terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Perfil conservador

A presidente Dilma Rousseff apresentou, hoje, o nome de mais 13 ministros para o seu segundo mandato. O que chama a atenção é o perfil demasiadamente conservador de muitos dos escolhidos. Depois da indicação de Joaquim Levy para presidente do Banco Central, nomes como Kátia Abreu, Gilberto Kassab e Armando Monteiro, para os ministérios, respectivamente, da Agricultura, das Cidades, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, dão ao governo uma face pouco compatível com uma orientação de esquerda. Não se trata, propriamente, de uma novidade, mas, sim, de uma tendência que se acentuou em nome da "governabilidade". A necessidade de obter apoio no Congresso Nacional faz o governo adotar uma ampla política de alianças, reunindo partidos que nada tem em comum em termos programáticos, mas que sempre estão interessados em obter a sua fatia de poder, traduzida em cargos e verbas. Porém, alguns nomes, mesmo nessa perspectiva, são difíceis de aceitar num governo comandado pelo PT. A senadora Kátia Abreu, uma das maiores lideranças do "agronegócio", defende ideias incompatíveis com um governo de matriz de esquerda. Hélder Barbalho, que assumirá o posto de  ministro da Pesca e Aquicultura, afora ser pouco conhecido, é filho do ex-governador do Pará, Jáder Barbalho, um dos políticos de biografia mais comprometedora do país. Menos mal que para o cargo de secretário geral da Presidência da República está sendo cogitado o nome de Miguel Rosseto. A presença de Rosseto, num cargo de tamanha importância dentro do governo, ajudaria a equilibras a balança, impedindo um avanço ainda maior das forças conservadoras. Tendo obtido uma vitória por margem pequena na eleição, a presidente Dilma parece buscar atrair a simpatia de quem, costumeiramente, lhe faz oposição. O risco que se corre, em situações como essa, é não se obter as vantagens pretendidas e ainda perder o apoio dos colaboradores mais fiéis. Governar, é, também, contrariar interesses. Não dá para agradar a todos. Por isso, o mais indicado é apostar na coerência das propostas, dando ao governo uma identidade clara, sem demasiadas concessões. Pode parecer algo exageradamente idealista, mas é a única saída para a política não ser, apenas, uma troca de favores e interesses.