sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Exemplo

Na segunda metade do século passado, alguns países da América do Sul passaram pela infelicidade de serem submetidos à ditaduras militares, que deixaram, como resultado, um rastro de mortes, torturas, desrespeito aos direitos humanos, censura à imprensa e às artes. Opositores políticos de tais regimes foram perseguidos e massacrados. Agora, restituída a democracia nesses países, eles lidam de forma diferente com esse passado abjeto. Para desgosto dos brasileiros comprometidos com a liberdade e a busca de um país melhor, o Brasil optou pela impunidade dos carrascos do golpe militar de 1964. Nossos vizinhos Argentina e Uruguai procederam de maneira diferente, e partiram para o devido ajuste de contas com o passado. Na Argentina, Alfredo Astiz, o "anjo louro da morte", símbolo da repressão durante a ditadura militar (1976-1983), foi condenado á prisão perpétua pelos crimes cometidos no período. Astiz já tinha sido condenado à prisão perpétua à revelia na França, em 1990, e na Itália, em 2007. Os crimes de Astiz foram cometidos na Escola de Mecãnica da Armada, por onde passaram mais de 5 mil presos, dos quais cerca de apenas cem saíram com vida. O Uruguai, por sua vez, aprovou, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei que declara imprescritíveis os crimes cometidos na ditadura militar (1973-1985). Não há como deixar de destacar a diferença de atitude desses países em relação ao que se faz no Brasil, onde os artífices do repugnante golpe militar continuam impunes e se busca varrer para baixo do tapete as ocorrências do período. Argentina e Uruguai estão dando um exemplo que o Brasil deveria seguir. Figuras que perpetraram crimes hediondos, como Alfredo Astiz, e há várias no Brasil, devem ser rigorosamente punidas. Os crimes ocorridos na ditadura tem de ser imprescritíveis, não podem ser alcançados por nenhum tipo de anistia como se argumenta no Brasil. Diante das notícias vindas de nossos vizinhos, fui tomado por um sentimento de profunda inveja. Como eu gostaria que tais decisões tivessem sido aplicadas no Brasil e que, assim, o país passasse a limpo, definitivamente, a ditadura militar, punindo drasticamente os que nela tomaram parte. Não se pode anistiar quem participou de uma monstruosidade como a ditadura militar brasileira. Para o Brasil seguir em frente é necessário, antes, curar de uma vez essa ferida, e isso não se fará fingindo que nada aconteceu. A punição para os carrascos da ditadura e a abertura ampla e irrestrita dos arquivos do período são imperativos morais do país. Argentina e Uruguai estão nos mostrando como se deve agir nesses casos. Aproveitemos a lição e procedamos da mesma forma. As vítimas dos vinte e um anos de ditadura no Brasil, e seus familiares e amigos, ainda estão a esperar pela justa reparação. Ela pode e deve ser feita. Basta querer, como demonstraram nossos vizinhos.