quarta-feira, 18 de abril de 2012

Panfletarismo

A ânsia de setores da imprensa brasileira de desgastar a imagem do governo, e permitir a retomada do poder pelas forças conservadoras, está atingindo níveis de histeria. Inconformados com o terceiro governo consecutivo comandado por um partido que odeiam, o PT, tais setores partiram, definitivamente, para o ataque explícito, com golpes abaixo da linha da cintura. A revista "Veja", sempre ela, em sua edição dessa semana, traz uma matéria intitulada "Eles querem apagar o mensalão". O texto, assinado por Daniel Pereira e Hugo Marques, não tem nenhum cunho jornalístico, é apenas uma peça panfletária. Já na abertura da matéria, os autores escrevem: "Josef Stalin, o ditador soviético ídolo de muitos petistas, considerava as ideias mais perigosas do que as armas e, por isso, suprimiu-as, matando quem teimava em manifestá-las". Com tal início, dá para imaginar o que vem adiante. Trata-se de um texto raivoso, absurdamente parcial, que imputa toda a espécie de vícios e malfeitos às forças governistas e estabelece como baluartes da virtude os que se aninham no campo político contrário. Assim, a CPI mista que está por ser instalada para investigar o caso envolvendo o senador Demóstenes Torres, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, e suas conexões no meio político, é tratada como uma cortina de fumaça para encobrir a discussão sobre a proximidade do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do chamado "mensalão", que a revista qualifica como tendo sido "o maior escândalo de corrupção da história brasileira". O tom ardoroso de defesa da visão direitista está presente em todo o texto, mas, em determinados trechos, atinge uma exaltação maior. Um exemplo é o que se segue: "Bem ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e vigilante, um Congresso eleito pelo voto popular e um Judiciário que, apesar de fortemente criticado recentemente, tem demonstrado independência e vigor doutrinário". Faltou, apenas, aos autores do texto, dizer que o Brasil tem um governo que também foi eleito pelo voto popular, com índices de aprovação históricos. Não será com discursos panfletários travestidos de matéria jornalística que os atuais governantes serão apeados do poder. Para isso, será necessário oferecer ao eleitor uma opção melhor, o que, até o momento, não se vislumbra no horizonte da política brasileira.