sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A empulhação da cultura alternativa

O cantor, compositor e líder do grupo musical Skank, Samuel Rosa, deu uma declaração com a qual me identifiquei totalmente. Samuel afirmou que não acredita no jeitão "blasé" de quem diz que faz um trabalho experimental, alternativo, e dá de ombros para o fato de as pessoas gostarem ou não. Para ele, "a resposta de quem ouve o som que você faz é condição básica!". Ele considera, também, que toda e qualquer grupo musical tem que ter este respaldo, pois é uma maneira de mostrar respeito pelo seu público. O assunto pode parecer irrelevante, para alguns, mas me toca de maneira especial. Nunca engoli a chamada "cultura alternativa". Com o argumento de que fazem um trabalho que não se encaixa na "ditadura da mídia" e não segue as determinações da "indústria cultural", o que esses "artistas alternativos" fazem, quase sempre, é tentar nos empurrar música, poesia e literatura de baixíssima qualidade. Como o que nunca falta no mundo são pessoas incautas, tais artistas conseguem formar em torno de si um grupo, pequeno mas ruidoso, de admiradores, que exaltam a autenticidade e a profundidade de um trabalho que "não se dobra às imposições da cultura de massa". Claro que muitas obras de péssimo nível são transformadas em fenômenos de vendagem pela força avassaladora da mídia. Porém, a ideia de que a recíproca seja verdadeira não se sustenta. Não há produção artística de boa qualidade que não receba o reconhecimento do público. Aqueles que não conseguem atingir o grande circuito para mostrar sua obra, não são vítimas da má vontade da indústria cultural, nem autores de um trabalho que só pode ser captado na sua essência por pessoas mais sensíveis. Sua situação se deve, tão somente, a falta de qualidade daquilo que criam, o que os afasta da maioria do público, restringindo-os à admiração de uns poucos que acham que o apoio a tais artistas caracteriza uma demonstração de independência intelectual em relação à cultura de massas. Pura pretensão. Como diz a célebre música "Nos Bailes da Vida", de Mílton Nascimento e Fernando Brant, "todo o artista tem de ir aonde o povo está". O resto é empulhação.