quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Intolerância

Seja em  nome de preservar "valores tradicionais" ou, ao contrário, combater visões discriminatórias e historicamente estereotipadas, o Brasil está tomado por protestos de toda a ordem. Os 29 anos de continuidade democrática e a força das redes sociais, que deram vez e voz a quem antes não tinha canais para se expressar, levaram a que todos opinem sobre tudo, o tempo todo. Isso, em princípio, seria muito positivo, caso se restringisse a um debate de pontos de vista. Porém, está levando a uma radicalização de posições, redundando em atos de vandalismo ou, na melhor das hipóteses, em ações judiciais. No primeiro caso está o incêndio criminoso contra um CTG (Centro de Tradições Gaúchas), no interior do Rio GHrande do Sul, onde está prevista a realização de uma cerimônia de casamento coletivo, no próximo sábado, que inclui um casal de lésbicas. As ações pela via judicial são de instituições ligadas ao movimento negro, que protestam contra o conteúdo do seriado "Sexo e as Negas", da Rede Globo, que sequer estreou, entendendo, pelas chamadas que estão indo ao ar, que ele é atentatório a imagem da mulher negra. Em ambos os casos, o que se verifica é um alto grau de intolerância. Escudados no argumento de defender valores que consideram inegociáveis, ou evitar a discriminação, apela-se para a violência, num caso, e para a tentativa de censura, no outro. Não falta quem se alie aos que protestam, por entenderem que um casal gay casar-se num CTG é uma "provocação desnecessária" ou que a temática de um seriado de televisão estaria perpetuando um conceito de desvalorização da mulher negra. Uma sociedade verdadeiramente democrática é aquela em que todos são capazes de conviver com a diversidade. Os autores do incêndio, pela brutalidade do ato praticado, despiram suas posições de qualquer possibilidade de aceitação. Os que protestam contra um programa que sequer estreou, apelam para a execrável prática da censura, que tantos prejuízos causou ao país ao longo da sua história. Ambas as situações são demonstrações de intolerância. A solução para isso é mais democracia. Até o dia em que todos sejamos capazes de lidar com o que nos contraria, sem entendê-lo como uma afronta.