sábado, 17 de dezembro de 2011

Duas perdas

O Brasil sofreu, hoje, a perda de duas grandes personalidades, de diferentes áreas de atuação, Joãosinho Trinta e Sérgio Britto. Joãosinho Trinta popularizou a figura do carnavalesco, isto é, do responsável pela concepção do desfile de uma escola de samba. Antes de Joãosinho, essa era uma função pouco percebida pelo grande público. Joãosinho Trinta revolucionou o Carnaval, adicionou-lhe o luxo e as mulheres desnudas, levou-o para um inevitável profissionalismo. Aos que criticavam sua concepção opulenta e faustosa dos desfiles, que teriam matado a pureza do Carnaval, respondia com uma frase que se tornou célebre: "Pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual". Joãosinho contribuiu decisivamente para que o Carnaval se tornasse um espétaculo fascinante e inebriante, de muitas luzes e cores, indo muito adiante do simples samba no pé. Vários de seus enredos marcaram época, pela ousadia temática, pela beleza visual, ou sua antítese, como quando colocou na avenida pessoas vestidas de mendigos, e, também, por efeitos especiais, em que, até mesmo, um homem fez um vôo sobre a Marquês de Sapucaí. A importância de Joãosinho Trinta pode ser resumida nas palavras de Neguinho da Beija-Flor: "O Carnaval se divide em antes e depois de Joãosinho Trinta". O outro grande nome que nos deixou hoje, Sérgio Britto, foi, sobretudo, um homem do teatro, embora tenha atuado, também, no cinema e na televisão. No teatro sua grande paixão, foi ator e diretor. "O teatro não é chato, ele não se repete, o público é que se renova", disse, certa vez, Sérgio Britto. Mesmo tendo morrido com 88 anos, Sérgio Britto trabalhou até o fim. O teatro era a sua vida, a força que o movia. Seu trabalho atravessou gerações, marcado pela qualidade, reconhecido pelo público e pelos colegas. O Brasil perdeu, num mesmo dia, dois homens que atingiram a maestria nos ofícios que escolheram. Marcaram sua presença de maneira indelével e permanecerão nas nossas lembranças.