quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Empate com sabor de derrota

O que dizer de um time que está ganhando um jogo por 3 x 0 e, faltando 15 minutos para o final da partida a contar da marcação do terceiro gol, permite o empate em 3 x 3? Foi o que aconteceu com o Inter no jogo dessa noite, no Beira-Rio, contra o Santos. Obviamente, um empate nessas circunstãncias tem gosto de derrota. A torcida do Inter, inconformada, já encontrou, nos zagueiros Bolívar e Índio, os culpados pelo resultado indigesto. Aliás, isso não representa nenhuma novidade. Há muito tempo, a imprensa vem destacando o fato de que a dupla de zaga titular do Inter é formada por jogadores veteranos, lentos e sem poder de recuperação. Incrivelmente, o Inter se nega a admitir verdade tão evidente e continua a prestigiar Bolívar e Índio, numa eterna homenagem ao seu passado de ganhadores dos maiores títulos da história do clube. O Inter vem pagando um preço alto por tamanha teimosia. Tido e havido, antes do início do Campeonato Brasileiro, como um dos candidatos naturais ao título da competição, o Inter se encontra, atualmente, exatamente no meio da tabela, em 10º lugar. O Inter sofre gols em quase todos os jogos. Hoje, havia marcado três, sem sofrer nenhum, quando, em apenas dez minutos, levou o mesmo número de gols. Só mesmo a derrota do Grêmio para o Corinthians, ocorrida um pouco antes, pode ter amenizado um pouco o dissabor da torcida do Inter com o resultado do jogo contra o Santos. Por falar nisso, Borges marcou dois gols contra o Inter e consolidou-se na artilharia do Brasileirão, o que torna cada vez mais difícil para os dirigentes do Grêmio explicar a saída do jogador. Afora o empate da maneira como ocorreu, o Inter terá muitos desfalques para o seu próximo jogo, fora de casa, contra o Ceará. Infelizmente, pelos resultados obtidos na abertura do segundo turno, os clubes do Rio Grande do Sul parecem poder aspirar pouca coisa no restante da competição.

Jogando contra a arbitragem

Pelo segundo jogo consecutivo, o Grêmio teve problemas com a arbitragem. Hoje à tarde, no jogo contra o Corinthians, no Pacaembn, o Grêmio fazia uma boa partida, sem levar maior perigo ao adversário, mas, também, sem ser muito pressionado, quando foi vitimado pela marcação de um pênalti inexistente. O Grêmio conseguiu reagir, com um gol de Douglas, em cobrança de falta, no final do primeiro tempo. O segundo tempo começou com amplo domínio do Grêmio, sem, no entanto, traduzir-se em gols. O castigo veio em dois gols de contra-ataque do Corinthians, em falhas gritantes da defesa. Ainda assim, o Grêmio conseguiu marcar mais um gol e teve a chance de conseguir um resultado melhor, quando ficou com dois homens a mais em campo, depois que Liédson e Edenílson foram expulsos. A arbitragem errou mais uma vez contra o Grêmio ao dar apenas os protocolares três minutos de acréscimo, quando, pelas paralisações do jogo e a cera praticada pelo Corinthians, teria que conceder um tempo bem maior. A derrota para o Corinthians passou pelas falhas do próprio Grêmio, mas teve, mais uma vez, a interferência, indevida da arbitragem.

Desfaçatez

Há um ditado popular que expressa que "não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe". Porém, é díficil vislumbrar, no horizonte, o fim de certos males brasileiros. A absolvição da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) do processo de cassação a que fora submetida, é um exemplo disso. O Brasil é um país, historicamente, dominado por elites predatórias, que usam o Estado e os poderes constituídos em favor de seus interesses. A prática da democracia ainda é muito recente no país, o que redunda numa população com baixo nível de politização e mobilização. Desde que o Brasil foi descoberto, castas privilegiadas usufruíram toda sorte de vantagens, em detrimento do restante da população. Não se muda um quadro como esse da noite para o dia. Hoje, o Brasil vive num regime democrático, com liberdade de imprensa e de expressão. Com isso, fatos que antes permaneciam ocultos da opinião pública, começaram a  ser revelados. A indignação com a corrupção e os malfeitos na atividade política ganharam grande dimensão na sociedade. Ocorre que quem está acostumado a se beneficiar do poder em proveito próprio não vai "largar o osso" tão facilmente. A consequência disso é o que se vê, hoje, no país. Os poderosos desafiam as denúncias da imprensa e às cobranças da opinião pública e continuam a exibir sua força, de forma cada vez mais acintosa. Diante da enxurrada de atos ilícitos em que são apanhados, não assumem a culpa, ao contrário, acusam a imprensa de perseguição e acenam com mecanismos que restrinjam sua liberdade de atuação. A absolvição de Jaqueline Roriz é mais um exemplo disso. Jaqueline foi apanhada recebendo dinheiro do mensalão do DEM, em 2006, fato que foi registrado num vídeo. O argumento que sustentou sua absolvição foi o de que, na época, ela ainda não era deputada federal. Seu advogado, José Eduardo Alckmin, disse que, caso Jaqueline fosse cassada, estaria sendo praticada uma "retroatividade punitiva" e o caminho ficaria aberto para ações de "perseguições políticas". Ficou estabelecido, a partir da decisão de hoje, que um parlamentar só pode ser acusado de ferir o decoro em razão de fatos praticados depois de ser eleito. Portanto, por mais escabrosas que sejam as atitudes de um parlamentar antes do exercício de seu mandato, ele não responderá por elas politicamente. Trata-se de um escárnio, um ultraje, que revela a certeza da impunidade por parte de quem age dessa forma. Vivemos um momento, no país, em que a sociedade se mostra cada vez mais revoltada com a sujeira do mundo político, mas em que os donos do poder fazem questão de mostrar a sua força, para sinalizar que não pretendem abrir mão de seus privilégios. Nessa disputa entre a indignação e a desfaçatez está sendo decidido o futuro do Brasil. Por enquanto, infelizmente, o descaramento ainda ganha por larga vantagem.