quarta-feira, 30 de março de 2011

Cumprindo tabela

O Inter, na noite de quarta-feira, nada mais fez do que cumprir tabela. No linguajar do futebol é o que se costuma chamar de "jogo jogado". Não havia nenhum resultado possível que não fosse a vitória do Inter sobre um adversário ao qual já havia goleado, fora de casa, por 4 x 1. Um adversário tão modesto que foi rebaixado para a segunda divisão do futebol boliviano! Tão precário é o Jorge Wilstermann, atualmente, que ficou hospedado nos alojamentos do Pedra Branca, de Alvorada, para economizar gastos com hotel. Assim, o Inter goleou novamente o Jorge Wilstermann, dessa vez por 3 x 0. O jogo não pode servir para que se tire nenhuma conclusão sobre a verdadeira potencialidade do Inter, dada a limitação técnica do adversário. Só quando enfrentar times mais qualificados se poderá saber até onde o Inter tem condições de chegar.

Inadmissível

Foi o próprio técnico do Grêmio, Renato, que definiu como inadmissível a forma como o time perdeu para o Juventude, na noite de quarta-feira. O Grêmio terminou o primeiro tempo vencendo por 1 x 0. Sofreu o empate no início do segundo tempo, passou novamente a frente no placar, ficou com um homem a mais em campo devido a expulsão de um jogador do Juventude, passou a dominar inteiramente o jogo e perdeu dois gols feitos. Esse fato, o das chances claras de gol desperdiçadas, pareciam prenunciar que algo de ruim poderia acontecer. Como também disse Renato, o futebol pune quem tem a chance de liquidar um jogo e a desperdiça. No final do jogo, o Grêmio não só não ampliou o resultado, como permitiu a virada do Juventude. Primeiro, com um patético gol contra de Gílson. Depois, com uma bola perdida na saída da defesa, que redundou num chute forte de fora da área, pegando Vítor adiantado. Renato deveria, no entanto, assumir a sua parcela de culpa pelo resultado, pois insiste em escalar Gílson, que além de não jogar bem até fez um gol contra, e escalou Neuton, de péssima atuação, quando deveria ter optado por Mário Fernandes. A insistência com Gílson é incompreensível, já que há a opção de Bruno Collaço ou, até mesmo, a de fazer Lúcio retornar a sua posição de origem. Já quanto a Mário Fernandes, além de ser tecnicamente muito superior a Neuton, sua escalação permitiria que Rafael Marques passasse para o lado esquerdo da zaga, sua verdadeira posição. O fato é que a derrota para o Juventude já é a terceira do Grêmio no Campeonato Gaúcho. As outras duas foram para o Novo Hamburgo e para o Cruzeiro. Em todas elas, o time apresentou um comportamento em campo incompatível com a grandeza do clube. Contra o Novo Hamburgo, no dizer de seu próprio técnico, o Grêmio parecia estar passeando em campo. Na partida contra o Cruzeiro, com um time jovem, correu menos que o adversário, que havia jogado 48 horas antes. Já no jogo contra o Juventude, tendo um homem a mais em campo, deixou de obter uma goleada que se desenhava e permitiu a virada do adversário. Junte-se a isso a derrota, também de virada, para o Atlético Junior de Barranquilla, na Colômbia e o empate medíocre com o León, em Huánaco, no Peru, e se tem um conjunto de atuações preocupantes, que não sinalizam um futuro promissor. Está mais do que na hora de a diretoria do Grêmio cobrar do técnico e dos jogadores a razão de tão seguidos maus desempenhos. Antes que seja tarde demais.

Muitos queriam Adriano

O sempre polêmico centroavante Adriano é outro que está de volta ao futebol brasileiro, contratado pelo Corinthians. Nos últimos anos, sua carreira tem tido altos e baixos devido a seu comportamento fora de campo e a problemas emocionais. No seu clube anterior, o Roma, teve uma péssima passagem, de apenas oito meses, na qual pouco jogou e não marcou nenhum gol, o que culminou com a rescisão de seu contrato. Isso não desestimulou, no entanto, a que vários clubes brasileiros tentassem a sua contratação, conforme revelou seu ex-empresário, Gilmar Rinaldi. Grêmio, Fluminense, Vasco, Atlético Mineiro e Cruzeiro sondaram Rinaldi sobre a possibilidade de contratar Adriano. O empresário recusava as investidas afirmando que Adriano não estava pronto para voltar. Ocorre que, segundo Rinaldi, o ex-jogador Ronaldo Nazário, sem entrar em contato com ele, encaminhou a ida de Adriano para o Corinthians. Gilmar Rinaldi, mostrando-se magoado com a atitude de Ronaldo, deixou de representar Adriano, mas lembrou que, antes do jogador está o ser humano, que precisa completar o seu processo de recuperação física e que a torcida do Corinthians deve levar isso em consideração. Um fato, no entanto, chamou a atenção no relato de Rinaldi. As sondagens que o empresário recebia sobre Adriano partiam sempre de dirigentes, gerentes ou patrocinadores dos clubes. Só no caso do Grêmio ela foi feita diretamente pelo técnico Renato. Mais um dado para alimentar a idéia, sustentada por muitos, de que o poder de Renato, no Grêmio, vai muito além das quatro linhas do gramado.

Recepção apoteótica

O centroavante Luís Fabiano, que voltou para o São Paulo após jogar sete anos na Europa, foi recebido de forma apoteótica no Morumbi, onde 45 mil pessoas aguardavam a sua presença. Trata-se, sem dúvida, de um grande reforço contratado pelo clube, mas chama a atenção um número tão grande de torcedores para assistir apenas a sua chegada, sem que houvesse um jogo a ser realizado. Luís Fabiano é um jogador de qualidade, mas não é um craque de exceção, capaz de justificar tamanha mobilização popular. Mais que o entusiasmo natural de uma torcida pela volta de um ídolo, a recepção dada a Luís Fabiano em sua chegada talvez demonstre o quão carentes estão as pessoas de obterem emoção e satisfação em suas vidas, em geral marcadas pelas dificuldades e falta de perspectivas. O fato reforça, mais uma vez, a capacidade que tem o futebol de canalizar expectativas e aspirações e de mobilizar intensamente as pessoas. Os maís críticos dirão que isso é alienante, que tamanha energia deveria ser empregada em favor de coisas mais consequentes. Porém, ao se envolverem a tal ponto com seus clubes e ídolos, os torcedores só estão em busca, ainda que por via indireta, daquilo que a vida insiste em negar para a maioria, ou seja, a perspectiva da vitória, da glória e a consequente sensação de realização.

terça-feira, 29 de março de 2011

Casamento exótico

A cerimônia de casamento em que os noivos estavam vestidos como os personagens Schreck e Fiona, realizada em Garibaldi, no interior do Rio Grande do Sul, ainda repercute em todo o país. Não pretendo abordar a questão sob o prisma religioso, já que a Diocese de Caxias do Sul, sob cuja jurisdição está o município de Garibaldi, protestou contra o fato e recriminou o padre que oficiou o casamento. Não professo nenhuma religião e, portanto, passo ao largo de tal enfoque. O que me chama a atenção é o nível de infantilização demonstrado pelo casal ao escolher vestir-se como personagens de um desenho animado. O poder da chamada indústria cultural é, sabidamente, muito grande, mas em se tratando de pessoas em idade adulta, tal atitude beira o patético. Nota-se, também, mais uma vez, a influência do entretenimento de massa americano sobre os brasileiros. Para quem analisa pela questão religiosa, a cerimônia talvez seja considerada desrespeitosa. Para quem olha pelo senso comum, parece mais próxima do rídiculo.

