sábado, 18 de maio de 2013

Um exemplo a ser seguido

A morte do general e ex-ditador da Argentina Jorge Rafael Videla, que cumpria pena de prisão perpétua num presídio no subúrbio de Buenos Aires, é mais uma evidência do descalabro que caracteriza a forma como o Brasil trata os artífices do espúrio golpe militar que impôs ao país uma ditadura que se prolongou por 21 anos. Enquanto seus vizinhos, Argentina e Uruguai, que também experimentaram o amargor de regimes ditatoriais, puniram os golpistas por seus crimes, que incluíam torturas e assassinatos, no Brasil os monstros do regime fardado estão livres e soltos, sustentando sua tese de que agiram corretamente e de que salvaram o país da ameaça comunista. Há poucos dias, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, uma das figuras mais execráveis do golpe militar brasileiro, responsável por torturas e mortes nos porões do Doi-Codi, em depoimento à Comissão da Verdade, negou que tais fatos tenham ocorrido e envolveu-se num bate-boca com um médico e vereador de São Paulo, recusando uma acareação com ele, a quem caracterizou de terrorista. O detalhe é que, conforme o vereador, Ustra o torturou na época da ditadura. Enquanto coisas como essas acontecem por aqui, na Argentina, Videla, cujo período no poder foi o mais sangrento da ditadura naquele país, terminou seus dias na prisão, como deveria ser. O Brasil precisa seguir em frente, é claro, mas isso não se faz varrendo o lixo para debaixo do tapete. Pelo contrário. O Brasil precisa passar o limpo o período da ditadura, não por vingança, mas por justiça. O argumento de que a anistia de 1979 serve pára os dois lados é pífio e cínico. A anistia foi um artifício dos ditadores para evitar punições futuras, pois sabiam que o regime vivia seus estertores. Os verdadeiros democratas não reconhecem a legitimidade dessa anistia. Se é verdade que ela permitiu a volta dos exilados, isso, em si, não é nenhum mérito, pois foi o retorno de quem nunca deveria ter saído. Em nome de tantos brasileiros que tombaram na luta contra a ditadura, não basta fazer um levantamento dos assassinatos cometidos, localizar corpos e indenizar a família das vítimas, é preciso mais. Os perpetradores e executores da ditadura que ainda se encontram vivos não podem mais continuar soltos, escarnecendo, com sua infecta presença, da dor dos familiares das vítimas e dos brasileiros de caráter. Seu lugar é na prisão. Os bons exemplos devem ser seguidos. Façamos como a Argentina e o Uruguai, e punamos os militares golpistas. Enquanto isso não for feito, a ditadura permanecerá como um fantasma a perturbar os brasileiros.