sábado, 1 de fevereiro de 2014

O desafio dos governantes

O ano de 2014 está apenas no começo, mas as ruas já vivem um processo de ebulição. Os protestos de junho de 2013 marcaram a história do país, e era sabido que quando a Copa do Mundo se aproximasse, eles voltariam com mais força. A greve dos rodoviários, em Porto Alegre, é uma demonstração do vulto que tomaram essas manifestações. Há uma semana, um milhão de pessoas estão sem transporte coletivo para se deslocar até o trabalho. Em meio à paralisação, movimentos paralelos, com as mais variadas intenções, também marcam a sua presença. Atos de vandalismo são praticados. No entanto, a atuação das forças de segurança tem sido branda, quase passiva, o que irrita os mais conservadores. Para eles, o Brasil vive o caos em termos de segurança pública. O que eles propugnam, e que dizem ser a vontade da "maioria honesta e trabalhadora da população" é que aqueles que promovem badernas sejam rigorosamente reprimidos. Isso não irá acontecer, a menos que a situação caminhe para um total descontrole. A razão é simples, tanto no plano estadual, quanto no federal. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e a presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, são candidatos a reeleição e, até o momento, favoritos em relação aos seus adversários no pleito. Se autorizassem as forças de segurança a "baixarem o pau", para conter possíveis distúrbios na ordem pública, entrariam em rota de colisão com as bases do seu partido, que tomariam a atitude como uma repressão contra setores desfavorecidos da sociedade, algo incompatível com uma sigla de origem popular. Seus adversários, que clamam por uma atitude mais forte dos governos, não deixariam passar a chance de acusá-los de truculentos. Afora isso, com uma Copa do Mundo que fará o Brasil ficar no foco do mundo inteiro, o governo não pode permitir que o país transmita uma imagem de violência contra a população, inaceitável numa democracia. Esse é o desafio dos governantes. Tarso e Dilma caminham numa corda bamba, e manifestantes, autênticos ou oportunistas, sabem disso. Por isso, estão testando ao limite a sua paciência. Porém, como já referi acima, só uma balbúrdia absoluta, com o país sendo varrido pela desordem, poderão levar os governos estadual e federal a tomarem medidas mais duras. Em ano de eleição, prevalece o pragmatismo político. Como se sabe, em time que está ganhando não se mexe. Tarso e Dilma conduzirão a questão da segurança sob o fio da navalha, para que tudo se acomode da melhor maneira, em nome da Copa e da eleição. Antes de condená-los, pense se, no lugar deles, você não faria o mesmo. Faria, certamente.