sexta-feira, 15 de março de 2013

Obscurantismo

As diversas religiões acompanham a humanidade ao longo da história. O temor ao desconhecido, a insegurança ante os desastres naturais, a falta de explicação para determinados acontecimentos e a fragilidade psicológica própria dos seres humanos, entre outros fatores, favoreceram a busca de amparo no sobrenatural. O que não podia ser entendido ou explicado era logo atribuído a forças superiores. Assim, tivemos o surgimento das religiões politeístas, com seus vários deuses, e, mais tarde, chegamos ao monoteísmo, com sua crença num deus único e onipotente, variando, apenas, na denominação. Em nome deste deus supremo, uma série de regras e dogmas são impostas aos fiéis, que devem segui-los, sob pena de incidirem no pecado. Cada um acredita no que quer, e, afora os países que adotam uma teocracia, ou seja, uma religião oficial de Estado, todos os demais asseguram, em suas leis, a liberdade de culto. Não há, portanto, nada de errado em alguém escolher uma religião e se submeter aos seus ditames. O problema ocorre quando uma ou mais correntes religiosas resolvem extrapolar os limites de sua atuação e estender seus preceitos para o restante da sociedade. Com exceção das já referidas teocracias, os governos são laicos. Portanto, as leis de qualquer país não tem de obedecer a imposições de caráter religioso. Os segmentos mais esclarecidos constituem o verdadeiro elemento propulsor da sociedade, garantindo seu inexorável avanço, e não podem ser submetidos ao obscurantismo característico dos crentes de qualquer confissão religiosa. No Brasil, particularmente, a crescente influência política das igrejas evangélicas constitui um caminho para o retrocesso. A recente eleição do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), pastor da Assembleia de Deus, para presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados é o exemplo mais flagrante nesse sentido. Homófobo e racista, Feliciano está na contramão dos avanços obtidos pela sociedade brasileira no campo dos costumes. Tenta, pela via política, fazer com que as leis do país adotem "verdades" que estão longe de ser universais, representam, apenas, um conjunto de ideias afinadas com o pensamento da religião que abraçou. Da mesma forma, é inconcebível que, nos dias de hoje, integrantes da Igreja se batam de frente com os governos, protestando contra a distribuição de preservativos, ou a aprovação do casamento gay. A influência de qualquer religião deve se limitar aos muros de seus templos e aos seus adeptos. Um Estado democrático é, também, laico e pluralista. Nele, não há lugar para verdades universais imutáveis a que todos devam se curvar. As sociedades democráticas são, necessariamente, dinâmicas, não podem ceder ao imobilismo e ao moralismo tacanho que caracteriza as diversas religiões. O esforço dos setores mais atrasados da sociedade em impor suas vontades ao conjunto da população é flagrante, não pode ser mais ignorado. Está na hora de reagir contra os felicianos da vida.