sábado, 31 de março de 2012

O prolongamento de uma impunidade

Mais um 31 de março chega, e lá se vão 48 anos da eclosão de um abjeto golpe de estado que jogou o Brasil numa pútrida e ignominiosa ditadura militar. Porém, ao contrário de países vizinhos, que passaram pelo mesmo drama mas, ainda hoje, estão punindo os seus causadores, o Brasil, depois de quase meio século, insiste em manter impunes os torturadores e assassinos que lançaram-no num período de trevas. Os setores que promoveram o golpe seguem atuantes, talvez enfraquecidos, mas não desmobilizados. A cada vez que se fala em tomar medidas para punir devidamente os criminosos da ditadura, saem a berrar que a anistia de 1979 era para ambos os lados, e que, portanto, não há reparação a ser buscada pelas vítimas do regime de exceção. O argumento é cínico. Como muito bem coloca o jornalista Juremir Machado da Silva, em sua coluna de hoje no jornal Correio do Povo, a anistia foi um artifício dos golpistas que concedeu "perdão" a quem já tinha sido punido por sofrer com todo o tipo de ações arbitrárias e violentas e um modo de evitar que quem foi responsável por tais atos viesse a pagar por eles. Na verdade foi anistia para um lado só, pois enquanto os opositores da ditadura pagaram com a própria vida por seu idealismo, seus algozes seguem soltos pelas ruas. O Brasil precisa, para honrar a memória dos que tombaram pela defesa da liberdade, punir, exemplar e definitivamente, todos os que atuaram no espúrio golpe. Não é admissível, também, que em nome da liberdade de expressão, pessoas continuem a defender a ditadura, quer seja com cerimônias alusivas à data do golpe, ou com artigos que o exaltem. Tais cerimônias devem ser consideradas ilegais, por ofenderem a condição democrática vivida, atualmente, pelo país, e seus promotores, portanto, ainda que sejam altas autoridades militares, devem ser severamente punidos, o que deveria incluir, até mesmo, a detenção, e a exclusão das Forças Armadas. Os que escrevem artigos rebelando-se contra ações do governo que objetivem o esclarecimento dos crimes da ditadura, ou insistam em exaltar aquele período, devem, da mesma forma, responder perante a lei por sua atitude. A liberdade de expressão não contempla o direito de se defender o golpismo, a supressão da normalidade institucional, as torturas, os assassinatos. Não é mais possível ser condescendente com quem praticou atos tão bárbaros. O 31 de março deveria ser instituído como uma data de luto nacional, pois, nesse dia, a liberdade foi ferida de morte.

O humor que agride

Já houve quem dissesse, com razão, de que só existem dois tipos de humor: o engraçado e o sem graça. Fazer humor está longe de ser uma tarefa fácil, pois exige talento. Porém, entre os ingredientes para fazer alguém rir não devem constar a grosseria, o preconceito e a vulgaridade. Chico Anysio, recentemente falecido, foi uma demonstração clara de como é possível fazer humor, sendo por vezes bastante incisivo, sem apelar para baixezas. Mesmo quando abordava questões como a homossexualidade, em personagens como Painho e Haroldo, Chico não o fazia de modo ofensivo ou discriminatório. No entanto, de uns tempos para cá, foi surgindo uma nova forma de fazer humor em que os limites do bom gosto foram totalmente rompidos. Os adeptos de tal vertente humorística consideram, ao que parece, que nenhuma abordagem pode lhes ser vedada, pois isso cercearia sua liberdade de criação e expressão. Ocorre que, felizmente, nem todos partilham de tal visão. Em setembro de 2011, durante uma edição do programa "CQC", da Rede Bandeirantes, o humorista Rafinha Bastos fez uma alusão estúpida e grosseira sobre a cantora Wanessa Camargo e seu filho, que estava por nascer. Rafinha, que já tinha "pisado na bola"  em outras ocasiões e se retratado, dessa vez enfrentou uma reação mais dura para seus excessos e, num primeiro momento, foi suspenso por tempo indeterminado do programa, ao qual acabaria por não retornar. Mais tarde, deixou a Bandeirantes e assinou contrato com outra rede de televisão. Parece, contudo, que o fato não serviu de exemplo. Há poucos dias, por ocasião da passagem da data que marcava os 52 anos de nascimento do cantor e compositor Renato Russo, falecido em 1996, Danilo Gentili, outro humorista saído das fileiras do CQC, disse que "Renato Russo estaria completando 52 anos... se tivesse usado camisinha". Para alguns, tomara que muito poucos, a tirada de Gentili pode ter soado engraçada. Para mim, e espero que para a grande maioria das pessoas, foi apenas estúpida, grosseira e homofóbica. Usar a passagem da data como mote para debochar da condição sexual do artista foi algo abominável e desprezível. Revela um comportamento machista, típico de uma sociedade autoritária, incompatível com os tempos democráticos que vivemos no país. Tal e qual seu ex-colega, Gentili "pisou na bola". O tipo de humor que abraçaram, incrivelmente, não faz rir, a não ser aos néscios. Ao contrário, para quem tem um mínimo de sensibilidade, só gera desprezo e indignação.

quinta-feira, 29 de março de 2012

O primeiro jogo sem Kleber

O primeiro jogo do Grêmio após a fratura de Kléber, que o deixará quatro meses afastado, não apresentou maiores dificuldades. O Grêmio goleou o Avenida por 4 x 0, hoje à noite, no Olímpico, em jogo válido pelo Campeonato Gaúcho. Com um minuto de jogo, o Grêmio já abria o placar, com um gol de Marcelo Moreno, que voltou a mandar a bola para as redes, cobrando um pênalti. Após o 2 x 0, o Grêmio arrefeceu um pouco o seu ímpeto, e não fez mais gols no primeiro tempo. No segundo tempo, contudo, o Grêmio voltou a impor um ritmo forte de jogo e marcou mais dois gols. O Avenida é um adversário  muito fraco, o que não permite maiores conclusões sobre o estágio de rendimento do time, mas foi uma boa vitória, que já concedeu ao Grêmio a condição de ataque mais positivo do Gauchão. Tudo indica que Grêmio e Inter confirmarão o primeiro lugar em seus grupos e, assim, só poderão se enfrentar na decisão do segundo turno. Nesse caso, haja coração, pois só um deles sairá vencedor para disputar com o Caxias, ganhador do primeiro turno, o título da competição.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Cantando até o fim

