quinta-feira, 6 de junho de 2013

Aliança oportunista

A imprensa conservadora e reacionária não mede esforços na luta para impor a sua visão de mundo. Pessoas que pouca atenção mereceriam de sua parte podem, de uma hora para a outra, receber uma enxurrada de elogios, desde que adotem o mesmo discurso preconceituoso e bolorento que ela tanto aprecia. Forma-se, então, uma aliança oportunista entre um inocente útil e a imprensa de direita. Exemplo disso é o que acontece, no momento com o cantor e compositor Lobão, que acaba de lançar um livro, "Manifesto do Nada na Terra do Nunca", em que dispara uma série de colocações que soam como música aos ouvidos dos direitistas. Entre outras coisas, Lobão ataca o escritor Oswald de Andrade, a Semana de Arte Moderna de 1922, o atual estágio da Música Popular Brasileira, e compara a presidente Dilma Rousseff com uma anta. Diante da repercussão aos seus disparates, Lobão diz que "é uma delícia provocar a fúria dos idiotas".As manifestações de Lobão, é claro, não passariam em branco para a revista "Veja", símbolo maior do reacionarismo no Brasil. Um dos colunistas da edição on-line da revista, Augusto Nunes, conhecido pelo seu exacerbado direitismo, realizou uma entrevista com Lobão, a quem classificou como alguém que esbanja inteligência e humor. Será possível acreditar que, não fosse o seu livro cheio de ideias reacionárias, Lobão chamaria a atenção de uma pessoa como Augusto Nunes? Muito provavelmente, o jornalista tivesse desprezo por Lobão, mas, diante das suas declarações, teve o seu interesse pelo cantor despertado. Na verdade, Lobão não esbanja inteligência nem humor. Trata-se de alguém que procura gerar polêmica para se manter em evidência. Há pouca coisa de relevante na obra musical de Lobão, que obteve algum destaque quando da explosão do rock brasileiro, no início dos anos 80. Ao contrário de outros nomes que alcançaram sucesso naquele período, no entanto, Lobão viu sua carreira definhar, e procura evitar o ostracismo com declarações de impacto. Lobão classifica os que criticam suas afirmações de idiotas, mas pode-se dizer, sem medo de ser injusto, que o cantor é um pobre coitado. Ao ser cumulado de elogios por Augusto Nunes, está, apenas, sendo usado pelos setores mais espúrios do jornalismo brasileiro. Afinal, um veículo americanófilo e entreguista como "Veja" não pode mesmo ver com simpatia as ideias nacionalistas de Oswald de Andrade e dos modernistas de 1922, e a aversão da revista a Dilma Rousseff é sobejamente conhecida. Porém, é uma aliança tão oportunista quanto inócua. Gera algum barulho, mas nenhuma consequência prática. Para o bem do país.