segunda-feira, 30 de março de 2015

Vaias para o retrocesso

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sentiu, nos últimos dias, como é a vida fora da "ilha da fantasia" de Brasília. Acostumado aos rapapés e salamaleques recebidos por quem exerce o seu cargo, e reverenciado com recente matéria de capa pela revista "Veja" por seu furor antigovernista, Cunha teve de enfrentar uma recepção com fortes vaias e cartazes contra si ao pronunciar-se nas Assembleias Legislativas de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Engana-se quem pensa que isso foi uma manifestação restrita de grupos "radicais" e de defensores intransigentes do governo. A população brasileira não é uma massa de descerebrados manipuláveis como desejam alguns. As "multidões" que saíram às ruas no dia 15 de março, em algumas cidades, protestando contra o governo e pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, na verdade, representam, quantitativamente, uma fatia pouco expressiva da população do país. São integrantes de grupos mais ruidosos que numerosos. As pessoas com um mínimo de discernimento sabem que Cunha é a expressão do que há de pior na cena política brasileira. Homofóbico e defensor dos restritos códigos morais dos evangélicos, Cunha é, afora isso, a favor da manutenção do financiamento privado de campanhas, principal fator de disseminação da corrupção no país. Tanto em São Paulo quanto no Rio Grande do Sul, Cunha foi recepcionado, também, com a demonstração de beijos gays. A sociedade, com atitudes como essa, dá o claro recado de que não aceita caminhar para trás, que o obscurantismo não irá se impor como já fez anteriormente, pois os tempos, agora, são outros. São vaias contra o retrocesso, carregadas de civismo.