sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A imprensa e a Copa

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT) queixou-se do tratamento que a imprensa vem dando à realização da Copa do Mundo de 2014. "Acho que a imprensa não quer a Copa", disse Fortunati. Para o prefeito, a mídia atua contra a vinda da Copa para Porto Alegre. A visão do prefeito pode ser exagerada ou distorcida, mas merece uma reflexão. Não só a imprensa gaúcha, mas veículos de comunicação de todo o Brasil parecem não abraçar inteiramente a realização da Copa de 2014 no país. Faltam apenas três anos para a competição, e ainda há quem cogite do Brasil desistir de sediá-la ou até de a FIFA transferi-la para outro país. Convenhamos, isso é algo da mais rematada estupidez. Claro que há muitos absurdos sendo cometidos em nome da Copa. A reforma do Maracanã é um deles. O estádio já havia sido reformado para os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Passados apenas quatro anos, está em obras, novamente, por um valor altíssimo. Uma insensatez total. A construção de novos estádios em Manaus e na região metropolitana de Recife constituem outro absurdo. O futebol em Manaus é muito fraco e atrai uma média baixíssima de público. Após a Copa, o novo estádio, certamente, se transformará num elefante branco. O novo estádio pernambucano também é um despropósito. Os três maiores clubes de Pernambuco possuem estádios próprios e um deles, o Arruda, pertencente ao Santa Cruz, tem capacidade superior a 50 mil pessoas. Por que não adaptá-lo às exigências da FIFA, em vez de construir um estádio que, após a Copa, provavelmente ficará ocioso? A mesma pergunta cabe no caso do Morumbi, em São Paulo. Será mesmo que o estádio não teria como ser utilizado na Copa, evitando a construção de um novo, que pertencerá ao Corinthians? O Corinthians, pela sua grandeza, merece ter seu próprio estádio, mas não valendo-se da Copa para isso. O superfaturamento de obras também não deve espantar ninguém. Todos sabiam que ia ser assim. Apesar de tudo, há um exagero na hipótese, aventada pela imprensa,de que o Brasil possa dar vexame na organização da Copa. Isso não vai acontecer. Na hora "h", tudo estará pronto, senão com o nível de um país de primeiro mundo, pelo menos, num padrão bastante aceitável. O que não é razoável é a imprensa estimular um sentimento de indiferença ou de rejeição da população para com a Copa. A realização da competição no país é irreversível. O Brasil, único país a participar de todas as edições da Copa do Mundo, e o maior vencedor da história da competição, merece sediá-la mais uma vez. Dizer que milhões de reais que poderiam ser investidos em saúde, educação e segurança estão sendo aplicados em estádios e obras de infraestrutura para a Copa, é praticar a demagogia mais rasteira. As verbas que faltam para esses setores não são desviadas para outras finalidades. Elas simplesmente inexistem por uma questão de orientação política que atravessa o tempo, independentemente de quem esteja no poder. Para ser mais claro, se o Brasil, por qualquer motivo, não viesse a sediar a Copa de 2014, isso não representaria um centavo sequer a mais para esses setores essenciais. Apregoar o contrário é iludir a boa fé das pessoas e enganar os menos esclarecidos. Portanto, encaremos o fato de que a realização da Copa de 2014 no Brasil é líquida e certa, e façamos, desde já, todo o possível para que seja uma grande festa para brasileiros e estrangeiros. Sediar uma Copa é um privilégio, não um castigo.