segunda-feira, 19 de maio de 2014

Despropósito

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ao longo do tempo em que exerce o cargo, não tem se destacado por uma atuação brilhante, e, vez por outra, dá declarações "fora de órbita". Num momento em que os gastos com estádios para a Copa do Mundo são criticados  por um grande número de pessoas, Rebelo defende a ideia de que o governo poderá ajudar o Flamengo a ter o seu próprio estádio, a exemplo do que fez com o Corinthians. A declaração do ministro é inoportuna e desastrada. Rebelo parece desconhecer que o auxílio governamental à construção do Itaquerão foi muito mal recebido pela opinião pública. Nesse caso, no entanto, havia uma justificativa. Afinal, o São Paulo não aceitou as imposições da Fifa para a reforma do Morumbi, estádio inicialmente escolhido para abrigar os jogos da Copa do Mundo na capital paulista. Como seria inconcebível São Paulo ficar de fora da Copa, houve a necessidade de construção de um novo estádio que pudesse atender o "padrão Fifa". O Corinthians aproveitou-se dessa oportunidade e, com o auxílio do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, torcedor declarado do clube, realizou seu antigo sonho de um estádio próprio, contando para isso com recursos públicos. No caso do Flamengo, esse motivo inexiste. Rebelo argumentou que um clube como o Flamengo, que tem a maior torcida do Brasil, precisa ter seu próprio estádio, e que isso ajudaria o clube a recuperar o seu prestígio internacional. As afirmações do ministro são válidas, mas não tornam aceitável que se use dinheiro público para a consecução do objetivo. Se quiser ter seu próprio estádio, o Flamengo deverá fazê-lo com a colaboração de parceiros privados. Rebelo revelou que tais recursos poderiam ser obtidos por meio dos programas de incentivo ao esporte já mantidos pelo Ministério, mas nem isso parece razoável. Afinal, os recursos desses programas deveriam ser usados para o estímulo ao esporte na base, não para auxiliar clubes profissionais a erguerem estádios. Rebelo perdeu uma grande oportunidade de ficar calado, pois, num momento de questionamento quanto aos gastos com a Copa e de críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff, sua declaração soa como um despropósito.