sábado, 21 de julho de 2012

Relação de causa e efeito

A morte de 12 pessoas, alvejadas por um atirador, ocorrida ontem numa das salas de cinema do complexo Century 16, em Aurora, no estado de Colorado (EUA), é uma trágica repetição. Acontecimentos semelhantes são praticamente rotineiros nos Estados Unidos e, é óbvio, isso não acontece por acaso. A cultura americana, certamente, tem muito a ver com isso. O assassino da vez é James Holmes, de 24 anos. Holmes comprou mais de 6 mil balas, duas pistolas, fuzil e escopeta, de forma legal, numa loja especializada na internet. Aí, já temos um dos aspectos a serem levados em conta. Nos Estados Unidos, comprar armas é tido como um direito do cidadão. A sociedade americana não aceita qualquer cerceamento nesse sentido. Com isso, toda e qualquer pessoa, desde que o deseje, pode comprar o quanto quiser de armas e munições. Abre-se assim, um caminho extremamente facilitado para que pessoas perturbadas ou, ainda pior, psicopatas, possam levar adiante seus planos homicidas. Um outro dado a ser considerado é a ideia, preponderante nos Estados Unidos, de que os indivíduos tem de ser vencedores a qualquer custo. Dependendo do que alcancem na vida, as pessoas são classificadas como vencedoras ou perdedoras. Conforme o psiquiatra gaúcho Renato Piltcher, em entrevista ao jornal Zero Hora, esse tipo de ideia, absorvida por um esquizofrênico ou psicopata, pode levar à prática de tais crimes, pela "fama" que eles proporcionam, fazendo de seus autores, numa visão distorcida de mentes perturbadas, vencedores. Piltcher diz, também, que características que diferenciam os seres humanos dos demais animais, como a capacidade de pensar e a intimidade, têm perdido espaço para aparência e ação. O distanciamento do que mais nos caracteriza como humanos, que é a cultura e o afeto, dado que a felicidade tornou-se sinônimo de poder e força, diminui a consideração pelo outro. Há um empobrecimento da noção de valor da vida. O psiquiatra acrescenta que o fato de crimes do gênero já estarem acontecendo fora dos Estados Unidos, como foi o caso do massacre ocorrido em 2011 na Noruega, é reflexo da massificação e globalização dos conceitos americanos já referidos acima. Ele entende que a massificação tem levado as pessoas a não tolerarem as diferenças e a globalização tem piorado isso ao pressioná-las para que rotulem e sejam igualmente classificadas como "vencedoras" ou "perdedoras". Os americanófilos, do qual a revista "Veja" é, possivelmente, a maior representante no Brasil, abordam tais crimes como sendo algo ligado, tão somente, às perturbações de seus autores, sem aceitar que sejam a consequência de um modo de pensar de uma coletividade. As evidências, contudo, de que existe uma relação de causa e efeito entre uma coisa e outra, são perceptíveis.