Outra perda sofrida pelo país foi a da cantora Ademilde Fonseca, uma das representantes da chamada "Era do Rádio". Sua morte vem se juntar a de outro representante dessa época, o cantor Jorge Goulart, ocorrida há poucos dias. Ademilde destacou-se como intérprete de chorinhos. Mesmo com o término do período áureo do rádio, prosseguiu com sua carreira e, ultimamente, cantava junto com a filha. Estava com 91 anos e, na semana passada, havia se apresentado em Porto Alegre. Apenas dois dias antes de sua morte, concedeu uma entrevista para a televisão, ainda inédita na sua íntegra, em que se mostrava jovial e bem disposta, na qual também cantou. Um exemplo notável de quem não abandonou jamais a sua atividade. Mesmo com uma idade tão avançada, cantou, literalmente, até o fim de sua vida.

Perdas

Os últimos dias não tem sido fáceis para o país, em termos de perda de grandes personalidades. Depois da morte de Chico Anysio, talvez seu maior humorista, o Brasil ficou também sem o talento múltiplo de Millôr Fernandes, jornalista, teatrólogo, cartunista e desenhista. Millôr morreu com idade incerta, pois, de acordo com alguns documentos, teria 87 anos e, conforme outros, estaria com 89. De uma forma ou de outra, foi uma longa e profícua existência, de um homem que marcou presença pela inteligência e independência intelectual. Luís Fernando Veríssimo foi muito feliz quando disse, a respeito do falecimento de Millôr, de que hoje o Brasil ficou um pouco mais burro. Em sua extensa trajetória, Millôr trabalhou nas revistas "O Cruzeiro" e "Veja" e fez parte do notável grupo do mítico e irreverente jornal "O Pasquim", junto com Ziraldo, Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Paulo Francis, entre outros. Millôr é representante de uma época em que a imprensa era muito mais crítica e combativa do que hoje. Trabalhou, durante muitos anos, tendo de enfrentar a censura aos meios de comunicação imposta pelo regime militar. Nunca se dobrou. Com suas charges e textos recheados de um humor incisivo soube enfrentar as agruras da ditadura. Jamais bajulou os poderosos de plantão. Foi uma referência de como deve ser o autêntico jornalismo, crítico e independente. Talvez tenha sido o último representante de uma linhagem de homens de imprensa para os quais, infelizmente, não se vislumbra sucessores.

terça-feira, 27 de março de 2012

Falso moralista

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é mais um exemplar de uma espécie prolífica no Congresso Nacional, a dos falsos moralistas. Como líder de seu partido no Senado, Demóstenes mostrou-se um obstinado oposicionista dos governos dos presidentes Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef. Constantemente, o senador goiano vinha a público com denúncias contra o governo, farejava escândalos, posava de paladino em defesa da ética. Eis que o tempo passou e Demóstenes e seu personagem de homem impoluto foram desmascarados. Descobriu-se que Demóstenes tem uma sólida amizade com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o qual já lhe deu presentes caros, e a quem recorreu para o pagamento de algumas despesas, como, por exemplo, os gastos com um táxi aéreo. O envolvimento do senador com o bicheiro, descoberto em gravações de conversas telefônicas, repercutiu amplamente entre seus pares e já levou Demóstenes a renunciar ao cargo de líder do DEM no Senado. Demóstenes Torres terá, é claro, ampla possibilidade de se defender das acusações que lhe são imputadas, mas, se não conseguir provar sua inocência, poderá, até mesmo, ser expulso de seu partido. O DEM é um partido que, nos últimos anos, tem frequentado o noticiário com escândalos envolvendo seus integrantes. José Roberto Arruda, por exemplo, perdeu o cargo de governador do Distrito Federal pela comprovação de práticas de corrupção. Com escassez crescente de eleitores, o DEM, que nada é mais é do que o antigo PFL com outro nome, caminha a passos largos para sair de cena. O partido, um dos sucedâneos, junto com o atual PP, da antiga Arena, legenda de sustentação da ditadura militar, caso venha a desaparecer do cenário político, não deixará saudades.

domingo, 25 de março de 2012

Vitórias diferentes

Grêmio e Inter venceram seus jogos na tarde de hoje, e mantiveram a liderança de seus grupos, no segundo turno do Campeonato Gaúcho, com 100% de aproveitamento. As semelhanças acabam aí. Enquanto o Inter goleou o São José por 3 x 0, sem fazer maior esforço, o Grêmio jogou uma má partida e, mesmo saindo na frente no placar logo no início do jogo, penou para ganhar do Cruzeiro por 2 x 1, com um  gol de pênalti nos acréscimos. Não bastasse mais uma atuação ruim do time, o Grêmio ainda teve a terrível perda de Kléber, principal jogador contratado pelo clube em 2012, que sofreu uma fratura na fíbula da perna direita, tendo que realizar uma cirurgia, e ficando afastado por três meses do futebol. Uma péssima notícia, pois o time ainda não está consolidado, e Kléber é um dos seus pilares. O fato ocorrido com Kléber enseja que se aborde a questão da arbitragem. O Grêmio jogou mal, é verdade, mas a atuação do árbitro Leandro Vuaden não foi nem um pouco melhor. Vuaden permitiu que o Cruzeiro abusasse das faltas, não expulsou jogadores que reincidiram em faltas violentas e que já tinham o cartão amarelo, deixou de marcar um pênalti claríssimo num toque de mão de Léo Carioca ainda no primeiro tempo, e não teria marcado o que deu a vitória para o Grêmio se não tivesse havido a intervenção do bandeirinha. O desempenho de Vuaden confirmou que ele está em muito má fase e comprovou, mais uma vez, o nível deficiente da arbitragem no Rio Grande do Sul. Com a lesão de Kléber, caçado pelos adversários com a conivência dos árbitros, o Grêmio sofre um prejuízo irrecuperável, que poderá lhe alijar da conquista dos títulos das competições que está disputando, o Gauchão e a Copa do Brasil. Enquanto isso, tudo é tranquilidade no Inter, que goleou o São José, viu Leandro Damião marcar mais dois gols, e teve outra boa atuação de Dátolo, que também mandou uma bola para as redes. Se o Grêmio vence, mas não convence, o Inter vai bem tanto no campeonato estadual quanto na Libertadores. Até aqui, 2012 tem sido mais um ano vermelho.