Rudi Armin Petry

O Grêmio perdeu, na tarde de hoje, um dos seus dirigentes históricos, Rudi Armin Petry. Presidente do clube nos anos de 66 e 67, Petry marcou época no futebol gaúcho pelo modo como se dirigia a torcida em suas entrevistas e por ter cunhado a expressão "assuntos de economia interna" para se referir a temas que não deviam transpor os muros do clube. Sua influência foi tão marcante que Fernando Carvalho, considerado o maior presidente da história do Inter, revelou ter se inspirado nele ao usar expressões como "boa tarde a todos, em especial a torcida do Internacional", tal e qual Petry fazia em relação a torcida do Grêmio. Petry teve uma longa existência, de 91 anos. Mesmo depois de sua passagem pela presidência continuou atuando na vida do clube, tendo, inclusive, integrado o departamento de futebol já com a idade de 84 anos. Foi um dos grandes vultos do futebol gaúcho.

Homofobia e racismo

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) é uma figura conhecida no parlamento brasileiro por suas posturas fascistas e antidemocráticas. Defensor ardoroso da ditadura militar, adota, permanentemente, um discurso marcado pelo machismo e arraigado conservadorismo. Dessa vez, no entanto, Bolsonaro extrapolou. Em participação num quadro do programa "CQC", da Rede Bandeirantes de Televisão, levado ao ar na noite de ontem, respondendo a uma pergunta, Bolsonaro afirmou que não corria o risco de ter um filho homossexual por ser um pai muito presente. Numa outra pergunta, feita por Preta Gil, sobre se admitiria que um filho seu casasse com uma negra, Jair Bolsonaro disse que não iria discutir promiscuidade com a cantora. Numa só ocasião, Bolsonaro mostrou-se homófobo e racista e seus destemperos verbais não podem mais ser tolerados. Preta Gil já declarou que pretende processá-lo, no que está muito certa. A Câmara dos Deputados não pode ficar indiferente ao fato e deve encontrar a forma adequada de punir Bolsonaro. Declarações tão odiosas e intolerantes não podem passar em branco. O que não consigo entender, porém, é como alguém que defende idéias tão reacionárias e torpes pode obter sucessivas reeleições. Bolsonaro é a prova de que as forças que levaram o país a passar por 21 anos de uma ditadura cruel, que, em seus porões, torturou e matou quem se lhe opunha, continuam atuantes. Saber que, no caso de Bolsonaro, isso se dá através do voto, é incompreensível.

O fim de uma luta

A morte do ex-vice-presidente José Alencar, na tarde de hoje, é o desfecho inevitável de uma luta inglória contra uma doença implacável. Era apenas uma questão de tempo. Não havia como Alencar vencer em definitivo uma batalha contra o câncer que durou quase quinze anos. Suas recorrentes internações e muitas cirurgias deixavam a todos espantados, pois Alencar seguia lutando, não desistia. Porém, nem toda a vontade de viver do ex-vice-presidente, nem os muitos recursos médicos a que uma pessoa do seu nível tem acesso, foram capazes de mudar o final previsível dessa história. José Alencar se foi, deixando uma trajetória de sucesso como empresário e político, mas, mais do que tudo, uma demonstração poucas vezes vista de tenacidade e de destemor diante de tamanha provação a que foi submetido. Como todos nós, Alencar tinha defeitos e limitações, mas seu final de vida, sua saída de cena, foi dos mais dignos. Lutou pela vida até o limite de suas forças, na busca de uma vitória que sabia ser inatingível. Não jogou a toalha. Permaneceu no ringue. Deixou o exemplo de que não importa o quão adversa seja uma situação, deve-se perseverar na busca da superação.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O público e o privado

Os veículos da grande imprensa brasileira tem se referido com insistência, nos últimos dias, a tentativa do governo federal de destituir o presidente da Vale, a maior empresa privada brasileira, Roger Agnelli. A suposta intenção é tratada como algo quase criminoso, pois tais orgãos de imprensa julgam ser uma indevida interferência estatal na esfera privada. Os defensores do neoliberalismo acham, por certo, muito natural que a Vale, antes estatal, tenha sido uma das tantas empresas privatizadas pelo governo FHC, em troca de moedas podres, num atentado ao patrimônio público. Agnelli é exaltado, por exemplo, pela revista Veja, na edição dessa semana, como "um executivo focado no negócio e pouco permeável a ingerências governamentais". A revista argumenta que, por diversas vezes, Agnelli, teria contrariado os "cardeais petistas".Um dos motivos de tal contrariedade foi a demissão de 1300 funcionários da Vale no auge da crise financeira mundial. Claro, pela singular lógica neoliberal, o governo deveria ficar indiferente a tal volume de demissões, pois o assunto não lhe diz respeito. A publicação acrescenta que  o governo tem a mineradora como uma "indutora do desenvolvimento", no que denomina  de velho linguajar estatizante, mas que a Vale insiste em cumprir seu destino de empresa privada e fazer o que é bom para os acionistas. Na maneira privada de enxergar o mundo, uma empresa tem é que gerar lucros e remunerar seus acionistas. Jogar 1300 funcionários no desemprego é algo, por certo natural, faz parte do negócio. Pois quero dizer que o governo faz muito bem em interferir na Vale. Não me sensibilizam os argumentos de que Agnelli mais que decuplicou o lucro da empresa e multiplicou seu valor de mercado por quase vinte, tornando-a a segunda maior mineradora do mundo, como afirma a mesma revista Veja. Empresas como a Vale tem sim de serem indutoras do desenvolvimento, não beneficiando apenas acionistas privados, mas servindo como mola propulsora do crescimento do país. Por isso mesmo, o governo deveria ir mais além e não apenas influir para a troca do presidente da empresa. Deveria reestatizá-la, restituindo um patrimônio de todos os brasileiros.

A lei ao pé da letra

Permanece, ainda, em todos os meios de comunicação, o assunto da aplicação da chamada "Lei da Ficha Limpa". Como se sabe, há alguns dias, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a referida lei não pode ser aplicada em relação à eleição de 2010. O argumento utilizado é o de que a aplicação da lei já no ano de 2010, feriria o que estabelece o artigo 16 da Constituição, segundo o qual mudanças nas regras valem apenas na eleição do ano seguinte ao da promulgação da lei. Esta foi a posição defendida pelo relator da matéria, ministro Gilmar Mendes. A votação estava empatada em 5 x 5, até que o mais novo integrante da casa, ministro Luiz Fux, desempatou, votando com o relator. Assim, decidiu-se que a Lei da Ficha Limpa não é aplicável em relação à eleição do ano passado. Em sua argumentação, Gilmar Mendes disse que havia o risco de se abrir um perigoso precedente e de que Hitler e Mussolini também se basearam em alguns princípios éticos para justificar toda sorte de abuso. Para recordar os mais esquecidos, Gilmar Mendes é o mesmo ministro que livrou a cara do banqueiro Daniel Dantas e que concede habeas-corpus em profusão para corruptos notórios, alegando que não se pode criar um Estado policialesco. Foi Gilmar Mendes, também, que eliminou a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista, comparando-a com a de cozinheiro, atendendo a uma velha aspiração dos proprietários dos meios de comunicação. Não demorou para que veículos da grande imprensa saudassem a decisão quanto a Lei da Ficha Limpa, exaltando o fato de que a Constituição foi respeitada. No entanto, cinco dos onze ministros do Supremo entenderam de modo diferente. O ministro Carlos Ayres Britto, por exemplo, disse que o candidato que desfila pelo Código Penal com sua biografia não pode ter a ousadia de se candidatar. Assim pensa, também, a maioria do povo brasileiro. O pior de tudo é que, devido a outras tecnicalidades e preciosismos jurídicos, até a aplicação futura da lei não está garantida, como advertiu o minsitro Ricardo Lewandovski. As leis, levadas ao pé da letra, ao que parece, só servem para garantir os interesses dos poderosos e frustrar as aspirações dos cidadãos.

