quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Uma cavalgada sem sentido

Há instituições e movimentos que tem uma força tão avassaladora junto a "mídia" que poucos são os que ousam questioná-los. Esse é o caso do chamado "tradicionalismo", um movimento que, no Rio Grande do Sul, transformou-se, com o passar do tempo, num poder paralelo. A ninguém é dado o direito de não gostar das manifestações "tradicionalistas", de seu culto às "raízes" da "cultura gaúcha". Em nome de tais "valores", os tradicionalistas promovem, em setembro, o Acampamento Farroupilha, em um parque localizado no centro de Porto Alegre, para celebrar o mês em que se comemora uma "revolução" que, após dez anos de embates com o poder central, na época do Império, terminou derrotada. Em 2014, os tradicionalistas foram ainda mais longe. Conseguiram que, durante a realização da Copa do Mundo, entre os meses de junho e julho, seja realizado um Acampamento Farroupilha extra, para divulgar a "cultura gaúcha" para os turistas que vierem a Porto Alegre assistir jogos pela competição. Assim sendo, foi uma surpresa positiva, para mim, encontrar, na seção do leitor de um jornal de Porto Alegre, na edição de hoje, uma carta questionando o porquê de ainda ser realizada a Cavalgada do Mar. A referida cavalgada ocorre, há vários anos, no litoral do Rio Grande do Sul, como mais um meio de valorizar as "tradições gauchescas". Como muito bem destaca o leitor, a presença de animais na beira da praia é proibida porque eles contaminam a areia com fezes, o que constitui um problema de saúde pública, pois as pessoas andam descalças no local. Afora isso, os cavalos sofrem com o calor, a exposição ao sol e o cansaço. Não faz o menor sentido essa exaltação do "tradicionalismo" à beira-mar. Na verdade, é uma aberração. Como, no entanto, os tradicionalistas possuem um poder que rivaliza com as instituições oficiais, nenhuma autoridade constituída se opõe publicamente a esse descalabro. Os responsáveis pela saúde pública, há muito tempo, já deveriam ter determinado o fim da Cavalgada do Mar. Porém, quem vive no Rio Grande do Sul sabe que é praticamente impossível bater de frente com o movimento tradicionalista. Dessa forma, essa patética e esdrúxula exaltação do "gauchismo", continuará, por muito tempo ainda, a espalhar fezes de cavalos ao longo da orla e a sacrificar os pobres animais ao longo do seu trajeto. Tudo sob o olhar complacente das autoridades, que não estão dispostas a comprar briga com o poder paralelo dos tradicionalistas. Pobre Rio Grande do Sul!