sábado, 24 de março de 2012

Capitalismo predatório

A revista "Veja" é incansável na sua pregação do capitalismo sem restrições, de uma sociedade totalmente regulada pelo mercado. Em sua última edição, a revista traz, em suas páginas amarelas, uma entrevista com o economista Edward Glaeser, professor da Universidade de Harvard. Como a imensa maioria dos entrevistados dessa seção de "Veja", Glaeser é americano, já que a revista nutre uma verdadeira idolatria pelos Estados Unidos. O mote da entrevista é a afirmação de Glaeser de que os melhores lugares para se viver são as metrópoles e os grandes aglomerados urbanos, e não no campo, pois é neles que está a chave da "prosperidade". Glaeser diz que não há lugar melhor para se viver do que em uma grande cidade, pois é em ambientes de enormes aglomerações que os mais variados talentos podem conviver e aprender entre si, potencializando ao máximo sua capacidade criativa e inovadora. O economista sustenta, também, que só lugares com alta concentração de gente justificam investimentos em grandes museus, teatros, hospitais, escolas e universidades. Até aí, nada demais, Glaeser passeia pelo senso comum. No entanto, mais adiante, vem o que está por trás das ideias que defende. Glaeser, como não poderia deixar de ser dentro de uma visão neoliberal, entende que os problemas existentes nas grandes cidades são culpa dos governos. Segundo afirma, sempre que as autoridades decidem interferir com "mão pesada" no livre mercado, o cenário piora, e não é pouco. Glaeser argumenta que medidas intervencionistas dos governos acabam desequilibrando a lei da oferta e da procura no mercado imobiliário, causando a disparada dos preços. Isso acontece, diz, quando o estado impõe uma série de entraves à construção de prédios mais altos ou a demolição de outros ditos históricos. Em resumo, o economista declara que a oferta de imóveis escasseia por um misto de excesso de burocracia e "miopia ideológica". Porém, Glaeser não para por aí, e vai mais longe em suas colocações, questionando, por exemplo, se absolutamente tudo deve ficar de pé na paisagem urbana de Paris. "Cidades não podem se comportar como museus. Ainda que preservem seus tesouros, precisam também saber abrir mão do que é menos importante e se renovar", postula o economista. Glaeser acrescenta que, ao estabelecerem barreiras para a construção de arranha-céus os políticos encarecem o mercado e reduzem as chances de as pessoas viverem bem. Ora, a fala de Glaeser não passa de uma apologia descarada ao capitalismo mais selvagem e predatório. Derrubar prédios históricos para construir arranha-céus é uma absoluta insanidade! Ao contrário do que diz o economista, ninguém vive bem em arranha-céus, que servem apenas para a obtenção de lucro para os seus construtores, ao custo de degradar a vida nas cidades. Discurso idêntico ao de Glaeser pode ser ouvido nos mais variados lugares. Em Porto Alegre, por exemplo, o setor da construção civil mostra-se inconformado com restrições para a construção de prédios altos em determinadas regiões da cidade. Os argumentos são sempre pretensamente bem intencionados, em nome de uma necessária "renovação" da paisagem urbana, mas não passam de disfarce para uma sede desmesurada de lucro. Ao contrário do que diz Glaeser, as grandes cidades se mostram cada vez mais inóspitas, e isso não se deve aos governos, mas, pelo contrário, é ocasionado pela omissão dos políticos à ação predatória dos apologistas da sociedade de mercado.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Chico Anysio

O Brasil perdeu, hoje, um de seus maiores artistas: Chico Anysio. Em 80 anos de vida, foram 60 de carreira, dedicados à nobre tarefa de fazer rir. Não há nenhum exagero em dizer que Chico Anysio foi o maior humorista brasileiro. O Brasil é uma terra de grandes humoristas, mas nenhum outro foi tão longevo na atividade, nem criou tantos personagens quanto ele. Jô Soares, por exemplo, outro excelente comediante e exímio criador de tipos, há mais de 20 anos abandonou o humorismo e tornou-se um entrevistador. Chico Anysio deixa imensa saudade, em várias gerações. Muitas pessoas atravessaram a vida acompanhando o seu trabalho, rindo com os seus personagens. Chico fez tudo em matéria de humor, atuando no rádio, televisão, stand-up no teatro, escrevendo livros. Ajudou a lançar novos talentos cômicos e amparou veteranos quando esses eram esquecidos. Em sua celébre "Escolinha do Professor Raimundo" deu emprego a comediantes que, pela idade, iam sendo relegados ao ostracismo. A maioria deles já se foi, e agora, morre o próprio Chico, encerrando um ciclo no humor brasileiro. Um humor simples, direto, despretensioso, de grande alcance popular. Um humor sem grosserias, nem apelações de qualquer ordem. Foram 209 personagens criados por esse gênio da comédia. Muitos deles inesquecíveis como o já citado Professor Raimundo, Coalhada, Nazareno, Painho, Azambuja, Véio Zuza, Alberto Roberto, Roberval Taylor, Pantaleão, Justo Veríssimo, Tim Tones, Haroldo, o hétero, Tavares, Seu Popó. Chico Anysio fez rir tanto crianças quanto adultos. Seu humor não fazia distinções de público, estava ao alcance de todos. Permanecerão, em nossa memória, bordões e expressões como "calada","sou, mas quem não é", "eu quero que o pobre se exploda", "Alberto Roberto, o resto é figuração", entre outros. Pessoal e profissionalmente, Chico Anysio teve uma vida plena. Foram vários casamentos, muitos filhos e netos. Ao encerrar-se a sua trajetória, longa e exitosa, há de se constatar que Chico Anysio soube usufruir intensamente as possibilidades que a vida oferece. Por isso, sua morte não deve ser recebida com lamúrias, mas sim com imensa admiração por tudo que fez.

