sábado, 13 de setembro de 2014

Imagem desgastada

Dois acontecimentos recentes colocaram o Rio Grande do Sul no centro das atenções do país, e da pior maneira possível. O tão badalado caso de injúria racial no jogo Grêmio x Santos, pela Copa do Brasil, e o incêndio criminoso de um CTG (Centro de Tradições Gaúchas), onde se realizaria um casamento coletivo que incluía um casal gay, colaram no Rio Grande do Sul as condições de racista e homofóbico. A imagem do Estado, portanto, está profundamente desgastada. Claro que essa percepção não corresponde inteiramente à verdade, como toda a generalização. Porém, não é coincidência que isso aconteça num estado que valoriza tanto a "tradição". No mês corrente, setembro, esse aspecto torna-se ainda mais presente, pois é quando se comemora a chamada "Revolução Farroupilha", um caso excêntrico em que se festeja uma empreitada fracassada, ou seja, uma derrota. Num mundo em que tudo é tão fluido, com mudanças alucinantes a cada minuto, apegar-se a um conjunto de valores rígidos, na busca desesperada por firmar uma cultura e identidades próprias, é algo que tem prejudicado muito o Rio Grande do Sul. Cultiva-se no Estado um sentimento de inadequação em relação ao resto do país, com, até mesmo, um absurdo viés separatista. O tal Movimento Tradicionalista Gaúcho insiste em cultuar a figura mitológica de um tipo que jamais existiu da forma idealizada como é descrito. O movimento em questão é fortíssimo, exerce enorme influência sobre os meios de comunicação e em nada contribui positivamente para o Rio Grande do Sul. Recusa-se a abrir mão de quaisquer de seus preceitos e procura exercer um protagonismo sobre todas as outras manifestações culturais, por entender que tem o papel de "proteger" o Estado de influências externas. Tanto anacronismo e estultice só poderiam resultar no que, agora, ocorre. O Rio Grande do Sul tomou conta das manchetes em todo o país, mas não por suas realizações, ou qualquer outro atributo, e sim por uma imagem de intolerância. Mais cedo ou mais tarde, era inevitável que isso acontecesse. Resta saber até quando os segmentos mais sadios e evoluídos da população do Rio Grande do Sul vão continuar permitindo a prevalência dos "tradicionalistas gaudérios".