sexta-feira, 18 de abril de 2014

Mudanças

Tudo muda com o passar do tempo, mesmo aquilo que pensávamos ser inalterável. A data de hoje, Sexta-Feira Santa, é um exemplo disso. Sou daqueles que viveram o tempo em que, nessa data, as rádios só tocavam músicas sacras ou clássicas, as pessoas não cantarolavam nem riam, tudo e todos eram tomados pela circunspecção e recolhimento. O comércio fechava suas portas. Afinal, é o dia que marca a morte de Jesus Cristo, e num país que era inteiramente dominado pelos valores católicos, a visão da Igreja se impunha. Atualmente, não é mais assim. Para a maioria das pessoas, a Sexta-Feira Santa é apenas um feriado, uma oportunidade para entregar-se ao lazer e ao ócio. As rádios tocam todo o tipo de música, sem exceção. Pode-se cantarolar e rir sem restrições. Casas comerciais, como os supermercados, por exemplo, abrem normalmente. Essas mudanças não se deram por acaso. Elas ocorrem, basicamente, por dois motivos. Um é a perda de fiéis por parte do catolicismo e o consequente aumento de adeptos de outras religiões. Outro é a progressiva secularização da sociedade ocidental, com o crescimento constante do número de ateus e agnósticos. Particularmente, entendo que é muito bom que seja assim. Nada impede que os católicos mais conservadores continuem a se orientar pelo comportamento tradicional em relação à data. Porém, toda e qualquer sociedade deve ser marcada pela pluralidade, de pensamentos e atitudes. Não faz sentido a visão de um grupo específico ser adotada como a da população como um  todo. Ser majoritária, como a Igreja ainda é, no Brasil, em relação às demais religiões, não significa ser totalitária. Os valores e rituais do catolicismo devem ser seguidos pelos seus fiéis, não impostos ao conjunto da sociedade. Vivemos num país laico e, sendo assim, valores religiosos, quaisquer que sejam, não podem ultrapassar o alcance dos que professam determinada crença.