Soberania

O Brasil é um país que se empenha em colocar-se em situações constrangedoras e, até mesmo, ridículas. Nossos parlamentares, que estão longe de serem exemplos de virtude, resolveram fazer uma média com a opinião pública, cujo único resultado é expor negativamente a imagem do país no exterior. Refiro-me aos sucessivos adiamentos na votação da Lei Geral da Copa. A propensão da classe política para a demagogia, somada à uma visão distorcida de soberania por parte de integrantes da imprensa, estão fazendo com que, nesse caso, a razão seja atropelada. Alguém precisa lembrar aos nossos nacionalistas enfurecidos que a Fifa não obriga nenhum país a sediar uma Copa do Mundo. São os países que se apresentam como candidatos a realizar a competição. Ora, quem se dispõe a sediar uma Copa sabe que terá de atender a uma série de exigências da Fifa. Se não estiver de acordo com elas, cabe ao país não se candidatar, ou, caso o tenha feito de maneira inadvertida, desistir. O que não se pode admitir é essa manifestação rasteira de uma falsa noção de soberania. Dizer que a Fifa não pode se sobrepor às leis do país, para, por exemplo, tentar proibir a comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa, é algo que beira o surrealismo. A Fifa possui entre seus apoiadores uma fabricante de cervejas, e isso é de conhecimento público. Em todas as Copas do Mundo há consumo de bebidas de álcool nos estádios. Porque só no Brasil seria diferente? Aliás, a proibição do consumo desse tipo tipo de produto nos estádios brasileiros é um dos tantos equívocos praticados por nossos legisladores. A medida é inócua, pois proíbe a venda no interior dos estádios, mas não pode impedir a comercialização nas cercanias dos mesmos. O Brasil parece esforçar-se, cada vez mais, para fazer da Copa do Mundo de 2014 um grande fracasso. A postura de grande parte da imprensa, que faltando pouco mais de dois anos para a competição, insiste em sua posição mal humorada contra a sua realização, só agrava a situação. Está na hora de deixar de lado essa versão capenga de soberania, aprovar, de uma vez por todas, a Lei Geral da Copa, e tentar evitar, enquanto ainda é possível, um enorme fiasco perante o mundo.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Sorte

O Inter teve mais sorte que juízo na noite de hoje. Jogando na altitude de La Paz, saiu perdendo para o The Strongest com um gol aos 30 segundos do segundo tempo, mas empatou aos 43 minutos, encaminhando sua classificação para a próxima fase, já que foi o único integrante do seu grupo que não perdeu para o clube boliviano jogando fora de casa. O Inter teve no goleiro Muriel o seu destaque, pois, com grandes defesas, impediu que o The Strongest ampliasse o placar. Para obter bons resultados é preciso, afora o futebol, contar com um pouco de sorte, e ela não faltou para o Inter. Em 2012, dentro e fora de campo, o Inter tem conseguido superar os obstáculos que lhe aparecem pela frente, mesmo quando surgem ameaças de crise, como ocorreu após a derrota para o Santos. O Inter prossegue o seu caminho com tranquilidade. Como única "pulga atrás da orelha" está o fato de que, nos dois únicos jogos que fez contra clubes do seu porte, Grêmio e Santos, o Inter perdeu ambos e de forma inapelável, levando um passeio dos adversários. Por enquanto, até que aconteça outro jogo de peso para se testar a potencialidade do time, o Inter realiza uma trajetória sem maiores percalços. Resta esperar para ver o que o futuro reserva, já que o presente se mostra bastante favorável.

Desempenho preocupante

O Grêmio venceu o River Plate de Sergipe por 3 x 1, hoje à noite, no Olímpico, mas seu desempenho esteve longe de ser satisfatório. O Grêmio saiu perdendo, logo no começo do jogo, e custou a conseguir empatar. O primeiro tempo terminou com o placar parcial de 1 x 1, ainda que o River Plate tivesse ficado com um jogador a menos desde os 36 minutos, devido à expulsão de Lelê, que havia sido o autor do gol do clube sergipano. O segundo gol do Grêmio demorou a sair, e o terceiro foi fruto de um desvio na barreira na cobrança de uma falta. Mesmo tendo avançado na Copa do Brasil, o Grêmio preocupa. Se repetir o futebol jogado nas partidas contra o modesto clube de Sergipe, o Grêmio terá dificuldades até mesmo contra o Ipatinga, seu próximo adversário na competição. As recentes goleadas no Campeonato Gaúcho, apenas comprovam que o Gauchão não serve como parâmetro de avaliação do estágio técnico de um time, pois seu nível de qualidade é muito baixo. As atuações individuais foram muito discretas, praticamente ninguém se destacou. O Grêmio ainda está longe de ser um time confiável.

terça-feira, 20 de março de 2012

Inspeção veicular

Os governos, sejam eles de esquerda ou de direita, estão sempre dispostos a criar novas formas de arrecadação, ou seja, de tungar o bolso do cidadão e contribuinte. Isso fica evidente, mais uma vez, com o projeto de inspeção veicular que o governo do Rio Grande do Sul pretende implantar. A proposta, de tão polêmica que é, não conseguiu sequer o apoio unânime da base do governo na Assembléia Legislativa. O líder da bancada do PSB, partido da base aliada, deputado Heitor Schuch, por exemplo, declarou o seguinte: "Sou contra a inspeção veicular. Viramos reféns de coisas criadas em Brasília". Schuch lembrou que há uma lei em vigor que isenta veículos com mais de 20 anos de fabricação do pagamento de IPVA. "Estes carros não vão passar na inspeção. E irá prejudicar muitos moradores do interior que usam seu carro para trabalhar. Como essas pessoas vão continuar sua atividade profissional?", questionou Schuch. O deputado tem razão. Encoberto pelo manto demagógico e politicamente correto de retirar de circulação carros velhos, que, alegadamente, poluem o ambiente e causam mais acidentes, cria-se uma nova forma de arrecadação compulsória. A adequação às exigências da inspeção veicular, por implicar em altos custos, será inviável para muitas pessoas, determinando que as mesmas fiquem impossibilitadas de manter seu meio de condução ou, até mesmo, como disse o deputado Heitor Schuch, seu instrumento de trabalho. O líder da bancada do PDT, deputado Gérson Burmann, fez uma manifestação que resume bem a situação. Disse Burmann: "Expressamos para o governador que, do jeito que está o projeto, nós votaremos contra. Já temos o IPVA e uma série de estradas pedagiadas, não necessitamos de mais um custo para a população". A colocação de Burmann é irretorquível. Chega de assaltar o bolso do cidadão. Esperemos que os deputados mantenham suas posições, apesar das óbvias pressões que serão feitas pelo governo, e rejeitem a inspeção veicular.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O fim de uma novela patética