domingo, 27 de março de 2011

Substituição de conselheiros

O Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul terá de trocar três de seus sete conselheiros em 2011. A escolha do sete integrantes do orgão é feita com quatro indicações do Poder Legislativo, uma de livre escolha do Poder Executivo, e dois funcionários do quadro da instituição. As substituiçoes que terão de ser feitas esse ano seriam uma ótima oportunidade para alterar esse sistema de indicações. O Tribunal de Contas deve ser um orgão técnico e, por isso, não faz sentido a maioria de seus integrantes serem ex-deputados estaduais que ganham o cargo como uma espécie de prêmio ao final de sua carreira parlamentar, gozando das benesses de uma função vitalícia com aposentadoria integral. Já está mais do que na hora de eliminar as indicações políticas para quaisquer que sejam os tribunais. Tribunais são orgãos que precisam agir com independência, não podem estar atrelados a interesses dos poderes Executivo e Legislativo. Está nas mãos do governador Tarso Genro a oportunidade ímpar de alterar esse procedimento. Os conselheiros do Tribunal de Contas deveriam ser, todos eles, oriundos dos quadros da instituição. Mover esforços para que isso se torne realidade é apenas uma questão de vontade política por parte do governador. Claro que qualquer ação nesse sentido contrariaria muitos interesses, mas é justamente nessas horas que se distingue o estadista do governante comum. O primeiro opta pelo interesse maior da sociedade, o segundo pelas conveniências do jogo político. Seria uma oportunidade, também, para o Rio Grande do Sul, sempre tão orgulhoso de seus feitos, dar um belo exemplo a ser seguido em todo o Brasil.

Realidades distintas

No que diz respeito ao Campeonato Gaúcho, Grêmio e Inter, como ficou claro na rodada do final de semana, vivem realidades distintas. Enquanto o Inter, no sábado, empatou em casa, por 0 x 0, com o modesto São Luiz, de Ijuí, o Grêmio, fora de casa, venceu o Pelotas por 3 x 1. O resultado do Inter ainda tem o agravante do adversário ter jogado, desde os 40 minutos do primeiro tempo, com um homem a menos, devido a uma expulsão. O Grêmio, além de ter ganho o primeiro turno, já obteve a maior soma na contagem geral de pontos na competição, o que lhe garantiria fazer em casa o segundo jogo de uma hipotética decisão de campeonato. Além disso, com a campanha que vem realizando, é possível, ainda, que o Grêmio também vença o segundo turno, o que lhe daria o título do Gauchão sem a necessidade de uma decisão. Em relação ao Inter, parece claro que o técnico Celso Roth e os jogadores não conseguem se motivar para as partidas do Campeonato Gaúcho. Por mais equívocos de escalações e de esquemas que o técnico possa cometer, com o grupo de jogadores de que dispõe, o Inter teria de vencer o São Luiz no Beira-Rio. Os contínuos insucessos no Gauchão demonstram claramente que o problema maior do Inter é anímico. O técnico e os jogadores não esperavam ter de assumir a disputa do Gauchão, que estava reservada para o extinto time B, e, agora, não conseguem encontrar a mobilização necessária para jogar a competição. Resta saber se a torcida e a diretoria terão paciência para lidar com essa situação. Afinal, futebol é resultado, seja qual for a competição em disputa.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ideologias pré-concebidas

O título desse comentário é uma alusão à justificativa dada pelo empresário Anton Karl Biedermann para o seu desligamento do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo do Rio Grande do Sul. Biedermann mostrou-se insatisfeito com documentos que atacavam o neoliberalismo. "Recebi materiais com ideologias pré-concebidas", disse o empresário. Curiosa a maneira de pensar dos integrantes das forças de direita. Como não conseguem vencer as eleições com os seus candidatos, nutrem a esperança de que os governantes eleitos reneguem inteiramente suas idéias de esquerda e passem a rezar pela sua cartilha. Ora, um conselho de um governo comandado por Tarso Genro, um dos mais sólidos e brilhantes intelectuais de esquerda do país, pode até ter um discurso abrangente e aglutinador, visando abarcar os diferente grupos sociais, mas daí a deixar de condenar o neoliberalismo vai uma distância muito grande. Neoliberalismo, para os mais desavisados, é aquele pensamento econômico que defende com unhas e dentes o direito de propriedade e de lucro e o "respeito aos contratos". Seus defensores são adeptos ferrenhos do que chamam de "livre iniciativa" e propugnam a existência de um "Estado mínimo", que não interfira na economia e dê plena liberdade para os "empreendedores". Já quanto ao direito à vida, justa distribuição de renda, garantias trabalhistas, salários dignos, não passam, para tais indivíduos, de propostas demagógicas e populistas. Um conselho que se propõe a promover o desenvolvimento econômico e social do Rio Grande do Sul nada a tem a perder com a saída de pessoas de idéias tão predatórias e elitistas. Muito pelo contrário. Só tem a ganhar.

Resultado previsível

Nada mais previsível do que a vitória do Grêmio sobre o Inter de Santa Maria, na noite de hoje. Nem o mesmo o placar, um elástico 6 x 0, causou surpresa. O Inter de Santa Maria é um time muito fraco, está praticamente rebaixado para a Segunda Divisão e teve dois jogadores expulsos na partida. O Grêmio tentou até o fim ampliar o placar, já que, se fizesse mais um gol, teria a melhor campanha do Gauchão pelos critérios, mesmo com um jogo a menos que o Inter. Embora se deva descontar a fragilidade do adversário, o Grêmio jogou muito bem, com vários destaques individuais. Só a dupla de zaga, Rafael Marques e Rodolfo,, esteve com um rendimento abaixo da média do time, o que explica os vários escanteios concedidos para o Inter de Santa Maria, algumas chances de gol do adversário e importantes defesas de Marcelo Grohe, inclusive numa cobrança de pênalti. Jogadores como Escudero, Douglas e Leandro, que entrou no segundo tempo e marcou dois gols, tiveram muito boa atuação. Gílson fez boa partida, sendo muito aplaudido quando foi substituído. Para coroar a noite com mais uma boa notícia, o Oriente Petrolero derrotou o León de Huánaco por 2 x 0, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, resultado que praticamente classificou o Grêmio para a próxima fase da Taça Libertadores da América. Enfim, apesar da noite chuvosa, tudo esteve azul no horizonte gremista.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A hora da verdade

Entre os tantos entraves para que se torne um país mais justo, o Brasil apresenta uma permanente tendência para varrer assuntos incômodos para baixo do tapete, adiando o esclarecimento de fatos da sua história. A idéia, defendida pelas forças retrógradas do país e por setores da grande imprensa, de que a anistia de 1979 pôs fim as questões envolvendo o asqueroso golpe militar de 1964, é um insulto à memória dos homens e mulheres que tombaram nos porões da ditadura, e também às suas famílias que, até hoje, em grande parte, não conseguiram localizar seus corpos. Não é possível que um governo chefiado por uma ex-militante, que sentiu na própria pele a violência e a torpeza dos monstros da ditadura, ainda tema a reação das Forças Armadas e de grupos conservadores do país. Uruguai e Argentina, países vizinhos que também sofreram com a iniquidade de uma ditadura militar, souberam encarar o passado de frente, punindo os artífices de tais movimentos. O Brasil precisa fazer o mesmo. Anistia não é sinônimo de impunidade. Não basta, apenas, localizar as ossadas das vítimas de uma ditadura bárbara e ignóbil. Mais do que isso, é preciso abrir os arquivos da época para todos os brasileiros e, acima de tudo, punir exemplarmente os golpistas e torturadores. Só assim, o país poderá dar esse episódio por encerrado e seguir em frente com sua história.
Caso contrário, o peso de uma injustiça inominável se abaterá sobre o Brasil indefinidamente.

