segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O ritual de uma farsa

O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, hoje, no Senado, seguido por uma sessão de perguntas dos parlamentares, foi um exemplo de dignidade. O que se está vendo no Senado é o ritual de uma farsa sendo cumprido metodicamente, para tentar dar ares de legitimidade a um golpe espúrio. Ao contrário do que disseram muitos dos seus algozes, a ida de Dilma Rousseff ao Senado não significa um reconhecimento da legitimidade do processo a que foi submetida. A presidente compareceu ao Senado para reafirmar sua inocência e, com altivez, olhar de frente para os seus detratores. O que se assistiu no Senado foi, de um lado, uma governante honrada, vítima de um golpe, e, de outro, vis opositores que deixaram evidente toda a sua deformidade ética. Poucas situações podem ser mais patéticas e constrangedoras, por exemplo, do que ver na tribuna a senadora Ana Amélia Lemos (PP/RS) com uma vestimenta verde e amarela a tentar simbolizar o seu "patriotismo". Ana Amélia pertence ao PP, que nada mais é do que a Arena, partido de sustentação do regime militar, com outro nome. Ela é viúva de um senador biônico, ou seja, que não obteve um único voto nas urnas. Dilma Rousseff submeteu-se a ser confrontada por gente desse jaez. Sabia estar diante de um jogo de cartas marcadas. Seu comparecimento ao Senado não é uma aceitação do golpe, é a explicitação da manobra abjeta de que foi vítima. Ficou, mais uma vez, evidenciada a inconsistência dos motivos apresentados para justificar o impeachment da presidente. Numa frase antológica, Dilma Rousseff disse que a única morte que teme é a da democracia. Uma declaração que dá a medida da distância moral que a separa dos golpistas.