Com a assinatura de contrato entre o Inter e a construtora Andrade Gutierrez, na manhã de hoje, chegou ao final a patética novela da reforma do estádio Beira-Rio para a Copa do Mundo de 2014. Um enredo grotesco, marcado por um erro inicial que teimou-se em não corrigir. Esse erro, que acarretou toda a ópera bufa que se seguiu, foi a indicação do Beira-Rio para ser o estádio de Porto Alegre na Copa. Um tremendo equívoco! Indicou-se um estádio velho, que necessita de várias adaptações para se enquadrar nas exigências da Copa, em detrimento de um novíssimo, do Grêmio, inteiramente projetado dentro dos padrões da Fifa, que será inaugurado em novembro de 2012. Um estádio maior, moderno, mais confortável, foi deixado de lado em favor de outro que, à época da realização da Copa, terá completado 45 anos de sua inauguração! Como costuma acontecer no Brasil, o que menos se levou em conta em tal escolha foi o bom senso. Aspectos clubísticos, políticos, rivalidades provincianas, se sobrepuseram aos interesses maiores da cidade, do país, e, principalmente, da Copa. Em função da opção equivocada, Porto Alegre já perdeu a oportunidade de ser uma das sedes da Copa das Confederações, que se realizará em 2013. Se tudo der certo, a reforma do Beira-Rio será concluída até 31 de dezembro de 2013, apenas seis meses antes da Copa. O novo estádio do Grêmio, que será inaugurado em novembro desse ano, permitiria, caso escolhido, que até mesmo a Copa das Confederações tivesse jogos em Porto Alegre. Os argumentos em favor da escolha do Beira-Rio são todos inconsistentes e inconvincentes, variando do pífio ao ridículo. Com o desfecho de hoje, Porto Alegre e a Copa, certamente, foram lesadas. No episódio, como costuma acontecer no Brasil, alguns poucos ganharam, e quase todos perderam.

sábado, 17 de março de 2012

O esperneio dos reacionários

A história não anda para trás, ela segue um avanço constante. Ao longo do tempo, contudo, muito choro e ranger de dentes ocorre pela ação dos reacionários, aqueles que tem a ilusão de que podem, com sua força, influência, arrogância e violência, deter a marcha do tempo. No Brasil de hoje, os reacionários estão, novamente, colocando as manguinhas de fora. Tudo porque, a sociedade brasileira caminha para eliminar velhas práticas e privilégios incompatíveis com um país democrático. Os militares, por exemplo, voltaram a rugir, devido a formação da Comissão da Verdade e do desejo do cidadão brasileiro de ver, finalmente, passado a limpo o período abjeto do regime militar com seus crimes hediondos. Argumentam as vozes do atraso de que houve uma anistia ampla, geral e irrestrita para ambos os lados que se defrontaram durante a pútrida ditadura militar e que não há o que ser revisto. Há sim, e a Argentina e o Uruguai já nos mostraram o caminho. O país, não pode, mais uma vez, se dobrar aos interesses dos democraticidas. Devemos enfrentá-los e seguir, resolutamente, em frente, fazendo a necessária justiça em relação ao mais trágico acontecimento da vida política brasileira. Outra manifestação evidente de reacionarismo, ocorre com os que não aceitam a retirada de crucifixos de tribunais, salas de audiência e outros espaços semelhantes. Alegam perseguição religiosa, desconsideração para com as crenças e costumes do povo, e outras bobagens de igual teor. Pura balela! O Brasil é um país laico. Se é verdade que o país assegura plena liberdade de culto, por outro lado, não há uma religião oficial. Sendo assim, qualquer simbologia colocada na parede de orgãos oficiais, representa um favorecimento indevido a determinadas confissões religiosas. Também nesse caso, espero que não haja qualquer recuo em função do barulho causado pelos conservadores. Até porque, recuos dessa ordem só atrasam, mas não impedem os avanços inevitáveis da história. O lado bom de tudo isso é que tamanha agitação das forças retrógradas só demonstra que o Brasil está caminhando na direção de ser um país mais justo e menos hipócrita. Já estava mais do que na hora disso acontecer.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Previsível

A vitória do Inter sobre o The Strongest, ontem á noite, no Beira-Rio, pela Libertadores, ficou dentro do prevísivel. Nem mesmo a goleada de 5 x 0 causa qualquer surpresa, pois o adversário, ao contrário do que indica seu nome, o mais forte, em inglês, é muito fraco. Portanto, o resultado em nada altera as projeções que se fazem sobre as possibilidades de classificação no grupo. O jogo da semana que vem entre os mesmos clubes, dessa vez em La Paz, é decisivo. Se o The Strongest ganhar sua terceira partida em casa, passa a ser candidato à classificação. O Inter, se empatar, fica com a classificação encaminhada e, se vencer, praticamente garante a ida para as oitavas de final. Não há, assim, razões para maior entusiasmo diante da goleada obtida ontem. Por ter sido contra um adversário fraco, nada prova, nem tem o poder de apagar os efeitos de maus resultados anteriores. O que sobra de bom mesmo do jogo é a confirmação de que Leandro Damião, que ontem marcou três gols, desencantou e voltou à sua antiga forma. Sem dúvida, uma notícia bastante animadora. A classificação, contudo, segue em aberto. Esperemos pelos próximos jogos.