Uma atriz mítica

A morte de Elizabeth Taylor não é apenas o falecimento de uma atriz famosa. Mais que famosa, Elizabeth Taylor era uma figura mítica. Ganhadora de dois Oscars era, na juventude, de uma proverbial beleza. Seus olhos, de uma inacreditável cor violeta, eram motivo de fascínio e admiração. Teve uma vida pessoal movimentada e tumultuada, o que só ajudou a reforçar o mito. Seu relacionamento com o ator Richard Burton, com quem chegou a se casar por duas vezes, ocupou o noticiário de jornais e revistas durante muito tempo. Burton foi o quinto marido da atriz, de um total de sete. A partir da meia-idade, Elizabeth Taylor enfrentou inúmeros problemas de saúde como excesso de peso e depressão. Mesmo afastada do cinema, sempre esteve presente no noticiário. Foi ativista da busca de recursos para pesquisas em prol da cura da AIDS, doença que vitimou um grande amigo seu, o ator Rock Hudson. Como mito que era, não experimentou o ostracismo. Por isso,  mesmo com sua morte, continuará sendo lembrada. Afinal, os mitos desafiam o tempo.

terça-feira, 22 de março de 2011

O novo partido

O Brasil ganhou um novo partido político, o PSD, Partido Social Democrático. Na verdade, nem tão novo assim, pois sua sigla é a mesma do antigo partido do ex-presidente Juscelino Kubistchek, extinto quando da implantação, pelo regime militar de 64, do bipartidarismo. Não se trata de coincidência e sim de uma homenagem explícita a Juscelino pela marca desenvolvimentista de seu governo, uma das bandeiras do novo partido. O curioso é a forma como nasceu a nova agremiação política. Mais uma vez, não se trata de um movimento nascido nas bases, mas sim, um ato de caciquismo político. O fundador do novo partido é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Até então filiado ao Dem, Kassab queria deixar o partido por não concordar com sua oposição sistemática ao governo da presidente Dilma Roussef, do PT, que o prefeito pretende apoiar. Além do "desenvolvimentismo", outra das idéias de Kassab é a de que não existem mais posições de esquerda e direita, apenas a busca dos interesses maiores do país. O interessante nisso tudo é que, até poucos anos, Gilberto Kassab era uma figura sem relevância no meio político. Sua aparição para o grande público se deu quando tornou-se vice-prefeito de São Paulo, na gestão de José Serra. O partido de Serra, o PSDB, coligou-se com o então PFL, atual DEM, que indicou Kassab para candidadto a vice-prefeito. Serra venceu a eleição para prefeito de São Paulo e, mais tarde, deixou o cargo para concorrer a governador do Estado. Com isso, Kassab, até então um ilustre desconhecido, passou ao primeiro plano da política, tornando-se prefeito da maior cidade do Brasil. Logo depois, nas urnas, foi reeleito para o cargo. Pois agora, culminando sua fulgurante e meteórica ascensão, Kassab funda um novo partido. Ascensão e trajetória bastante semelhantes a do atual governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que de discreto vice-governador na administração de Mário Covas, assumiu o cargo quando do falecimento do titular, reelegeu-se, concorreu a presidente da República e, no ano passado, tornou a se eleger governador. São ascensões estranhas, feitas na esteira de vacâncias de cargos por renúncia ou falecimento, não por uma sólida atuação no campo político e junto as bases do eleitorado. Típico de um país que ainda não se livrou das práticas caciquistas e elitistas. A propósito, o PSD foi fundado sem que o partido tenha, ainda, um programa definido! Nada mais brasileiro, em se tratando de política.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Precipitação

A convocação para a Seleção Brasileira do atacante Leandro Damião, do Inter, parece ser uma precipitação. Ainda que seja o jogador do momento no futebol brasileiro, pelos gols que tem marcado, Leandro Damião até o início do ano sequer era titular do time. Sua convocação, de forma tão meteórica, pode até brecar seu processo de evolução como jogador. Por ser jovem, Leandro Damião, certamente, ainda tem muito a aprender e corrigir para aprimorar seu futebol. Com a condição de integrante da Seleção Brasileira, talvez deixe de ser tão aplicado na busca da superação de suas limitações, por entender já ser um jogador de primeiro nível. Na mesma linha está a convocação, feita também para o próximo amistoso da Seleção Brasileira, do meio-campista Lucas do São Paulo. O jogador teve extraordinária atuação pela Seleção Brasileira Sub-20, no campeonato sul-americano da categoria, no mês de janeiro, e já foi convocado para a seleção principal. Claro que o técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes, deseja experimentar vários jogadores até achar a equipe que disputará a Copa do Mundo de 2014. Porém, devido ao tempo ainda longo que há até lá, seria melhor que permitisse a jogadores emergentes, como Lucas e Leandro Damião, que completassem, em seus clubes, a maturação do seu futebol, sem pular etapas. Antes de ir para a Seleção Brasileira, um jogador precisa consolidar-se no próprio clube, afirmar-se, tornar-se um referencial. Só aí estará pronto para integrar a seleção número um do mundo. Situação diferente era a que envolvia Paulo Henrique Ganso e Neymar, que tiveram uma ascensão rápida mas sólida, levando o Santos a conquistar dois títulos em 2010. Os dois jogadores, até pela escassez de talentos da Seleção Brasileira treinada por Dunga, deveriam ter sido convocados para a Copa do Mundo de 2010. Já quanto a Lucas e Leandro Damião, antes de se pensar em convocá-los, deveria ser permitido que também construíssem uma trajetória mais afirmativa em seus clubes.

domingo, 20 de março de 2011

Obrigação cumprida

O Grêmio, ao golear o Porto Alegre por 3 x 0 na tarde de hoje, apenas cumpriu com sua obrigação. Vindo de dois maus resultados, a derrota para o Cruzeiro pelo Gauchão e o empate com o León pela Libertadores, era imperativo que o Grêmio vencesse para afastar as nuvens carregadas que se aproximavam de seu ambiente. Além disso, seu adversário de hoje é o lanterna do Campeonato Gaúcho. Mesmo jogando com dez reservas e apenas o goleiro Vítor de titular, o Grêmio se impôs desde o início do jogo, marcando o seu primeiro gol logo aos 4 minutos. Melhor do que o resultado, no entanto, foi o desempenho do time, individual e coletivamente. Ao contrário da atuação desastrosa e desanimada contra o Cruzeiro, desta vez o time reserva do Grêmio destacou-se pelo empenho e pelo brilho de algumas atuações individuais. Os homens escalados no ataque, Escudero e Júnior Viçosa, autores dos dois primeiros gols, tiveram muito bom desempenho. Escudero, pelo que jogou, se credencia a ser o companheiro de Borges no ataque, durante a ausência de André Lima que, lesionado, só deverá voltar dentro de dois meses. Vinìcius Pacheco, que jogando no meio de campo contra o Cruzeiro fez uma péssima partida, hoje, entrando no segundo tempo como atacante, atuou bem e fez um belo gol, que completou os 3 x 0. A goleada já deixou o Grêmio com o mesmo número de pontos que o Inter na classificação geral e com um jogo a menos. Cabe lembrar que, quem fizer mais pontos ao longo do campeonato, no caso de ocorrer uma decisão entre dois clubes, levará o segundo jogo para o seu estádio. Foi uma tarde tranquila e de bons presságios para a torcida do Grêmio. Resta saber se essa tendência se confirmará nos próximos jogos.

