terça-feira, 17 de julho de 2012

O triunfo da mediocridade

Falar sobre preferências musicais, ou de qualquer outra manifestação cultural, é sempre algo carregado de subjetividade, mas é errado dizer-se que "gosto não se discute". Discute-se sim, até porque, existem padrões mínimos de qualidade que todos podem reconhecer. Portanto, ainda que haja quem sustente o contrário, o bom e o ruim em termos culturais não é uma questão que depende tão somente da apreciação de cada um. Porém, num país de educação precária, e de escasso acesso da maioria da população aos bens culturais, fica cada vez mais difícil para as pessoas separarem o joio do trigo. Dentre as manifestações artísticas, a música é a que mais se presta para transformar em fenômeno de popularidade a vulgaridade, a banalidade, a falta de inspiração e conteúdo. Melodias de apelo fácil, com letras de rimas pobres e conteúdo apelativo, com um refrão "pegajoso", ou seja, que "gruda" no ouvido, são um caminho certo para o sucesso. Os exemplos nesse sentido são vários, e a bola da vez chama-se Gusttavo Lima. Trata-se de um cantor sertanejo de apenas 22 anos que, após muito tentar, alcançou o êxito na carreira depois que acrescentou um segundo "t" ao seu nome artístico. Sim, porque Gusttavo, na verdade, chama-se Nivaldo. Pois bem, Gusttavo Lima é o responsável por um dos grandes sucessos musicais do Brasil no momento, aquela musiquinha do "tchê tcherere tchê tchê" que vem sendo cantarolada por multidões em todo o país. Com obras musicais desse nível, Gusttavo Lima, mesmo com tão pouca idade, já possui, entre outros bens, um Lamborghini, no valor de R$ 850.000, um Maserati conversível, de R$ 650.000, um jatinho de seis lugares, de R$ 4 milhões, e uma casa de 300 metros quadrados, de R$ 2 milhões. Afora isso, já deu uma fazenda para os pais e um apartamento para cada um dos seus seis irmãos. Gusttavo Lima é mais um a se beneficiar do estranho apreço de muitos brasileiros pela música sertaneja que, apesar do nome, pouco tem a ver com as composições caipiras de raiz. Entre os maiores fás do gênero musical estão os jogadores de futebol, o que só comprova a histórica rarefação cultural dessa categoria profissional. Um dos grandes amigos de Gusttavo, por exemplo, é Neymar, atualmente, o melhor jogador do Brasil. Poucas vezes, como agora, se viu uma época em que predominassem tantas nulidades no panorama musical brasileiro. Alguns dos campeões de vendagem de CD's e DVD's, e que lotam shows por todo o país, são justamente os tais "sertanejos", como o próprio Gusttavo Lima, Luan Santana, e os mais veteranos Chitãozinho e Chororó, e Zezé de Camargo e Luciano. Em comum entre todos eles, a qualidade baixíssima de seu repertório, e a imensa fortuna que amealharam. Sem dúvida, é o triunfo da mediocridade, que resulta da limitação cultural de milhões de brasileiros.