terça-feira, 13 de março de 2012

A saída de Ricardo Teixeira

Conforme vinha sendo especulado há muito tempo, Ricardo Teixeira renunciou ao cargo de presidente da CBF. Após um pedido de licença temporária do cargo, feito na quinta-feira passada, ontem veio a saída definitiva. Teixeira caiu pela soberba que acomete os muito poderosos. Subestimou a força dos seus opositores e acabou numa situação insustentável. Numa entrevista concedida, em 2011, à revista "Piauí", Teixeira disse não ligar para quem o criticava e que, enquanto tivesse o apoio da Rede Globo, não temia nada nem ninguém. Era clara sua intenção de permanecer como presidente da CBF até 2015 para, fortalecido por uma Copa do Mundo realizada no Brasil, e tendo, talvez, a Seleção Brasileira como campeã, alçar-se a condição de substituto de Joseph Blater como presidente da Fifa. Deu tudo errado. Denúncias de corrupção envolvendo Teixeira foram publicadas no exterior, o que causou um impacto bem maior do que as que ficavam restritas à imprensa brasileira. Blater, antes seu aliado, passou a hostilizá-lo, tentando salvar a própria pele. A presidente Dilma Roussef, ao contrário de seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva, jamais escondeu não gostar de Teixeira, e sempre se recusou a recebê-lo. Com todo esse cerco contra si, Teixeira, finalmente, capitulou, alegando problemas de saúde. Porém, que ninguém se iluda. Com ou sem problemas de saúde, Ricardo Teixeira levará uma vida tranquila nos Estados Unidos, para onde deverá se transferir, longe dos seus detratores e sem ter de pagar por seus deslizes. Nada deverá mudar, também, no futebol brasileiro. O novo presidente da CBF, José Maria Marin, representa uma linhagem de dirigentes esportivos de péssima reputação. Mudam os nomes, mas as práticas continuarão as mesmas.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Vitórias em boa hora

As vitórias obtidas por Grêmio e Inter no fim de semana foram extremamente convenientes para o momento vivido pelos dois clubes. No sábado, pelo Campeonato Gaúcho, o Inter ganhou do Santa Cruz, por 2 x 1, em Santa Cruz do Sul, jogando com o time titular. A vitória no Gauchão serviu para acalmar o ambiente, que ficara bastante tenso após a derrota para o Santos. Tinga e Dagoberto saíram jogando, se desculparam publicamente com o técnico Dorival Júnior e, assim, o Inter vai, pelo menos aparentemente, num clima de entendimento para o jogo de amanhã, no Beira-Rio, contra o The Strongest, pela Libertadores. O único prejuízo sofrido pelo Inter contra o Santa Cruz foi a lesão muscular de D'Alessandro, logo no início do jogo, que o deixará fora da partida de amanhã. O fato mais lastimável do jogo, contudo, foi a atitude do árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima, que, aos 7 minutos do primeiro tempo, deu apenas cartão amarelo para Leandro Damião, autor de uma entrada criminosa sobre um adversário, num lance claro de expulsão. Com sua absurda decisão, o árbitro influiu diretamente no resultado. Caso o jogador tivesse sido expulso, como deveria, toda a história da partida, que então estava empatada em 0 x 0, poderia ser diferente. O Inter teria ficado com um jogador a menos em campo, e Leandro Damião não teria marcado o segundo gol do time. O erro de Jean Pierre Gonçalves Lima é do tipo que exige uma punição severa para o árbitro. Por outro lado, no domingo, o Grêmio jogou uma bela partida, apenas quatro dias depois da horrorosa apresentação contra o River Plate de Sergipe, em Aracaju. Goleou o Novo Hamburgo, no Olímpico, por 5 x 0, com muitos destaques individuais. Mesmo sabendo-se que o Grêmio não jogou contra um grande clube, a vitória alcançada ontem não pode ser desprezada, pois o adversário foi o vice-campeão do primeiro turno do Campeonato Gaúcho, no qual havia perdido apenas um jogo, para o Inter, por 1 x 0, e tinha a defesa menos vazada da competição. Ao impor ao Novo Hamburgo, de tão boa campanha, sua segunda derrota no Gauchão, e por goleada, o Grêmio deixou seus torcedores mais confiantes, o que foi reforçado por atuações individuais muito boas como as de Marco Antônio, André Lima, Kléber e, principalmente, Bertoglio, que, sem ter jogado ainda nenhuma partida inteira pelo Grêmio, já se tornou, justificadamente, ídolo da torcida, e terá de ser titular do time, mais cedo ou mais tarde, de qualquer maneira. Com as vitórias do fim de semana, Grêmio e Inter afastaram, temporariamente, as nuvens negras que os cercavam, e poderão encarar com tranquilidade os próximos jogos.

sábado, 10 de março de 2012

A eleição em São Paulo

Há poucos dias, José Serra, depois de muitas pressões, decidiu concorrer a prefeito de São Paulo, nas eleições de outubro próximo. Candidato a presidente da República derrotado em duas eleições, Serra já foi prefeito da capital paulista e governador do estado de São Paulo. A pressão para que concorresse se deu pela ideia de seus correligionários de que ele é o único nome capaz capaz de manter o domínio do PSDB em terras paulistas. Estado mais importante do país economicamente, São Paulo ainda não se rendeu ao PT, que sonha em conquistar o poder nessa unidade da federação para consolidar o seu projeto no plano nacional. O PT está jogando todas as fichas em Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, para ser o novo prefeito de São Paulo e abrir caminho para que o partido vença também a eleição para governador, dois anos mais tarde. Como se vê, uma eleição municipal está sendo tratada como trampolim para outros pleitos, de maior magnitude. Os projetos de poder dos partidos levam a essas situações, em que uma eleição está encadeada com a próxima, num permanente jogo do poder.  A dúvida que fica é a de quando os políticos se dedicam, efetivamente, a administrar. Os conchavos, acordos, coligações, alianças e outras coisas do gênero parecem tomar todo o tempo dos candidatos e governantes. Serra já teria prometido que, caso eleito, permanecerá como prefeito de São Paulo durante todo o mandato, sem renunciar ao cargo para concorrer em outra eleição, mas quem pode garantir que isso vá acontecer? Porém, tal quadro não é exclusividade de São Paulo. Em Porto Alegre, a eleição para prefeito também está sendo encaminhada com os olhos voltados para o pleito de governador do Rio Grande do Sul. Ora, eleições para prefeito deveriam se ater a questões mais práticas de cada cidade, já que o município é onde as pessoas efetivamente vivem, ao contrário de estados e do país, que representam abstrações. Assim, o eleitor gostaria de ver, em primeiro plano, a preocupação dos candidatos com assuntos como soluções para o trânsito das cidades, melhorias na qualidade de vida, novas obras, mais investimentos em saúde e segurança, dentre tantos outros que o afetam mais de perto. Ao contrário disso, o que se vê é as eleições para prefeito servirem de pretexto e palanque para projetos políticos mais ousados. Nessa, como em tantas outras situações da política, o cidadão é o grande perdedor.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A reafirmação da arte no futebol