sábado, 19 de março de 2011

Empate insosso

A impressão que se tinha, ao assistir a Inter 0 x 0 Novo Hamburgo, na tarde de sábado, no Beira-Rio, é de que os dois times poderiam jogar por dias a fio sem que marcassem nenhum gol. O Inter, com um misto quente que incluía titulares como Lauro, Rodrigo e Guiñazu, um convalescente Rafael Sóbis, e um dos reforços de 2011, Cavenagh, além do "xodò" da torcida, Andrézinho, pouco fez durante todo o jogo, mostrando pouco ímpeto para romper a retranca proposta pelo Novo Hamburgo. Ficou, inclusive, a impressão de que se o Novo Hamburgo não se mostrasse tão satisfeito com o empate e ousasse um pouco mais, poderia obter a vitória. A consequência de tudo isso não poderia ser outra. Durante o jogo, a cada passe errado, a torcida do Inter demonstrava sua impaciência, com vaias. Com o término da partida, as vaias tornaram-se mais intensas. No decorrer do jogo, a torcida expressou, também, sua insatisfação com o técnico Celso Roth, dirigindo-lhe o tradicional coro de "burro, burro". A verdade é que o Inter só tem ido bem, nos últimos jogos, quando enfrenta adversários fraquíssimos, como o Ypiranga de Erechim e o Jorge Wilstermann, ocasiões em que aplicou goleadas. Porém, quando enfrenta adversários modestos, mas bem organizados e com alguma qualidade, patina. Foi assim com o Caxias no domingo passado, em Caxias do Sul, quando só não perdeu por ter sido auxiliado por erros de arbitragem e, agora, contra o Novo Hamburgo. A soma de pífias atuações do time com a insatisfação crescente da torcida em relação ao técnico apenas reforçam a previsão que já fiz em meus comentários na Rádio 1300 AM, isto é, que Celso Roth não ficará no cargo além do mês de abril.

O pré-sal é nosso

Se nos anos 50, foi preciso lançar a campanha "O petróleo é nosso", para defender os interesses do país em relação às suas reservas petrolíferas, fato que culminou com a criação da Petrobrás, estamos, agora, diante de fato semelhante. As mesmas forças que se opunham a criação da Petrobrás no passado, voltam com seu discurso entreguista e americanófilo para defender a participação dos Estados Unidos na exploração do petróleo brasileiro situado na camada do pré-sal. Consumidores ávidos de petróleo, os americanos já voltam seus olhos para o pré-sal brasileiro com indisfarçável interesse. O pré-sal é um patrimônio dos brasileiros. Sua descoberta, num período em que já se avista o esgotamento das reservas mundiais de petróleo num futuro não muito distante, é extremamente estratégica para o país. Assim sendo, todo o processo de sua exploração tem de ser comandado e coordenado pelo Brasil. Já vai longe o tempo em que o país dependia do conhecimento e da tecnologia de outros países para levar adiante tarefas como essa. Ainda que os entreguistas de plantão digam o contrário, possuímos recursos materiais e humanos para dar conta da empreitada, sem recorrer a auxílios que visam apenas apropriar-se de nossas riquezas naturais. O pré-sal irá gerar uma formidável massa de recursos, que devem ser aplicados em benefício do povo brasileiro. Afinal, o pré-sal é nosso.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A indústria da multa

Alguns jornalistas, principalmente os que possuem colunas assinadas em jornais, ou espaços próprios de comentários em rádio e televisão, não conseguem resistir a tentação de, diante de certos temas, expressar aquilo que julgam que irá ao encontro do que pensa a maioria das pessoas. Dessa forma, procuram manifestar não o que verdadeiramente pensam, mas o que despertará maior simpatia da opinião pública. Um exemplo disso se dá em relação ao assunto que envolve os chamados "pardais" e as multas de trânsito. Devido aos muitos acidentes e as mortes no trânsito, defender punição rigorosa para os motoristas infratores soa como algo muito simpático aos ouvidos da maioria. Autoridades de trânsito enchem o peito para falar de suas boas intenções quanto a punição dos maus motoristas, visando o nobre ideal de poupar vidas. Lamento, mas irei remar contra a maré. Não acredito nas boas intenções das autoridades de trânsito e muito menos que tais medidas façam refluir significativamente os números que envolvem acidentes e mortes. Tudo não passa de uma indústria da multa, que se vale da comoção popular em torno do assunto para assaltar o bolso dos motoristas. Trata-se do mesmo expediente que é usado para justificar a volta da CPMF. Sabe-se que, caso isso venha a acontecer, os valores arrecadados não irão para a Saúde, mas apenas servirão para gerar mais dinheiro para o caixa do governo. Não se iluda com tais proposições. Salvar vidas no trânsito ou obter mais recursos para a Saúde são apenas o mote para fisgar os incautos. O que querem os governos, invariavelmente, é meter a mão no seu bolso.

Um empate preocupante

O empate do Grêmio, hoje à tarde, com o León de Huánuco em 1 x 1, praticamente garantiu sua classificação para as oitavas de final da Taça Libertadores da América, mas deu margem para muitas preocupações. Em primeiro lugar, ao não vencer o jogo, o Grêmio dificilmente obterá o primeiro lugar no grupo, o que lhe trará grande prejuízo, pois, como segundo colocado, fará o segundo jogo da próxima fase, contra um dos primeiros colocados de grupo, fora de casa. Em segundo lugar, certas escolhas do técnico Renato se mostram, cada vez mais, incompreensíveis. Como explicar, por exemplo, que Gílson continue a ser escalado como titular, a despeito de suas péssimas atuações em todos os jogos, e Bruno Collaço, de seguidos bons desempenhos, continue na reserva? Na tarde de hoje, Gílson foi um corredor aberto por onde Orijuela transitou o jogo inteiro. Por que Renato, ao decidir colocar Júnior Viçosa, ainda no primeiro tempo, sacou Fernando do time, tornando-o mais frágil e exposto no meio de campo? Por que o já citado Gílson ficou até o fim do jogo, mesmo com uma atuação tão comprometedora? Por que Carlos Alberto, que cresceu tecnicamente depois de marcar o gol, foi sacado justamente quando estava em seu melhor momento no jogo? A alegação era de que ele já estava cansado e sem condições de marcar e dar combate ao adversário. Ora, essa não é a principal tarefa de um homem de criação. Tivesse o técnico mantido o time com dois volantes de marcação e o "cansaço" de Carlos Alberto poderia ser absorvido. A verdade é que o Grêmio já ganhou o primeiro turno do Campeonato Gaúcho e está virtualmente classificado para as oitavas de final da Libertadores, mas seu futebol não transmite confiança ao torcedor. Pelo contrário, parece prenunciar que dias muito difíceis virão pela frente. Além de contratar reforços, o que terá de fazer, necessariamente, o Grêmio vai precisar que seu técnico abdique de suas teimosias e escale o melhor time possível, o que implica, num primeiro momento, na saída imediata de Gílson da escalação titular. Se assim não for feito, o Grêmio não terá vida longa na Libertadores.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A boa surpresa do Caxias

