sexta-feira, 20 de abril de 2012

Tempos estranhos

Decididamente, vivemos tempos insólitos. Ao navegar pelas chamadas redes sociais, verdadeira febre na atualidade, nos deparamos com infindáveis declarações de amor aos animais e de condenação a quem os maltrata ou abandona. A morte a tiros de um cão pit bull, ocorrida dias atrás em Porto Alegre, gerou inconformidade em muitas pessoas. A ferocidade dessa raça de cães foi deixada de lado por tais pessoas, que viram a execução do pit bull como um ato cruel. Não tenho nada contra animais, muito pelo contrário, mas me chama a atenção o crescente apego que eles despertam nas pessoas. Muitas casas não possuem crianças, mas quase todas tem um cão ou um gato. Há casais que decidem não ter filhos, mas enchem seu lar de bichos. Basta sair às ruas para ver todo o tipo de gente conduzindo seu animalzinho de estimação, jovens, velhos, casais, pessoas solitárias. Não resta dúvida de que os animais de estimação, principalmente os cães, podem ser extremamente afetuosos com seus donos. Os efeitos benéficos de se ter um animal de estimação já foram comprovados pela medicina. No entanto, chama a atenção que alguns reajam indignadamente diante de maus tratos contra animais ou a uma árvore que foi derrubada, mas não tenham a mesma postura diante de crianças abandonadas ou exploradas, famílias relegadas á miséria, doentes desassistidos, velhos maltratados e esquecidos. Talvez a explicação para isso esteja no fato de que o amor dos animais para com seu dono é uma relação passiva. O animal se submete docilmente ao comando, ao contrário do relacionamento interpessoal, feito de trocas e exigências. Crianças podem ser voluntariosas e birrentas, a vida a dois exige grande dose de compreensão mútua. Assim, muitos decidem não ter filhos e, às vezes, nem mesmo alguém com quem dividir a vida. Preferem satisfazer sua necessidade de afeto com seus bichinhos de estimação. Repito que nada tenho contra eles, mas não consigo entender quem coloque o contato humano em segundo plano, privilegiando a relação com animais. Acima de tudo, parece mais uma demonstração do enorme vazio existencial dos nossos tempos.