terça-feira, 14 de junho de 2011

Sigilo eterno

Já me ocupei anteriormente, nesse espaço, da absurda impunidade aos artífices da macabra ditadura militar instaurada no país em 1964. Trata-se de uma postura vergonhosa, muito diferente da adotada por nossos vizinhos, Uruguai e Argentina, que buscam, ainda hoje, punir devidamente aos que lançaram os dois países em períodos de autoritarismo e violência. Como se não bastasse isso, o governo federal retirou o regime de urgência  do projeto sobre o sigilo de documentos públicos que tramita no Senado. Com isso, os documentos chamados de "ultrassecretos", que teriam de ser divulgados, no máximo, após 50 anos de sua elaboração, poderão ficar mantidos por um sigilo eterno. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defende o sigilo eterno dos documentos ultrassecretos alegando que eles podem "abrir feridas" do passado. O sigilo eterno é um escárnio, uma vergonha! Os arquivos da ditadura tem de ser abertos. Não há problema algum em "abrir feridas", pois só assim será possível desinfectá-las. Muito pior é condenar o país a ver tais ferimentos gangrenarem pela falta da devida reparação aos crimes e atrocidades praticados pelos executores do abjeto golpe militar. Chega de impunidade!

A verdadeira face de um velho cacique

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) ganhou a imagem de parlamentar combativo e tribuno contundente na época em que, como deputado estadual, enfrentou a ferocidade da ditadura militar que se instalara no país. Simon era a estrela maior do MDB, partido único de oposição ao regime militar, no Rio Grande do Sul. Seu crescente prestígio fez com que, em 1978, se elegesse senador pela primeira vez, concorrendo sozinho contra três candidatos da Arena, o partido de sustentação da ditadura. Com a volta das eleições diretas para governador, em 1982, concorreu ao cargo, mas, num pleito com evidentes índicios de fraude, perdeu para Jair Soares, candidato da direita, por 22 mil votos. Na eleição seguinte, em 1986, concorreu novamente e, dessa vez, conseguiu eleger-se. A partir daí, a biografia até então elogiável de Simon começou a deslustrar-se. Para quem sonhou tanto tempo com o cargo, Simon foi um governador medíocre. Seu governo, em vez de alguma realização marcante, será lembrado pela mais longa greve do magistério gaúcho. Para piorar, Simon renunciou oito meses antes do término de seu mandato para concorrer novamente ao Senado. Assumiu o seu lugar o então vice-governador Sinval Guazelli, já então filiado ao PMDB, mesmo partido de Simon, mas que fora governador biônico do Rio Grande do Sul pela Arena. Com a redemocratizaçã do país, em 1985, Simon foi perdendo, cada vez mais, sua aura combativa e se tornando um político tradicional. Permanece até hoje no PMDB, mesmo sabendo que o partido, com o fim do regime militar, inchou e descaracterizou-se ideologicamente, abrigando em seus quadros todo tipo de político oportunista e fisiológico. Simon insiste, e seus admiradores também, em manter uma imagem de político digno, de posturas corajosas e falas contundentes, mas essa descrição pertence ao passado. Como todo cacique político, Simon quer sempre estar na linha de frente, não admite a coadjuvância e, em função disso, assume posições incompatíveis com sua trajetória anterior. Agora, por exemplo, o senador anda estimulando a idéia da senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) concorrer a governadora do Estado em 2014, chegando , inclusive, a dizer que o slogan de campanha seria: "Uma mulher para governadora. Esta é gaúcha". O slogan em questão é uma clara alusão ao fato de que o Rio Grande do Sul já teve uma governadora, Yeda Crusius (PSDB), mas que é natural do estado de São Paulo. Simon, ao defender tal candidatura, escancara a falta de quadros que atinge o seu partido, incapaz, no momento, de apresentar ao eleitorado um nome forte para concorrer para governador. Mesmo assim, na ânsia de manter-se na oposição ao PT, partido que está no poder no Estado, não se constrange em defender uma candidata pertencente ao PP, nome atual da velha Arena que tanto combateu. Simon não aceita a perda de espaço que seu partido sofreu para o PT. Sonha em ter de volta o mesmo poder e grau de influência de seus tempos idos. Para isso não hesita em fazer aliança com seus algozes de outras épocas. Simon, como toda raposa da política, não tem limites na luta pelo poder. Não é um político diferente, como ainda muitos pensam. Não é um idealista, é um pragmático, na pior acepção do termo. Essa, sem disfarces, é a verdadeira face do velho cacique.