O Caxias vive seu melhor momento desde 2000, quando foi campeão gaúcho decidindo a competição contra o Grêmio, com direito a uma goleada de 3 x 0 no primeiro jogo, em Caxias do Sul. O clube iniciou sua campanha na Copa do Brasil goleando o Ceilândia, fora de casa, por 5 x 0, obtendo a classificação para a fase seguinte sem necessidade do segundo jogo. Depois disso, obteve dois empates no Campeonato Gaúcho, 2 x 2 com o Grêmio, no Olímpico, e 3 x 3 com o Inter, no estádio Francisco Stédile, em Caxias do Sul, em que merecia ter saído vencedor. Agora, pela segunda fase da Copa do Brasil, venceu o primeiro jogo contra o Botafogo da Paraíba, em João Pessoa, por 1 x 0, podendo se classificar para a próxima fase até com um empate na segunda partida, que fará em casa. Sabidamente, a Copa do Brasil, por sua fórmula de disputa, permite que clubes pequenos e médios realizem grandes campanhas e até obtenham o título, como foi o caso do Criciúma, em 1991, do Juventude, em 1999, do Santo André, em 2004, e do Paulista de Jundiaí, em 2005. Portanto, não é de se afastar a hipótese de que o Caxias possa ir muito longe na competição e até mesmo ser campeão, o que seria particularmente notável para um clube que, atualmente, é um dos que compõem o Campeonato Brasileiro da Terceira Divisão.

terça-feira, 15 de março de 2011

Entre a ciência e o fatalismo

O terremoto devastador que se abateu sobre o Japão há alguns dias, e que vem sendo sucedido por outros tremores de menor impacto, suscita, como sempre acontece em situações desse tipo, interpretações equivocadas ou fantasiosas. Basta que ocorram terremotos, maremotos, furacões, tufões e outras catástrofes naturais para que dois tipos de intérpretes da situação, imediatamente, surjam. São eles os ecoxiitas, que entendem que toda a manifestação violenta das forças da natureza é resultado de uma ação predatória exercida pelo ser humano sobre ela, e os místicos em geral, que enxergam em tais fatos evidências da proximidade do fim do mundo. No fato em questão, o terremoto do Japão, tudo é perfeitamente explicável cientificamente. Não foi o primeiro e, infelizmente, não será o último terremoto a se abater sobre o Japão. Isso porque o território do país está assentado sobre falhas geológicas que propiciam tais eventos, de tempos em tempos. O ser humano tem extrema dificuldade em aceitar que causas naturais possam gerar desastres que resultem em milhares de mortos. A estupefação diante do caos que se estabelece nessas ocasiões, leva as pessoas a procurar um responsável a quem atribuir o infausto acontecimento. Culpar o homem e sua ação sobre o ambiente ou atribuir a desígnios sobrenaturais o motivo da ocorrência de tais hecatombes parece ser algo mais confortável, psicologicamente, para algumas pessoas. Difícil, para elas, é aceitar, simplesmente, o óbvio, isto é, de que somos impotentes diante das forças da natureza, de que não podemos domá-la. O terremoto do Japão não é consequência de nenhuma ação predatória humana, nem é resultado de qualquer determinismo místico. Trata-se de um fenômeno natural, ainda que com consequências devastadoras. Como sempre, após tais acontecimentos, cabe, apenas, aos que ficam, lamentar pelos que se foram e reconstruir o que se perdeu. Sem dúvida, é um processo doloroso, mas não há outra alternativa.

domingo, 13 de março de 2011

Nada como um dia após o outro

A chiadeira da torcida do Inter, e de setores da imprensa identificados com o clube, foi muito grande em relação a arbitragem de Grêmio x Caxias, na quarta-feira passada, no estádio Olímpico. A alegação era de que o árbitro, ao conceder oito minutos de acréscimo, teria favorecido o Grêmio, que perdia o jogo e conseguiu o empate. Porém, hoje, apenas quatro dias depois daquela partida, foi o Inter que jogou contra o Caxias, no estádio Francisco Stédile, em Caxias do Sul. Ao contrário da correta arbitragem do jogo do Olímpíco, que concedeu o tempo de acréscimos que era justo, o que aconteceu em Caxias do Sul foi uma calamidade. O árbitro deixou de marcar um pênalti claríssimo em favor do Caxias, aos 10 minutos do primeiro tempo, que poderia redundar num placar de 2 x 0 naquele momento. O segundo gol do Inter foi marcado em escancarado impedimento. O mesmo árbitro que sonegou um pênalti para o Caxias, marcou um para o Inter, que não foi convertido, e, ainda, expulsou um jogador do Caxias. Mesmo assim, com um jogador a menos, o Caxias ainda conseguiu marcar um gol, que determinou o empate em 3 x 3. Se a arbitragem de quarta-feira gerou dúvidas e reparos por parte de alguns, o que ocorreu hoje foi um verdadeiro assalto a mão armada. A arbitragem influiu diretamente no resultado, impedindo a vitória do Caxias. Cabe pergunatar, então, o que dirão os ferozes críticos da arbitragem de Grêmio x Caxias? Pois é, nada como um dia após o outro.

Mais um sinal de alerta

Se não bastasse a quase perda do primeiro turno para o Caxias, o Grêmio teve, na sua estréia no segundo turno do Campeonato Gaúcho, mais um sinal de alerta. O Grêmio jogou contra o Cruzeiro, de Porto Alegre, com um time quase inteiramente reserva, formado, na sua maioria, por garotos. Além de algumas atuações individuais desastrosas, o Grêmio não mostrou o mínimo entendimento em campo e, como seu próprio técnico, Renato, disse ápós o jogo, não correu. Renato declarou que podia aceitar tudo, menos que um time com tantos jovens corresse menos que um adversário que jogara 48 horas antes. Isso é verdade, mas Renato também tem de revisar algumas  de suas idéias. A insistência com Carlos Alberto já está passando do limite. Nem mesmo jogando, teoricamente, na sua posição, Carlos Alberto conseguiu atuar bem. Para piorar, entrou em campo como capitão do time, e acabou expulso. Afora o goleiro Mateus, de grande atuação, a maioria dos jogadores decepcionou. Maylson esteve péssimo, assim como Neuton, Fernando não mostrou o seu grande futebol, Vinícius Pacheco se manteve alheio ao jogo e Wesley comprovou, mais uma vez, que é um mau jogador. Talvez quem melhor tenha resumido o que se viu no dia de ontem no Olímpico tenha sido um torcedor ouvido pela Rádio Gaúcha. Disse ele: "O Grêmio cometeu o mesmo do erro do Inter contra o Cruzeiro e, por isso, também perdeu. Colocou guris para jogar contra adultos. Guri tem de jogar contra guri, adulto contra adulto". Uma explicação simples, talvez, mas que faz algum sentido.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Os contrastes do verão

