terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Elitização

Existem assuntos que me sinto obrigado a enfocar, ainda que já o tenha feito em oportunidades anteriores. A elitização do futebol é um deles. Volto ao tema depois de saber o preço dos ingressos para o Gre-Nal do próximo domingo, em Caxias do Sul, pelas quartas-de-final do primeiro turno do Campeonato Gaúcho. Serão apenas dois tipos de ingressos, arquibancadas, a R$ 70,00, e cadeiras, que custarão R$ 100,00. Ora, tais preços são, claramente abusivos. Trata-se de um Gre-Nal que decide apenas a classificação para as semifinais de um turno do Gauchão, competição que Grêmio e Inter tratam com desprezo, pois, em grande parte dos jogos escalam seus reservas. O estádio Francisco Stédile, do Caxias, onde o jogo será realizado, não possui cobertura, o que fará com que aqueles que adquiram o ingresso para o setor de arquibancada estejam expostos à intempérie. Cobrar R$ 70,00 para alguém sentar no cimento duro, exposto ao calor e a uma possível chuva é um abuso. Um fator que colabora para o aumento do valor das entradas é o estranho processo de encolhimento dos estádios brasileiros. Estádios como Maracanã, que já foi o maior do mundo, e Mineirão, tiveram, com as reformas realizadas para a Copa do Mundo de 2014, suas capacidades reduzidas para menos da metade das originais. Nos estádios que não são reformados, os orgãos responsáveis pela "segurança" tratam de encolhê-los arbitraria e injustificadamente. O Francisco Stédile tem capacidade para 30 mil pessoas. Porém, para o Gre-Nal, apenas 21.500 ingressos foram colocados à venda. Tem sido assim, nos últimos anos, em todos os estádios. Para evitar uma "superlotação" e suas "indesejáveis consequências", os estádios ficam com grandes espaços ociosos, o que rouba muito do brilho do espetáculo. Frequento estádios há 42 anos, e já assisti muitos jogos em que fiquei espremido feito uma sardinha na lata, tamanho a presença de público, sem ter sofrido nenhum dano em decorrência disso. Muitos falam que é preciso dar mais comodidade ao torcedor, que não é justo colocá-lo a assistir jogos em pé ou em locais desconfortáveis. A consequência de tantas "boas intenções" são estádios cada vez menores, sem acomodações de preço mais baixo, que permitam a frequência dos torcedores mais pobres. Alguns argumentavam que os estádios brasileiros reproduziam a desigualdade social do país, com seus camarotes e cadeiras convivendo, no mesmo ambiente, com a geral, em que torcedores assistiam jogos em pé. A "solução" que encontraram para resolver tal questão foi manter os setores para os mais bem aquinhoados e extinguir as localidades mais baratas. Cedendo à imposição consumista dos tempos atuais, em que tudo é voltado para quem pode gastar, o mais popular dos esportes vira as costas para quem construiu a sua grandeza, a imensa massa de torcedores humildes e apaixonados. Um quadro que, ao contrário do que muitos sustentam, não pode ser tido como irreversível. Precisa ser modificado. O futebol é o esporte das multidões, e os estádios tem a obrigação de acolhê-las.