quinta-feira, 17 de abril de 2014

Barbarismo

A banalização do mal, tão presente nos dias atuais, faz com que, muitas vezes, encaremos com naturalidade ou indiferença atos violentos e atrozes. Porém, há acontecimentos que chocam até mesmo o ser humano mais frio e empedernido. O filicídio é um deles. Trata-se de uma prática que contraria totalmente o senso moral coletivo. O amor e a proteção á prole é um valor partilhado por todos. A existência de pessoas que transgridam um princípio tão básico da humanidade é algo que choca e estarrece a coletividade. A morte de Bernardo Uglione Boldrini, de apenas 11 anos, em Três Passos (RS), é um exemplo disso. Assim como ocorreu na morte da menina Isabela Nardoni, em 2008, o pai biológico e a madrasta estão envolvidos. No caso de Bernardo, assassinado com uma injeção letal e cujo corpo foi encontrado segunda-feira em Frederico Westphalen (RS), a motivação para o crime seria de ordem econômica. Bernardo teria direito a parte dos bens da mãe, já falecida, e, quando o pai morresse, a uma fração do patrimônio dele também. O corpo de Bernardo foi descoberto depois que a assistente social Edelvânia Wirganovicz indicou o local para a polícia. Ela é suspeita de ter participado do crime junto com o pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, e a madrasta, a enfermeira Graciele Ugolini. Não irei me deter em dados do caso, ainda em desdobramento e que está sendo acompanhado em seu desenrolar pelo público. Fixo-me na aberração que é um pai, com o auxílio de sua mulher e de uma amiga desta, tramar a morte de seu próprio filho. Mais chocante se torna o fato se levarmos em consideração a profissão dos envolvidos, um médico, uma enfermeira e uma assistente social, pessoas que, pela natureza intrínseca de suas atividades, deveriam ser dotadas de grande sensibilidade no convívio com o próximo. Crimes como esse nos levam à estupefação, e demonstram que a mesma humanidade que evolui de maneira espantosa na ciência e na tecnologia, retroage assustadoramente no campo das relações sociais. A morte de Bernardo é uma demonstração de barbarismo, um ato incivilizado, de uma covardia insuperável, por ter sido praticado contra um ser inocente e indefeso, e que, por isso mesmo, nunca poderá ser minimamente reparado.