O verão é a mais alegre das estações. O calor, o sol intenso, o colorido próprio dessa época do ano, as praias repletas, pessoas em férias, descontraídas, uma atmosfera que convida ao lazer, a desfrutar os prazeres da vida, brincar, se divertir, tudo isso caracteriza o verão. Há também o Carnaval, com toda a sua animação. Porém, o verão é, também uma época de chuvas intensas e é aí que se revela o seu lado triste. Dois meses depois da tragédia que se abateu sobre a região serrana do Estado do Rio de Janeiro, com seus milhares de mortos, eis que a chuva, nas últimas horas, atingiu com intensidade a região sul do Rio Grande do Sul, levando o município mais afetado, São Lourenço do Sul, a decretar estado de calamidade pública. Já são oito mortos confirmados e milhares de desabrigados. Há falta parcial de energia elétrica e total desabastecimento de água no município. Novamente, estamos diante de uma situação dramática que ensejará uma corrente de solidariedade não só dos gaúchos, mas de várias partes do Brasil. Nessas situações as pessoas são tocadas pela compaixão em relação à dor alheia e tratam de colaborar na medida das suas possibilidades. O homem avançou muito ao longo do tempo, mas ainda é incapaz de domar a natureza. Tragédias como essa, parecem ocorrer, de tempos em tempos, para lembrar ao ser humano que ele não pode tudo, que diante da força das manifestações da natureza ele ainda se queda impotente. Em meio aos tantos prazeres e fruições do verão, é uma lembrança de que também ele tem o seu lado amargo. Na dualidade que caracteriza a vida, já expressa o ditado popular, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mais uma conquista épica

Existem resultados que falam por si só. Sim, é verdade que o Grêmio jogou muito mal, que Carlos Alberto é uma insistência injustificável do técnico Renato, que Gílson não tem condições de jogar no Grêmio, que VÍtor, mais uma vez, falhou em jogos decisivos. Também é verdade que o Grêmio, pela sua grandeza, não poderia sofrer tanto para ser campeão do primeiro turno do Campeonato Gaúcho jogando em casa contra o Caxias. Porém, quem conhece o Grêmio sabe que conquistas sofridas são constantes em sua história. Nessas horas, o nível do adversário importa pouco e é por isso que a "Batalha dos Aflitos" é o jogo mais épico da história do futebol gaúcho, independentemente de o adversário do Grêmio ter sido o Náutico. Não é a maior ou menor expressão do adversário que tornam um jogo épico, são as circunstâncias do seu desenrolar. No jogo Grêmio x Caxias houve dramaticidade, empenho, garra, superação. Vítor, depois de falhar durante o jogo, foi heróico na cobrança de tiros livres da marca do pênalti. Sobrou capacidade de indignação para o Grêmio e, assim, o que seria uma conquista previsível tornou-se mais um feito digno de registro na história do clube. O Caxias teve uma grande atuação e foi melhor na maior parte do jogo. Caso conquistasse o título, o faria com todos os méritos. Porém, não se desafia um clube da grandeza do Grêmio impunemente. O Caxias já estava com a mão na taça quando o Grêmio empatou o jogo e iniciou a reversão do resultado do primeiro turno. Novamente, de forma épica. Porque, afinal, o hino do clube, composto pelo notável Lupicínio Rodrigues, já afirmava o que hoje todos sabem, ou seja, o Grêmio é imortal.

terça-feira, 8 de março de 2011

Estímulos incessantes

A impressão de que os anos passam cada vez mais rápido é generalizada. Por incrível que pareça, já estamos no terceiro mês do ano! Muitas são as explicações de porquê temos tal sensação, mas uma delas talvez seja a de que, mal passado um período ou data, nossa atenção já se volta para outro, num processo estressante mas muito conveniente para os que visam estimular o consumo. Dessa forma, o ano começa com as pessoas planejando suas férias, para aproveitar os meses de verão. Isso resulta em gastos com viagens, diárias de hotéis, passeios, restaurantes. Ainda em meio ao verão, já surge a preocupação com a volta às aulas e a consequente compra de material escolar, já que, em alguns estados brasileiros, o ano letivo começa no início de fevereiro. Logo depois, vem o Carnaval. Como se trata de um feriadão, implica em novos gastos com viagens, seja para os locais onde a festa é mais forte, seja para fugir dela, descansando em praias e outros locais turísticos. Passado tudo isso, já se aproxima a Páscoa, outro feriadão e período de grande venda de chocolates. Um pouco mais adiante e já se apresenta o Dia das Mães, uma data em que o comércio fatura muito com a venda de presentes e a ida a restaurantes. Logo a seguir, vem o Dia dos Namorados, mais uma data para incentivar o gasto com presentes, jantares românticos e coisas afins. Chegam, então, as férias de meio do ano, mais curtas que as de verão, mas, ainda assim, propícias para as viagens e passeios. Passadas as férias, é a vez do Dia dos Pais e mais gastos com presentes. Após uma breve parada na sucessão de datas comemorativas, de pouco mais de um mês, vem o Dia da Criança, outra ocasião para fazer a alegria do comércio. Apenas um mês e meio depois já estamos novamente diante de Natal, Ano Novo e férias de verão. Assim, submetidos, de modo quase permanente, ao estímulo de datas comemorativas e incentivo ao consumo, é natural que nos sintamos estressados e tenhamos a impressão de que o tempo passa cada vez mais rápido.

segunda-feira, 7 de março de 2011

O bloco dos Beatles

O Carnaval do Rio de Janeiro, além dos desfiles das escolas de samba, tem nos blocos de rua uma forte tradição. Pois eis que, em 2011, além de blocos tradicionalíssimos como o "Cordão do Bola Preta" e o "Simpatia é quase amor", surgiu um inusitado, o "Sargento Pimenta", que só toca música dos Beatles! Para os puristas do samba, isso deve soar como uma heresia. Porém, é preciso lembrar que os blocos carnavalescos caracterizam-se, justamente, pela irreverência. Afora isso, um bloco como esse apenas confirma o que muitos, entre eles eu, sempres souberam, isto é, que, no campo da música popular, não há nada, aqui ou em qualquer outro lugar, que seja superior a obra dos Beatles. São músicas de tamanha beleza e qualidade que soam bem mesmo que fora de suas formas originais. Seja em ritmo de samba, tango, rumba, valsa, bolero, funk, axé, forró ou numa versão para orquestra ou piano, as músicas dos Beatles permanecem sempre insuperáveis.

O autêntico e o midiático

A primeira noite de desfiles do Carnaval de 2011 no Sambódromo do Rio de Janeiro trouxe à tona, mais uma vez, uma divisão que se estabeleceu desde que o espetáculo se transformou num grande evento, de enorme repercussão em todo o país e até no exterior. De um lado está o carnaval de raiz, cultivado nos bairros onde as escolas de samba tiveram sua origem, com seus compositores e personagens históricos. De outro, o carnaval midiático, feito para causar impacto visual tanto para os julgadores do desfile quanto para o público da televisão, lançando mão de muito luxo e efeitos especiais cada vez mais criativos. Dessa forma, há escolas que fazem um carnaval de resultados, buscando apenas atender tecnicamente às exigências do regulamento. Outras, no entanto, ainda dão preferência a levantar o povo nas arquibancadas e a reverenciar suas origens e feitos. No primeiro caso, entre as escolas que desfilaram na noite de domingo, estão a Imperatriz Leopoldinense e a Unidos da Tijuca. Mesmo trocando o seu carnavalesco, que agora é Max Lopes, a Imperatriz segue a sua tradição de desfiles que buscam muito mais a perfeição técnica e a exuberância da exibição do que despertar a emoção do público. A Unidos da Tijuca, atual campeã, aposta nos efeitos especiais cada vez mais ousados e criativos de seu carnavalesco, Paulo Barros, sem dúvida a figura de maior destaque no carnaval carioca na última década. No segundo caso, está a Mangueira. A mais mítica das escolas de samba do Rio de Janeiro, encerrou a primeira noite de desfiles com uma apresentação marcada pela homenagem, no enredo, a um dos seu grandes vultos, Nélson Cavaquinho, e reverenciando vários de seus integrantes históricos. Antes mesmo do início da apresentação, componentes da escola não conseguiam conter suas lágrimas. Aliás, ao final do desfile da Mangueira, a sambista Tereza Cristina, uma das comentaristas da transmissão de Carnaval da Rede Globo, também chorou, ainda que sua escola seja a Portela. Tereza disse que para quem é do samba, como é o seu caso, não é possível não se emocionar com uma apresentação como a da Mangueira. Hoje, na segunda noite, irá desfilar a Beija-Flor, pioneira do carnaval de resultados e permanente candidata ao título. Resta saber, quando da proclamação da escola campeã, o que irá pesar mais para os jurados, se o apuro técnico, ainda que, por vezes, um tanto frio, ou a emoção que a todos contagia.

