quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conversões

Há assuntos que são muito espinhosos. Entre eles estão os que envolvem crenças religiosas. Trata-se de um terreno minado, que desperta reações iradas por parte daqueles que se sentem atingidos na sua fé. Não irei, no entanto, abordar a religião em si, mas a postura de algumas pessoas diante dela. A religião é um anteparo para muitas pessoas, que encontram nela um suporte psicológico diante das dificuldades da vida. Muitas vezes, contudo, a busca da fé, ou mesmo uma conversão, evidenciam uma atitude escapista. Alguns dias atrás, li uma notícia que dava conta de que a cantora Elba Ramalho revelara que abdicou de manter relações sexuais, e está levando uma vida casta.há um ano e três meses. Elba, que está com 61 anos, e sempre relacionou-se com homens bem mais jovens do que ela, disse que se consagrou definitivamente com Nossa Senhora, leva uma vida reclusa, não está namorando, e vem se dedicando às obras sociais, religiosas e à família, o que, segundo afirmou, tem lhe dado "prazer". Por que me ocupo deste tema? Porque me chama a atenção a ocorrência de certas "conversões" em mulheres famosas que, antes, tinham uma vida voltada para os prazeres mundanos. O caso de Elba Ramalho não é o primeiro, nem será o último. A ex-modelo Rose di Primo, a cantora Baby Consuelo e a atriz Myrian Rios são outros exemplos nesse sentido. Em comum, todas tiveram, antes de receberem o chamado da fé, uma vida sexual intensa. Atualmente deputada estadual no Rio de Janeiro, Myrian diz estar há mais de dez anos sem sexo e passou a defender ideias extremamente conservadoras, inspiradas por sua conversão religiosa. Não quero desdenhar da fé de ninguém, mas tais conversões não me convencem. No fundo, em todos estes casos, a religião é um escapismo, uma forma encontrada por tais celebridades para enfrentar o ocaso de sua atratividade como mulheres. Rose e Myrian, especialmente, atingiram a fama menos por um grande talento e muito mais por seus atributos físicos. Com a perda do viço e da juventude, as oportunidades profissionais diminuem, e o assédio masculino também. Para enfrentar com dignidade as agruras determinadas pela ação implacável do tempo, a religião surge como uma ótima válvula de escape. Permite que, perante seus próprios olhos e os dos outros, a pessoa seja vista como alguém que renunciou a uma vida errante para optar pelo "caminho certo". Nada mais é do que um artifício, para suportar a quase invisibilidade atual de quem antes era cercada por olhares cobiçosos.