quarta-feira, 9 de setembro de 2020

O arrependimento de FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é uma das figuras mais lastimáveis da política brasileira. Sociólogo reconhecido, perseguido pelo regime militar, fez um governo de direita, alinhado com os interesses da plutocracia do pais, vendendo patrimônio público em troca de moedas podres. Agora, muitos anos depois de deixar o poder, declarou estar arrependido de ter implantado o instituto da reeleição no Brasil, por entender que os governantes fazem de tudo para obter a renovação do mandato. A constatação é óbvia, mas isso não faz da reeleição um mal em si, já que outros países também a adotam. O problema maior é que FHC, para obter a aprovação da medida, comprou duzentos deputados federais, e agiu em proveito próprio, pois queria ter um segundo mandato. Um governante pode propor mudanças dessa natureza, mas apenas visando mandatos futuros, já que, quando foi eleito, a regra era outra. Estabelecer a reeleição para ser o seu primeiro beneficiário constitui um casuísmo eleitoral repulsivo. O arrependimento de FHC é um ato cínico, e tardio. O ex-presidente é um retrato fiel da asquerosa elite brasileira. Polido, de fala mansa, esconde por trás da aparência refinada um lobo em pele de cordeiro. O melhor que poderia fazer pelo país seria recolher-se ao silêncio.