segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Barbárie

A forma como se deu a morte de Muammar Kadhafi, que governou ditatorialmente a Líbia por 42 anos, foi muito semelhante ao que ocorreu com Sadam Hussein, que também exerceu o poder no Iraque de maneira tirânica. Khadafi e Sadam eram cruéis, desumanos, prepotentes, autoritários, eliminaram adversários e causaram a morte de civis. Logo, não merecem que ninguém os defenda. Deveriam ser apeados do poder, para que pagassem por seus crimes, e seus países pudessem se encaminhar para tempos de normalidade. Porém, a forma como se deu a morte de ambos, caçados como bichos e friamente executados, é inaceitável diante do nível civilizatório alcançado pela humanidade. O fato de alguém cometer atrocidades não dá o direito a quem quer que seja de pagar com a mesma moeda. Ao proceder assim, igualamo-nos ao transgressor, partilhamos da sua bestialidade, e praticamos, em vez da justiça, a vingança. A idéia do "olho por olho, dente por dente" é incompatível com os mais comezinhos conceitos humanitários. Episódios como esses nos mostram, de forma desoladora, que o homem, a despeito de toda a evolução científica e cultural que alcançou ao longo dos tempos, não consegue domar a fera que habita dentro de si. O mesmo homem capaz de pousar na Lua, de revolucionar a medicina e ampliar a expectativa de vida das pessoas, de criar a era cibernética, de expandir a tecnologia de forma assombrosa, é também um ser sedento de sangue, pronto a se deixar governar por seus instintos mais primitivos de retaliação. A Líbia está livre de Khadafi, mas não há o que comemorar. Sua saída de cena se deu da pior forma possível. Seus algozes se mostraram tão bárbaros quanto ele. Sua queda, da maneira como ocorreu, foi uma falsa vitória do povo líbio e uma derrota moral de toda a humanidade.