domingo, 6 de março de 2011

A pregação neoliberal

A maneira como os adeptos do neoliberalismo enxergam  a realidade é muito interessante e singular. Para eles, o mercado tudo resolve e o segredo da prosperidade é a desregulamentação da economia, a diminuição da carga tributária e, é claro, a flexibilização das leis trabalhistas. O curioso é que aquilo que, quando concedido para a classe trabalhadora é taxado de "privilégio", quando obtido pelos detentores do capital são "garantias indispensáveis". Assim sendo, os mesmos que querem "flexibilizar" os direitos trabalhistas, alegando que eles dificultam contratações pois oneram os custos das empresas, são os mesmos que defendem que os países tenham um sistema judiciário "autônomo, independente e garantidor dos contratos". Isto é, ao mesmo tempo que querem suprimir as proteções legais aos trabalhadores, desejam o máximo de garantias para os chamados "investidores" que, de outra forma, não se sentiriam estimulados a aplicar seus recursos na economia. Tamanha desfaçatez é algo para fazer corar um frade de pedra. A flexibilização das leis trabalhistas não busca gerar mais empregos, como alegam seus defensores. Visa, ao contrário, facilitar as demissões, que se tornam menos onerosas para as empresas com a dimnuição dos direitos previstos em lei. No mesmo sentido, as garantias pedidas para os "investidores" nada mais são do que a tentativa de assegurar que contratos firmados por governos com a iniciativa privada não venham a ser rompidos quando da troca de administrações ou pela orientação ideológica de quem assuma o poder. Nessa original maneira de encarar a realidade, um governante que acabe de assumir um mandato, é obrigado a cumprir os contratos firmados por seu antecessor, mesmo que eles sejam lesivos ao interesse público ou firam a sua orientação ideológica. Sem dúvida, uma ótima maneira de proteger os interesses do capital. No Brasil, a publicação que melhor encarna os ideais do neoliberalismo é a revista "Veja". Em sua última edição, ela volta a carga com toda a força entrevistando, nas páginas amarelas, o economista americano Walter Williams que, apesar de negro, é contra as cotas raciais e sustenta que "o mercado vence o racismo". Também, na mesma edição, há a coluna de Maílson da Nóbrega, aquele mesmo que foi ministro da Fazenda quando da maior inflação da história do Brasil mas é tratado como gênio da economia pela revista. Maílson escreve, em sua coluna que o Brasil precisa ter um aumento da sua produtividade. Para isso, entende ser necessário fazer a reforma tributária (olha ela aí de novo), melhorar a qualidade da educação e "desviar a Previdência da rota do desastre", ou seja, obrigar os aposentados a morrerem de fome para não travarem a economia do país. O ex-ministro defende, também, que, para obter "enormes ganhos de produtividade" basta adotar uma agressiva política de concessão de rodovias, privatizar aeroportos, licitar terminais portuários e novos projetos de ferrovias e hidrovias. Sobre quanto custariam para os usuários as tarifas de tais serviços concedidos para a iniciativa privada, Maílson não escreve uma linha sequer. Por essas e por outras, vale citar uma frase que ouvi, hoje, em um programa de rádio, ainda que se referindo a outros fatos, proferida pelo jornalista Nando Gross: "O capitalismo é o sistema em que os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres". Desnecessário fazer qualquer acréscimo.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnaval

Mais uma vez, é Carnaval. Um Carnaval em março, o que, sempre que acontece, parece um tanto estranho, pois no seu megasucesso "País Tropical", Jorge Benjor já dizia que "em fevereiro tem Carnaval". Porém, independentemente do período de realização da chamada "festa de momo", ela nos leva a algumas reflexões. Há quem adore o Carnaval, há quem deteste. Eu não me situo em nenhum dos dois grupos. Gosto, simplesmente, sem adorar. O problema que envolve os dias de folia é que, a exemplo do Natal e do Ano Novo, há como que uma imposição para que todos sejam felizes. A mensagem nesse sentido é tão forte que quem não está integrado ao sentimento de euforia geral, sente-se um peixe fora d'água, agravado pelo fato de que, diferentemente das outras duas datas citadas, o Carnaval implica num superferiadão de quatro dias de duração. Dessa forma, quem não participar dos festejos, por não poder ou não gostar, e, também, não puder viajar, sente-se um desvalido, entregue ao tédio e a melancolia. Entre tantos problemas que apresenta a sociedade, sempre tão doente e confusa, está o de  tentar estabelecer uma felicidade geral, por decreto, vinculada a datas ou festividades. Ninguém pode ser feliz porque lhe ordenam que assim seja, em um determinado período. A felicidade é uma conquista, não pode surgir a um apertar de botão. A vida é um processo contínuo e não obedece a um controle remoto em que se possa determinar quando e onde iremos alcançar a felicidade. Por nos negarmos a reconhecer tal evidência é que, a cada nova data festiva, a cada novo feriadão, o que mais se encontra é, simplesmente, muita frustração.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O aniversário de Zico

Hoje, dia 3 de março, Zico completa 58 anos. Craque como poucos, Zico jogou três Copas do Mundo, participou de quatro do seis títulos de campeão brasileiro do Flamengo, marcou mais de 800 gols em sua carreira. Era a maior expressão técnica do melhor time de futebol que a minha geração, pessoas em torno dos 50 anos, viu jogar, ou seja, o Flamengo de 1981. O time tinha Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Uma máquina! No Rio Grande do Sul, o bairrismo exacerbado faz com que muitos, até hoje, desdenhem de Zico, dizendo que era "jogador de Maracanã" ou que "não ganhou Copa do Mundo". Pura inveja e despeito. Ganhar ou não uma Copa do Mundo não pode ser o medidor da excelência do futebol de um jogador. Zizinho, outro dos grandes craques do futebol brasileiro, fez parte da Seleção Brasileira que perdeu a Copa de 50. Isso em nada diminui a sua qualidade. Zico é, sem dúvida, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos. Além disso, fora de campo, também apresenta um comportamento exemplar. Só a má vontade de alguns pode impedir que Zico seja o que merece, isto é, uma unanimidade nacional. Além de contaminado pelo preconceito ou por uma injustificada e estúpida rivalidade entre estados, quem ousa contestar Zico só demonstra não entender nada de futebol. Eu, particularmente, estou entre os milhões que, sem torcerem pelo Flamengo, nem morarem no Rio de Janeiro, me extasiei com os lances de sua carreira, que acompanhei por inteiro. Por que o que os bairristas e invejosos em geral precisam entender, de uma vez por todas, é que o talento não tem fronteiras, merece ser reverenciado onde quer que se encontre. Por isso, tenho certeza  de que, hoje, milhões de brasileiros, como eu, estão dando parabéns para Zico. Trata-se, apenas, de uma singela retribuição a quem nos presenteou com jogadas e gols maravilhosos durante toda a sua trajetória nos campos de futebol.