quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A modernidade no futebol

Uma grande parte da crônica esportiva brasileira, principalmente após a goleada de 7 x 1 sofrida pela Seleção Brasileira para a Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, passou a glorificar o futebol jogado na Europa, e a "modernidade" dos conceitos aplicados por seus técnicos. Nomes como Josep Guardiola e José Mourinho tornaram-se, para grande parte dos jornalistas, o exemplo do que os técnicos brasileiros deveriam ter como ideal, por serem estudiosos, atualizados, dedicados e em constante evolução. Os técnicos brasileiros mais renomados são tidos como ultrapassados. Agora, a discussão em torno do assunto começou a ganhar corpo, depois que o técnico do Grêmio, Renato, desdenhou dos treinadores "estudiosos", logo após conquistar o título de campeão da Copa do Brasil. Renato disse que conhece futebol e não precisa estudar. Renato, sabidamente, é irônico e provocativo, mas sua declaração foi apoiada por Zico e, hoje, por Leão. Zico disse que estudou matérias como Português e Matemática, mas não futebol. Leão ironizou os cursos que alguns técnicos brasileiros dizem ter feito no exterior. Se levarmos ao pé da letra as duas visões, ambas estão equivocadas, na medida em que representem um entendimento radical da questão. Estudar é importante, mas nem tudo se obtém pela via acadêmica, pois o futebol é, essencialmente, uma atividade prática. A prova disso ocorreu com o Grêmio. Roger Machado foi incensado pela imprensa durante o período em que treinou o Grêmio, mas não ganhou nenhum título em quase um ano e meio de trabalho. Ao pedir demissão, foi substituído por Renato que, em três meses, obteve a quebra do jejum de grandes títulos do clube e foi campeão da Copa do Brasil. Estudo e conhecimento prático não são fatores excludentes. Não há sentido em criar uma polarização entre eles. Os técnicos devem, é claro, buscar um aprimoramento de seu conhecimento. A imprensa esportiva brasileira, por outro lado, deve ser menos deslumbrada com o que vê lá fora.