sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A elitização do futebol

Está gerando grande e negativa repercussão entre os sócios do Grêmio o fato de que terão de comprar ingresso para assistir ao jogo inaugural do novo estádio do clube, a Arena, contra o Hamburgo, no dia 8 de dezembro. São muitas as alegações do clube para assim proceder. Entre outras coisas, a de que o jogo será apenas a culminância de todo um dia de festejos e atrações as mais diversas. Argumenta-se, também, que os direitos dos sócios no novo estádio só começarão a vigorar a partir de janeiro. Outra razão apresentada é a de que os patrocinadores não cobriram inteiramente os custos do evento. Seja como for, os sócios tem todos os motivos para se sentirem insatisfeitos por terem de disputar ingressos que lhes deveriam estar assegurados, quanto mais não seja, porque enfrentarão uma significativa majoração no valor de suas mensalidades quando da migração para o novo estádio. Se me ocupo de uma questão que parece muito específica e de interesse restrito é porque vejo nela a ponta de um iceberg. O futebol, reconhecido como o esporte das multidões, entranhado nas camadas mais humildes da população, caminha, no Brasil, para uma evidente elitização. A realização, no país, da Copa do Mundo de 2014, levou à construção de novos e modernos estádios e à remodelação de antigas praças de esporte, ainda que nem todos irão sediar jogos da competição. Isso é ótimo, porém, como costumam dizer os defensores do capitalismo, não existe almoço grátis. Já nos dias de hoje, o preço médio do ingresso nos estádios brasileiros tem afastado os torcedores menos aquinhoados financeiramente. Nos novíssimos e sofisticados estádios, bem como nos reformados, isso se acentuará. Em troca de uma série de confortos, recursos e comodidades hoje inexistentes nos estádios, o que era um espetáculo para todos, ficará restrito aos bolsos mais cheios de alguns. Para o "povão", restará ver os jogos pela televisão. O prazer de conferir o jogo no local de sua realização ficará fora de seu alcance. Uma incrível contradição num país que é governado, há nove anos, pelo Partido dos Trabalhadores.