quarta-feira, 11 de maio de 2011

A estação do metrô

Desde que Pedro Álvares Cabral chegou por aqui, o Brasil sempre se mostrou um país marcado pela desigualdade. No nosso amado solo pátrio, a sociedade sempre se viu dividida entre os muitos que quase nada tem e os poucos que quase tudo possuem. Assim, ao longo da história do país, vicejou a idéia do "quem pode mais chora menos". Trata-se de algo tão arraigado no jeito de ser do Brasil que, apesar de todas as transformações sociais ditadas pela passagem do tempo, permanece imutável. Mesmo nos maiores centros, onde, teoricamente, a sociedade deveria ter uma mentalidade mais arejada, a lei do mais forte segue prevalecendo. Um exemplo disso é o que está ocorrendo em São Paulo, a maior cidade do Brasil. Uma estação do metrô prevista para o bairro de Higienópolis, reduto de pessoas de bom poder aquisitivo, não deverá mais ser construída, por pressão de moradores do local. Alegam os moradores de Higienópolis que uma estação do metrô no bairro traria consigo uma série de inconvenientes como, por exemplo, o aumento no fluxo de pessoas que circulariam pelo local, quebrando sua tranquilidade, e o aparecimento, considerado indesejável, de vendedores ambulantes. Anteriormente, moradores do Pacaembu, outro bairro de pessoas bem aquinhoadas de São Paulo, também manifestaram contrariedade com a idéia da construção, ali, de uma estação do metrô. O que ocorre em São Paulo não é um fato isolado. Em Porto Alegre, num passado recente, aconteceram situações semelhantes. Na década de 90, quando decidiu-se que a cidade deveria ter um local permanente para os desfiles do Carnaval, onde seria construído um sambódromo, a primeira área sugerida foi junto ao Parque Marinha do Brasil, no bairro Menino Deus. A chiadeira foi enorme. Os moradores do bairro alegaram uma série de inconveniências para impedir a construção do sambódromo, entre elas, a presença, nas proximidades, de uma clínica geriátrica. O curioso é que a referida clínica fica próxima, também, ao estádio Beira-Rio e ao ginásio Gigantinho que, com seus jogos e shows, quebram constantemente a tranquilidade dos velhinhos, enquanto o Carnaval, como se sabe, dura apenas quatro dias a cada ano. Na verdade, o que movia a contrariedade com a construção de um sambódromo no local era, simplesmente o preconceito contra os pobres e os negros, sabidamente majoritários entre os apreciadores dos desfiles carnavalescos. A pressão foi tão forte que, mesmo que o prefeito de Porto Alegre, na ocasião, fosse um homem de esquerda, o atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, a idéia foi deixada de lado e o sambódromo, para satisfação plena dos que querem distância das camadas populares, foi construído no Porto Seco, uma área afastada do centro da cidade, longe das zonas tradicionais do Carnaval e do samba e, principalmente, de difícil acesso. A argumentação de que a construção erguida no Porto Seco seria não apenas para os desfiles carnavalescos, mas sim, uma pista de eventos, onde ocorreriam outras apresentações, era puro engodo. Acontecimentos como os desfiles do Sete de Setembro e da Revolução Farroupilha continuaram a ser realizados na área central da cidade, já que os mesmos não ferem a sensibilidade dos bem nascidos. Tempos mais tarde, já nos anos 2000, o traçado do chamado Conduto Forçado Álvaro Chaves-Goethe, obra subterrânea que visava combater o crônico problema dos alagamentos em determinadas regiões de Porto Alegre, teve de ser parcialmente alterado porque moradores de uma rua do Moinhos de Vento, bairro de classe alta da cidade, não aceitaram que árvores ali existentes fossem removidas. Este é o país em que vivemos. Enquanto milhões de pessoas são ignoradas em seus direitos mais básicos sem que seus protestos sejam ouvidos, os mais bem postos na escala social fazem de tudo para manter seus privilégios e, em geral, tem seus pedidos acolhidos pelos que exercem o poder. O Brasil vem evoluindo em muitos setores, mas continua tendo uma sociedade elitista e autoritária. Enquanto isso não mudar, a idéia de um país próspero e desenvolvido continuará sendo, apenas, uma intenção.