sábado, 12 de abril de 2014

Ocaso

O futebol é apaixonante, entre tantas outras razões, porque, vez por outra, nos brinda com os chamados "esquadrões", isto é, times ou seleções inesquecíveis, recheados de grandes jogadores, com um estilo de atuação envolvente, capaz de despertar a admiração do público. Estão nessa categoria times como o Santos de Pelé e Pepe, o Real Madrid de Di Stéfano e Puskas, o Ajax de Cruyff, o Milan de Rikkjard, Gullit e Van Basten, as Seleções Brasileiras de 1958,1970 e 1982, a Hungria de 1954, a Holanda de 1974, entre outros. Por diversas razões, no entanto, o ciclo desses grandes times e seleções não costuma ser muito longo. Num grupo que mantém uma mesma base por um tempo considerável, o desgaste das relações acaba sendo inevitável. Afora isso, alguns jogadores vão sentindo o peso da idade e já não conseguem manter uma produção no mesmo nível. Trocas de técnicos e chegadas de novos jogadores também podem ser fatores a quebrar a trajetória de um grupo vencedor. No momento, parece que estamos vivenciando o ocaso de mais um esquadrão. Nos últimos anos, o mundo se curvou ao futebol de toques do Barcelona. Com seu estilo "takataka", caracterizado pela superioridade absoluta no tempo de posse de bola em relação ao adversário, e por uma troca constante de passes, num time com vários jogadores de altíssimo nível, o Barcelona acumulou títulos. Tendo como nome maior, Messi, escolhido por quatro anos seguidos o melhor jogador do mundo, secundado por outros notáveis como Xavi e Iniesta, todos comandados por um técnico inspirado, Josep Guardiola, o Barcelona se inscreveu no grupo seleto dos times que marcam época. Alguns insucessos, há cerca de dois anos, resultaram na saída de Guardiola. Tito Vilanova, seu auxiliar e escolhido para substituí-lo, foi abatido por uma grave doença, e teve de abandonar o cargo. Gerardo "Tata" Martino, contratado para o seu lugar, apesar do grande trabalho que fez no Newell's Old Boys, ainda não se afirmou.. Some-se a isso a má fase de Messi, que não recuperou a exuberância de seu futebol após voltar de uma lesão, os 31 anos de Iniesta, os 36 de Xavi, a entrada de Neymar no time, que ainda gera resistências, e o efeito é o que está se vendo. Em apenas três dias, o Barcelona sofreu duas derrotas de sérias consequências. Na quarta-feira, perdeu por 1 x 0 para o Atlético de Madrid, e foi eliminado da Champions League. Hoje, foi derrotado, também por 1 x 0, pelo modesto Granada, que luta apenas para não ser rebaixado, e caiu para o terceiro lugar no Campeonato Espanhol. O Barcelona também tem enfrentado problemas fora de campo, com a renúncia de um presidente e a aplicação de uma pena que o impede de contratar novos jogadores pelo espaço de um ano. Clube poderoso que é, o Barcelona poderá, em breve, quem sabe, dar início a uma nova trajetória vitoriosa. Porém, no momento, tudo indica, que estamos assistindo ao fim de um ciclo. Uma experiência sempre dolorosa, mas inevitável, tanto no futebol quanto na vida.