segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Cumplicidade

Em tese, os três poderes que constituem o Estado, Executivo, Legislativo e Judiciário, são soberanos e independentes. Porém, no Brasil atual, a relação entre eles é de cumplicidade no sórdido golpe que destituiu uma presidente legitimamente eleita. Cada vez fica mais claro que as três esferas de poder agem de forma associada. A proibição de um show de Caetano Veloso numa ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, em São Bernardo do Campo (SP), determinada por uma juíza, é uma demonstração desse conluio. O país está sendo submetido a práticas idênticas às da ditadura militar, mas com o argumento cínico de que a Constituição foi respeitada e de que as instituições foram preservadas. Conversa fiada. O que aconteceu em 2016 não foi um processo natural de impeachment. Foi um golpe sórdido e espúrio, e medidas como a proibição do show evidenciam as semelhanças com a ditadura militar. No governo de João Figueiredo, por exemplo, a cantora Joan Baez foi impedida de se apresentar no país. Joan Baez sempre teve uma postura libertária e de combate à opressão. Caetano Veloso também, o que o fez ser perseguido pelos militares, e o levou ao exílio. Nada apavora mais os fascistas que a força das palavras, por isso eles se utilizam tanto da censura e das proibições às manifestações culturais e artísticas. O Brasil não vive uma situação de normalidade. As instituições não estão preservadas. O país está num regime de exceção avalizado por quem deveria ser um fator de resistência democrática, o Poder Judiciário. Com os três poderes agindo de forma cúmplice para solapar a democracia, o Brasil caminha, passivamente, para o caos.