sexta-feira, 26 de julho de 2019

A fuga do essencial

A questão dos supostos hackers que teriam invadido os celulares do ex-juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol expõe todo a desfaçatez do atual governo, confiante de que a massa de idiotizados que o apoia será capaz de engolir qualquer argumentação oficial, por mais estapafúrdia que seja. No caso dos hackers, a história montada é grotesca, incapaz de convencer o mais incauto dos indivíduos, mas que é assimilada pelos fanáticos bolsonaristas e disseminada pela imprensa amiga. O que se tem nesse episódio é a fuga do essencial, ou seja, se o conteúdo do que vem sendo publicado pelo site The Intercept Brasil é verdadeiro ou não. Claro que é, e a revelação desses fatos leva o governo a focar na forma como as informações foram obtidas, e não no seu conteúdo, que é devastador para Moro e Dallagnol. Se o Brasil fosse um país verdadeiramente democrático, Moro já teria deixado o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, e Deltan também seria afastado de suas funções. Toda essa história de celulares hackeados é uma tentativa de transformar réus em vítimas. Moro e Deltan não são heróis. São vilões, e o combate de ambos à "corrupção" não os autoriza a desprezar os preceitos legais, nem a ferir a ética. Não interessa a forma como o The Intercept Brasil conseguiu às gravações das conversas de Moro e Deltan. O que importa é o seu conteúdo. O resto é jogar para a plateia, contando com a cumplicidade de todas as forças que fizeram parte do golpe.