesmos moradores perseguem há anos as casas noturnas de um bairro cuja vocação boêmia é por demais conhecida. Os frustrados e mau humorados não suportam o prazer e o contentamento alheios. Escondem, sob a capa da defesa do direito ao repouso e à manutenção da ordem pública, o ódio que sentem dos que são capazes de fruir os prazeres maiores da existência. A espontaneidade que é própria das manifestações populares lhes irrita, já que estão presos por uma série de grilhões. Fracassados crônicos na busca de uma vida gratificante, querem jogar sobre os outros o peso da sua amargura. Mais do que nunca, diante de tanto falso moralismo e repressão, é preciso resistir.