Passadas as repercussões do dia seguinte aos jogos de quarta-feira, que se fixam mais nos resultados, é hora de se destacar o que de magnífico ocorreu anteontem, isto é, as atuações espetaculares de Neymar e Messi. Para quem, como eu, é adepto do futebol arte, a quarta-feira foi um bálsamo. Começou com Messi fazendo cinco dos sete gols do Barcelona na goleada de 7 x 1 sobre o Bayer Leverkusen. Messi e o Barcelona são tão bons que aplicaram uma goleada humilhante num time que está longe de ser desprezível. O Bayer Leverkusen não é nenhuma superpotência do futebol, mas não é time para sofrer uma derrota tão fragorosa. Porém, Messi é, inequivocamente, o melhor jogador do mundo. O Barcelona, por sua vez, é o melhor time do mundo. Dessa forma, mesmo bons times, por vezes, não conseguem impedir uma avalanche de gols como a ocorrida no Nou Camp. Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre a extensão da qualidade de Messi, certamente, já não a tem mais. Messi ainda está longe de poder ser tido como melhor que Pelé, mas, dependendo do que vier a fazer em sua carreira, poderá superar Maradona. Para tanto, bastará que tenha grandes desempenhos, também, pela Seleção da Argentina. Em termos da trajetória em clubes, Messi já está na frente.. No entanto, o dia mágico para o futebol não se resumiu a Messi. Neymar também deu o seu show particular, jogando contra o Inter na Vila Belmiro. Fez todos os gols da vitória do Santos por 3 x 1, dois deles de placa. Os feitos de Neymar e Messi tem de ser exaltados porque significam a reafirmação da arte no futebol, a prova de que o talento individual se sobrepõe a esquemas, marcações duras e quaisquer outros recursos. Os apologistas do futebol de resultados não vão dar o braço a torcer, mas Neymar e Messi provaram que a arte, no futebol, será sempre um fator preponderante, e que, como diz o slogan de um prêmio de publicidade, nada substitui o talento.

quinta-feira, 8 de março de 2012

As dores de cada um

Ontem à noite, o Grêmio ganhou, o Inter perdeu. Porém, as coisas não são tão simples quanto parecem, pois quem venceu tem tantos motivos para estar preocupado como quem foi derrotado. Comecemos pelo Inter, que jogou primeiro. Como era de se esperar, o esquema escolhido pelo técnico Dorival Júnior, com três volantes, chamou o Santos para cima do Inter, causando uma derrota inapelável, que teve, até, gritos de "olé" da torcida santista. Neymar provou que os craques continuam a fazer a diferença, não há esquema tático, marcação severa ou qualquer outro fator que possa deter um jogador diferenciado. O Santos sobrou no jogo, da mesma forma como havia acontecido com o Grêmio no Gre-Nal, o que é preocupante para o Inter, pois, nos únicos jogos do ano contra clubes do seu porte, fracassou rotundamente. O trabalho de Dorival Júnior, a partir disso, certamente começará a sofrer constestações. O Grêmio só foi melhor no resultado, uma vitória, de virada, por 3 x 2. O futebol apresentado, contudo foi horroroso, deixando os torcedores apavorados. Só Kléber jogou bem. Os demais jogadores do Grêmio variaram entre o ruim e o péssimo. Victor continua a falhar, mas continua com sua titularidade cativa. Naldo não tem condições de jogar no Grêmio. Fernando não retomou sua boa fase. O time, com exceção de Kléber, mostra momentos de muita apatia. O técnico Vanderlei Luxemburgo deve estar assustado com o tamanho da tarefa que terá pela frente para fazer do Grêmio um bom time. Por motivos diversos, hoje, Grêmio e Inter estão às voltas com suas dores.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Desafios diferentes

Grêmio e Inter terão, hoje á noite, compromissos importantes, mas de grau de dificuldade bem diferente. O Inter jogará antes, às 19h30min, contra o Santos, na Vila Belmiro, onde jamais venceu. Uma partida importantíssima para os dois clubes. O Santos perdeu seu jogo de estréia na Libertadores e não pode tropeçar  novamente. O Inter, que já ganhou uma partidfa na competição, se não perder hoje poderá estar encaminhando a classificação. O técnico Dorival Júnior, no entanto, pode ter se equivocado na escalação. Ao colocar três volantes no meio de campo, retirando Dagoberto do time, pode estar chamando o Santos para o seu campo, o que é praticamente fatal contra um time que tem Paulo Henrique Ganso e Neymar. Melhor seria manter Dagoberto que, entre outras qualidades, é um excelente puxador de contra ataques. Em princípio, por jogar em casa, e pelos fatos acima referidos, o Santos é o favorito para o jogo. Bem diferente é a situação do Grêmio. Joga às 22 horas, contra o River Plate de Sergipe, em Aracaju.  Pela enorme distância técnica e de grandeza entre os dois clubes, o Grêmio é franco favorito, podendo, até mesmo, eliminar o segundo jogo, caso vença por uma diferença de dois ou mais gols. Porém, mesmo que não o faça, não deixará de se classificar, no segundo jogo. Os grandes desafios do Grêmio, só surgirão mais adiante, ao contrário do Inter que terá, hoje á noite, o seu jogo mais importante, até aqui, em 2012. Tranquilidade de um lado, nervosismo de outro. Resta saber se os resultados corresponderão a esses sentimentos prévios.

