terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A morte no exílio

No dia de hoje, 6 de dezembro, completam-se 35 anos da morte do ex-presidente João Goulart. Uma morte prematura, aos 57 anos, de um homem amargurado pela condição de exilado, impedido, por um espúrio regime militar, de retornar ao seu país. O "crime" cometido por Goulart que o fez ser condenado ao exílio, foi ter tentado realizar reformas que tornassem o país mais justo e menos submetido aos interesses do capital internacional. Num país que, até hoje, é um dos mais desiguais do mundo, contrariar interesses dos grandes grupos econômicos em busca da justiça social foi considerado um desaforo por parte das forças retrógradas que, desde a descoberta do Brasil, são responsáveis pelo seu atraso. Não satisfeitos em impedi-lo de voltar ao Brasil, os golpistas que se apoderaram do país trataram de enxovalhar a memória de Goulart. A historiografia oficial o apresenta como um homem vacilante, de personalidade fraca. A exemplo de seu mentor político, Getúlio Vargas, João Goulart era um grande proprietário de terras. Porém, também como Getúlio, tinha sensibilidade social. Getúlio tirou o Brasil do atraso político e econômico. Recebeu a imensa gratidão do povo, mas despertou o ódio das elites, cujas pressões resultaram no seu suicídio. Goulart propôs reformas de base que mudariam a face do país. Foi tachado de comunista, perseguido, deposto e, por fim, exilado. Morreu, oficialmente, de um ataque cardíaco, mas há quem sustente que foi assassinado pelas forças da repressão. Ao contrário de tantos outros que foram remetidos para o exílio, não teve a chance de voltar. Morreu três anos antes da entrada em vigor da Lei da Anistia, que permitiu o retorno ao Brasil de Leonel Brizola e Miguel Arraes, entre outros. A data de hoje não deveria passar em branco. As novas gerações deveriam saber que o Brasil teve um presidente que quase foi impedido de assumir, aceitou tomar posse num regime parlamentarista que lhe retirava poderes, mais tarde teve as atribuições de seu cargo restituídas e, finalmente, foi deposto por um abjeto golpe de estado. Por ter aceitado, inicialmente, o arranjo parlamentarista que lhe permitiu tomar posse e, mais tarde, não ter resistido ao golpe que lhe apeou do poder, Goulart foi tido por muitos como um homem sem fibra. Na verdade, nas duas situações, parece ter prevalecido o sentimento, por parte do ex-presidente, de não atirar o país numa guerra fratricida. Goulart desejava mudar o Brasil para melhor, mas não ao custo de um banho de sangue. Passados 35 anos de sua morte, o Brasil ainda deve a João Goulart o devido reconhecimento pelo que fez e pelo que tentou realizar.