terça-feira, 6 de março de 2012

As confusões da Copa

Motivos de força maior levaram-me a ficar por três dias sem postar novos textos. Feito o esclarecimento, abordo mais um fato relacionado à Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Refiro-me ao bate-boca entre o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Valcke até pode ter razão nas coisas que reclama, mas o faz de forma mal educada. Com isso, justifica a posição do governo brasileiro de não aceitá-lo mais como interlocutor junto à Fifa. O que mais esse caso demonstra, contudo, é que poucas vezes se viu uma organização de Copa do Mundo tão confusa. Há atraso na construção e reforma de estádios, nas obras viárias, cobranças da Fifa, explicações do governo e quase nenhuma mobilização popular, o chamado "clima de Copa". Some-se a tudo isso o fraquíssimo futebol que a Seleção Brasileira vem jogando e a perspectiva é de que a Copa de 2014, em vez de uma grande celebração, se torne um evento melancólico. Uma providência, ao menos, poderia ser tomada para alterar esse panorama. Seria a imprensa brasileira abraçar a causa da Copa. Não é mais hora de se marcar posição contrária a realização da competição. Isso só atrapalha, não levaa lugar nenhum. O Brasil tem de, definitivamente, envolver-se com a Copa. Até agora, isso não aconteceu. A Copa não pode ser encarada como um problema, mas, sim, como uma magnífica festa que o Brasil terá a honra de sediar.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A derrota do bom senso

Em toda essa questão envolvendo a reforma do estádio Beira-Rio para sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, o grande derrotado foi o bom senso. O que começa errado, em geral, não termina bem. A escolha do Beira-Rio para ser o local dos jogos da Copa em Porto Alegre, por si só, já foi um equívoco. Trata-se de um estádio que, quando da realização da competição, já terá completado 45 anos de sua inauguração. As pessoas de boa memória devem se lembrar que, há alguns anos, chegou a ser cogitada a demolição do estádio, que já estaria obsoleto. A ideia não prosperou e o Inter começou a fazer reformas no sentido de tornar o Beira-Rio mais moderno e confortável. Para se ajustar às necessidades de uma Copa do Mundo, no entanto, as exigências são muito maiores, daí o porquê de se fazer novas obras. Por questões de natureza burocrática, tais obras estão paralisadas há dez meses, o que já fez com que Porto Alegre perdesse a chance de sediar jogos da Copa das Confederações, gerando incontáveis prejuízos para a cidade. O que é difícil de explicar é porque, afinal, o Beira-Rio foi escolhido? Sei que já abordei esse aspecto do assunto em outras oportunidades, mas cabe a reiteração. A Fifa sabia que o Grêmio iria construir um novo estádio, inteiramente dentro dos rigorosos e sofisticados padrões por ela estabelecidos. O fato de que, quando o Brasil foi indicado como sede da Copa de 2014, o estádio gremista ainda não tivesse saído do papel não serve como justificativa para a escolha feita. A designação da sede da Copa ocorreu em 2007, sete anos antes da competição, tempo mais que suficiente para a construção de um estádio. Tanto é verdade que,.na época, o futuro estádio do Corinthians não estava nem no papel, sua construção começou bem mais tarde que a do novo estádio do Grêmio e, ainda assim, ele irá receber jogos da Copa. A conhecida força do Inter nos bastidores, e a ação de políticos que torcem para o clube, fizeram com que se insistisse na opção pelo Beira-Rio, numa atitude de inexplicável insensatez. O que deveria ter sido tratado levando em conta os interesses maiores do país e da competição foram reduzidos a uma questão paroquial em que prevaleceu o clubismo mais provinciano. A intervenção da presidente Dilma Roussef, alegando sua condição de torcedora do Inter e dando um "carteiraço" na construtora para obrigá-la a retomar as obras foi um fato deprimente, típico de uma república das bananas, e que nos faz pensar as piores coisas sobre as relações promíscuas existentes entre empresas da construção civil e o governo federal. Algumas pessoas, certamente, estão se sentindo vitoriosas com o desfecho dos fatos. Porém, Porto Alegre, o Rio Grande do Sul, a Copa do Mundo e, principalmente, o bom senso, foram inapelavelmente derrotados.

quinta-feira, 1 de março de 2012

O ministro da Pesca

Por mais que estejamos acostumados aos desatinos na atividade política, às suas estranhas composições e conchavos, feitos em nome da "governabilidade", certos fatos ainda causam espanto. A presidente Dilma Roussef nomeou o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) como o novo ministro da Pesca. A pasta em questão, por si só, é uma dessas excentricidades que explicam o porquê do governo brasileiro possuir 38 ministérios. A prova da inutilidade do ministério da Pesca é o perfil dos seus titulares, desde que foi criado, que não tem qualquer afinidade com a atividade pesqueira. Na verdade, esse ministério, como tantos outros, serve apenas para barganha de cargos com os partidos da chamada "base aliada". A nomeação de Marcelo Crivella, segundo se especula, é parte de um acordo entre PT e PRB visando a eleição para prefeito de São Paulo. Desconfio, no entanto, que possa ser mais do que isso. O PRB é um partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Marcelo Crivella, aliás, é integrante. Sua nomeação como ministro pode ser um meio de conter a insatisfação das bancadas evangélicas com a recente indicação de Eleonora Menicucci para o cargo de Secretária de Políticas para as Mulheres. A investidura de Eleonora causou revolta entre os evangélicos já que a secretária é favorável a legalização do aborto. Particularmente, não sou favorável à legalização do aborto. Minhas razões para assim pensar, contudo, nada a tem a ver com dogmas ou preceitos religiosos. Essa é uma questão que tem de ser decidida, maduramente, pela sociedade brasileira. O governo não pode, em nome de interesses políticos e eleitoreiros, ser refém da pressão de grupos religiosos, sejam eles quais forem. O Brasil é um país laico, e os interesses do povo brasileiro não podem ser submetidos a visão estreita e sectária de qualquer vertente religiosa. Até para o pragmatismo há limites, e Dilma Roussef, ao que parece, os está rompendo.